São Paulo, quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

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Bortolotto se revê em mostra

Dois meses após ser baleado na praça Roosevelt, dramaturgo apresenta um painel no Itaú Cultural

"Semana Mário Bortolotto", que vai até o dia 28, conta com debates, leituras e exibição de vídeos antigos registrados desde anos 90

GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA

"Velho, imagina eu, com esse braço imobilizado, procurando fitas em VHS na quitinete onde eu moro, olhando debaixo de roupa jogada no chão, no banheiro, em cima da geladeira", diz Mário Bortolotto, sobre a preparação da "Semana Mário Bortolotto", que começa hoje no Itaú Cultural. A mostra, que segue até o dia 28, traz debates, leituras, música e a exibição de vídeos antigos registrados desde os anos 90.
O dramaturgo e diretor ainda se recupera dos três tiros disparados contra ele durante um assalto no teatro dos Parlapatões, na praça Roosevelt. Por conta do episódio, e agora com essa mostra, diz, teve a oportunidade de reavaliar toda a sua produção, que tem o teatro como pilar, mas que se estende para outras áreas.
É o próprio Bortolotto quem assina a curadoria do evento, que conta com a presença de convidados escolhidos dentre seu círculo de amizades, como o cineasta Beto Brant, o escritor Reinaldo Moraes e o quadrinista André Kitagawa. "Quem me conhece sabe que eu só trabalho com amigos e pessoas que eu admiro."
O tópico sobre teatro abre a série, com a presença do crítico Jefferson Del Rios e com leituras de trechos das peças "Medusa de Rayban" e "Nossa Vida Não Vale um Chevrolet", que Bortolotto considera "representativas".
Boa parte dos vídeos de seu arquivo pessoal também será exibida hoje. As imagens não trazem registros apenas de espetáculos. Encontros de amigos em bares, depoimentos de admiradores -os atores Selton Mello e Raul Cortez dentre eles- e saraus também são peças de um mosaico que não separa trabalho de vida íntima.
É uma documentação preciosa para os seguidores do grupo Cemitério de Automóveis, dirigido por Bortolotto. Como lembra ele, os integrantes da companhia estão sempre com uma câmera em mãos, registrando tudo. "Vou tentar incluir uma cena de bebedeira, é claro. Tem uma muito boa, num bar de Curitiba, com o [poeta] Rodrigo Garcia Lopes dançando um cancã, uma cena nojenta", brinca o autor.
Outro destaque será a exibição, no dia 26, de "Getsêmani", filme de baixo orçamento dirigido por ele, sobre um grupo de terroristas que sequestra um editor de livros de autoajuda para tentar convencê-lo a publicar literatura de "primeira grandeza".

Espetáculo novo
Além da mostra, Bortolotto está se dedicando a um espetáculo inédito, "Música para Ninar Dinossauros", sobre uma crise sexual que se abate sobre um grupo de amigos. A montagem vai fazer estreia em março, no Festival de Curitiba. "De alguma maneira acho que meu trabalho está ficando mais conciso, agora. Se você pegar um texto de 1981, 82, 83, vai ver que são textos mais longos, os personagens falam muito. Agora não consigo mais fazer peças muito extensas", diz, sobre o novo trabalho.
Sobre os tiros que levou no assalto, ele acha que ainda não pode avaliar se esse episódio vai ter alguma influência em seu trabalho. "Posso responder isso daqui a uns três meses, talvez. Mas eu sou o mesmo Bortolotto de sempre. Talvez mais calmo agora. Se bem que essa serenidade pode ser efeito da quantidade de remédios que estou tomando."


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