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CRÍTICA
Autor oscila entre a análise e a retórica
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Quando o ex-ditador chileno
Augusto Pinochet foi detido
em Londres, por ordem de um
juiz espanhol que o acusava de
crimes contra a humanidade, iniciou-se não apenas um intrincado
imbróglio jurídico internacional,
mas também uma discussão interminável sobre o destino dos
déspotas genocidas no mundo
contemporâneo.
O mérito maior do livro "O
Longo Adeus a Pinochet", de
Ariel Dorfman, é o de não se perder nos meandros legais do caso,
chamando sempre a atenção para
os sentidos políticos e simbólicos
de seus desdobramentos.
As questões que interessam a
Dorfman estão sintetizadas nos
dois epílogos do livro. O primeiro,
"A Sombra do Chile", resume o
significado que tem para a reconstrução do país o processo
contra Pinochet -um dos maiores ditadores do século, responsável pela tortura e morte de milhares de opositores.
No segundo epílogo, "O Longo
Adeus aos Tiranos", o autor mostra como o caso Pinochet fez
avançar a discussão sobre de que
modo a comunidade internacional deve agir com os ditadores
que "se aposentam" no exterior
depois de praticar o genocídio em
seus próprios países.
Para alguns críticos, esse tipo de
justiça internacional teria o efeito
de incentivar os ditadores a se
perpetuarem no poder, uma vez
que não contariam mais com a
possibilidade de viver em segurança no exterior depois de deixar
o poder.
Ariel Dorfman refuta esse argumento pela raiz. Para começar,
diz o autor, não são os tiranos que
decidem quando querem abandonar o poder: eles são forçados a
isso por pressões internas e externas.
E o efeito da detenção de um genocida como Pinochet é, claramente, inibidor de comportamentos políticos semelhantes. O
mundo passa a ser pequeno demais para que os ditadores possam se esconder.
Atrocidades
Essa discussão extremamente
pertinente e atual vem entremeada, no livro de Dorfman, com os
inevitáveis relatos de atrocidades
cometidas pelo regime de Pinochet. Por mais importantes que
eles sejam, há nesses depoimentos um certo ar de "déjà vu", uma
estranha sensação de que eles acabam servindo a uma estranha espécie de catarse.
Somam-se a isso muitas passagens em que a objetividade do
texto sucumbe aos clichês de uma
certa retórica sentimental de esquerda.
Eis um exemplo: "A luz oculta
dos homens e mulheres que deram suas vidas pela causa em que
acreditavam não pode se extinguir assim, sem mais nem menos,
enquanto houver uma só pessoa
em algum lugar do mundo disposta a recordar seus mortos e
ressuscitá-los".
Talvez a política latino-americana seja algo tão bárbaro e primitivo que torne inevitável o rebaixamento a uma dicção tão pobre.
Afinal, até mesmo escritores muito maiores que Dorfman, como
Gabriel García Márquez e Julio
Cortázar, também sucumbiram
ocasionalmente a ela.
Avaliação:
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