|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NÃO-LANÇAMENTO
Herdeiro do artista afirma que desconhece a reedição de discos clássicos do soul e do funk nacional
"Tim Maia Racional" pirata ganha as lojas
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Lojas de discos de São Paulo estão vendendo, a R$ 25, os raríssimos volumes 1 e 2 de "Tim Maia
Racional", condensados num só
CD -e pirateados. Panfletários,
os discos refletiam a breve adesão
de Tim (1942-98) à Cultura Racional, em meados dos anos 70.
Pouco depois, ele se retirou do
que chamou de "seita", com pesadas críticas à instituição estabelecida em Nova Iguaçu (RJ). Vetou,
até sua morte, a reedição dos LPs.
Apesar de advogarem a origem
humana numa extraterrestre
"planície racional", os LPs eram
também verdadeiros tratados de
soul e funk brasileiros. Os Racionais MC's dizem que se chamam
assim por sua influência.
Pois agora o "Tim Maia Racional" pode ser encontrado numa
versão aparentemente oficial,
com capa plastificada e rótulo avisando que os direitos do disco são
reservados ao produtor fonográfico. Quem é o produtor? O CD
não dá nenhuma indicação.
Ainda assim a Folha encontrou
o CD em lojas convencionais da
rua Augusta, da rua Pamplona, do
largo do Paissandu e em vários
pontos das Grandes Galerias, na
av. São João. Numa loja da Augusta, o responsável disse que os CDs
são entregues pelo "distribuidor",
que ele não quis identificar.
Carmelo Maia, 28, filho e herdeiro de Tim, afirma desconhecer
a existência do produto. "O que é
do meu conhecimento é que há
pirataria do "Racional", mas não
em loja, com nota fiscal, parecendo um CD verdadeiro", diz.
Afirmando que vai tomar medidas judiciais, Carmelo diz que tem
planos de reeditar oficialmente o
"Racional", cujos direitos seriam
dele, mas não o fez até agora devido aos vários processos judiciais
deixados pendentes por seu pai.
Segundo ele, a ex-secretária de
Tim, Adriana Pereira da Silva, que
pleiteava parte da herança dizendo-se ex-mulher do cantor, já perdeu judicialmente tais direitos.
Adriana não foi localizada.
Na sede da Cultura Racional no
centro de São Paulo, a reportagem
não encontrou exemplares do
disco. Um funcionário afirmou
que a organização não tem nada a
ver com o CD pirateado. Atna Jacintho Coelho, líder fluminense
da Cultura Racional, não respondeu a pedidos de entrevista.
No subsolo das Grandes Galerias, tomado por lojas de música
black, ninguém assume a responsabilidade pela prensagem do disco. Um lojista que não quis se
identificar afirma que quando o
disco chega, vem numa leva e todas as lojas adquirem exemplares.
KL Jay, o DJ dos Racionais, que
mantém no local a loja 4P, em sociedade com o rapper Xis, diz que
não comercializa o "Tim Maia Racional". Mas dá sua opinião:
"O Brasil é um país que não preserva as culturas. Existe uma lavagem cerebral para que o povo esqueça, não mantenha raiz. Aí não
existe mais o "Racional", os caras
fazem o pirata. A pirataria é errada? É, está errada, não pode fazer.
Mas não há outra opção".
Ele completa: "Mesmo sendo
contra, preciso tentar entender o
porquê da pirataria também. Ora,
por que quem tem o direito do
"Racional" não faz uma edição limitada? Ia estar colaborando para
a cultura. Agora já era, os caras
têm máquina de fazer CD em casa. Não tem mais jeito".
De fato, os CDs estão mesmo espalhados pelas lojas, e para todos
os efeitos o "Tim Maia Racional"
foi finalmente relançado. Mas
quem gastar R$ 25 nele provavelmente vai ouvir as faixas finais
pulando no leitor ótico do toca-CDs. Três cópias testadas pela Folha tinham esse defeito.
Texto Anterior: Crítica: Fringe adere ao expressionismo do "freak show" Próximo Texto: LPs eram independentes Índice
|