São Paulo, quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

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Pinacoteca do Estado fica sem seu anexo planejado

Concurso que elegeria projetos arquitetônicos para a criação de uma reserva técnica do museu foi cancelado

Participantes dizem que cancelamento foi "falta de respeito" e reclamam da falta de diálogo com a Associação Pinacoteca

ROBERTO KAZ
DE SÃO PAULO

No dia 9 de fevereiro, 12 escritórios de arquitetura receberam, por e-mail, um comunicado da Associação Pinacoteca Arte e Cultura, organização social responsável por gerir a Pinacoteca do Estado.
O texto, sucinto e sem assinatura, agradecia a participação no concurso para a reforma do Liceu de Artes e Ofícios -que serviria de reserva técnica à entidade- informando, no entanto, que "nenhuma das propostas endereçadas foi selecionada".
Os participantes haviam sido convidados em setembro de 2010, por meio de uma carta do diretor executivo da Pinacoteca, Marcelo Araújo. O documento, que exigia a apresentação de habilitações jurídicas, fiscais e técnicas, apontava que a Associação teria "o direito de julgar insatisfatórias todas as propostas, (...) sem que de tal ato decorra direito de reparação".
E assim se deu.
"Foi uma falta de respeito", diz Silvio Oksman, arquiteto que projetou o Instituto Criar de TV e Cinema, no bairro da Barra Funda. "Durante quinze dias trabalhamos como loucos."
Oksman reclama que o convite era vago. "Havia poucas especificações. Tanto que os projetos finais eram absolutamente diferentes. Acho difícil que nenhum deles atendesse às demandas."
Renato Dal Pan, que projetou o Sesc de Guarulhos, diz que a classe está "acostumada a ser mal tratada".
Ainda assim, decidiu participar: "Era um projeto estimulante, de magnitude, para criar um espaço expositivo e uma reserva técnica. Foi um mês de dedicação exclusiva no escritório."
Lua Nitsche, que assina casas de veraneio no litoral paulista, diz ter alocado "cinco arquitetos e três estagiários" no projeto: "Foi o primeiro convite que recebemos, por isso entramos."
Ela reclama da falta de diálogo com a Associação Pinacoteca. "Eles não se comunicavam por telefone. Havia um endereço de e-mail para sanar dúvidas. Mas nunca recebíamos resposta de uma pessoa específica. Era sempre algo abstrato, em nome da Associação."
Em um e-mail, a arquiteta perguntou quem formava o júri responsável pela avaliação. "Não recebi resposta", reclama. (Até o fechamento desta edição, a Secretaria de Cultura do Estado tampouco respondeu a esta mesma demanda, feita pela Folha).
"Fica parecendo que não houve análise, que a decisão foi política", aponta. "Falta de qualidade não pode ter sido. Havia gente gabaritada. O Mario Biselli, por exemplo, venceu o concurso para projetar o Aeroporto Internacional de Florianópolis."
Biselli, que também desenhou o Teatro de Londrina, diz ter sido acometido de uma "frustração absoluta" quando do comunicado. "Já vi a coroação de projetos ruins, mas nunca o cancelamento assim, do nada", diz.

CRITÉRIOS
Precavido, o arquiteto Marcelo Ferraz -que projetou a Prefeitura de São Paulo com Lina Bo Bardi (1914-1992)-, preferiu, desde o início, não participar. "Convidaram mais de 20 escritórios. Trabalha-se muito e, normalmente, 90% vai para o lixo", disse, para em seguida completar: "Nesse caso, 100%."
Ferraz figurou, em 2008, entre os finalistas do concurso que escolheria a nova sede do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro. "Então cancelaram tudo e recomeçaram do zero, com a presença do [escritório americano] Diller Scofidio, que acabou ganhando."
"Você nunca sabe quais são os critérios. Ainda bem que não participei desse último", conclui.


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