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Bortolotto se revê em mostra
Dois meses após ser baleado na praça Roosevelt, dramaturgo apresenta um painel no Itaú Cultural
"Semana Mário Bortolotto", que vai até o dia 28, conta com debates, leituras e exibição de vídeos antigos registrados desde anos 90
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
"Velho, imagina eu, com esse
braço imobilizado, procurando
fitas em VHS na quitinete onde
eu moro, olhando debaixo de
roupa jogada no chão, no banheiro, em cima da geladeira",
diz Mário Bortolotto, sobre a
preparação da "Semana Mário
Bortolotto", que começa hoje
no Itaú Cultural. A mostra, que
segue até o dia 28, traz debates,
leituras, música e a exibição de
vídeos antigos registrados desde os anos 90.
O dramaturgo e diretor ainda
se recupera dos três tiros disparados contra ele durante um assalto no teatro dos Parlapatões,
na praça Roosevelt. Por conta
do episódio, e agora com essa
mostra, diz, teve a oportunidade de reavaliar toda a sua produção, que tem o teatro como
pilar, mas que se estende para
outras áreas.
É o próprio Bortolotto quem
assina a curadoria do evento,
que conta com a presença de
convidados escolhidos dentre
seu círculo de amizades, como
o cineasta Beto Brant, o escritor Reinaldo Moraes e o quadrinista André Kitagawa. "Quem me conhece sabe
que eu só trabalho com amigos
e pessoas que eu admiro."
O tópico sobre teatro abre a
série, com a presença do crítico
Jefferson Del Rios e com leituras de trechos das peças "Medusa de Rayban" e "Nossa Vida
Não Vale um Chevrolet", que
Bortolotto considera "representativas".
Boa parte dos vídeos de seu
arquivo pessoal também será
exibida hoje. As imagens não
trazem registros apenas de espetáculos. Encontros de amigos em bares, depoimentos de
admiradores -os atores Selton
Mello e Raul Cortez dentre
eles- e saraus também são peças de um mosaico que não separa trabalho de vida íntima.
É uma documentação preciosa para os seguidores do grupo Cemitério de Automóveis,
dirigido por Bortolotto. Como
lembra ele, os integrantes da
companhia estão sempre com
uma câmera em mãos, registrando tudo. "Vou tentar incluir uma cena de bebedeira, é
claro. Tem uma muito boa,
num bar de Curitiba, com o
[poeta] Rodrigo Garcia Lopes
dançando um cancã, uma cena
nojenta", brinca o autor.
Outro destaque será a exibição, no dia 26, de "Getsêmani",
filme de baixo orçamento dirigido por ele, sobre um grupo de
terroristas que sequestra um
editor de livros de autoajuda
para tentar convencê-lo a publicar literatura de "primeira
grandeza".
Espetáculo novo
Além da mostra, Bortolotto
está se dedicando a um espetáculo inédito, "Música para Ninar Dinossauros", sobre uma
crise sexual que se abate sobre
um grupo de amigos. A montagem vai fazer estreia em março,
no Festival de Curitiba. "De alguma maneira acho que meu
trabalho está ficando mais conciso, agora. Se você pegar um
texto de 1981, 82, 83, vai ver que
são textos mais longos, os personagens falam muito. Agora
não consigo mais fazer peças
muito extensas", diz, sobre o
novo trabalho.
Sobre os tiros que levou no
assalto, ele acha que ainda não
pode avaliar se esse episódio
vai ter alguma influência em
seu trabalho. "Posso responder
isso daqui a uns três meses, talvez. Mas eu sou o mesmo Bortolotto de sempre. Talvez mais
calmo agora. Se bem que essa
serenidade pode ser efeito da
quantidade de remédios que
estou tomando."
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