São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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ANÁLISE

Temporada 2004 não cumpre promessas

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A temporada televisiva de 2004 prometeu muito, mas corre o risco de frustar expectativas. Abril ainda trará estréias na Globo. A concorrência se antecipou; no entanto não apresentou novidades. Os formatos são os mesmos. As pessoas também.
Pode mudar um pouco a textura. Surge o digital na produção independente da Record. A empreitada monumental enfrenta turbulências típicas de um gênero ardiloso, como a novela.
Hesitante, a emissora ameaça não renovar o contrato com a produtora Casablanca, para a próxima novela.
Caso traga para si a produção de um possível novo título, a Record estará insistindo na afirmação de um modelo anacrônico.
Contra todas as evidências e prognósticos, as emissoras de TV aberta insistem na produção própria. E de novela.
O SBT ensaia a ocupação de seus portentosos estúdios com mais uma produção novelística. Aqui o vacilo é de outra ordem. Adiamentos sucessivos obrigaram a emissora a improvisar a dublagem de mais um título estrangeiro. O formato permanece o mesmo. A falta de ousadia dos que comandam a programação contrasta com a insatisfação do público, demonstrada recentemente em pesquisa divulgada pelo Instituto Multifocus.
Se os canais a cabo fossem mais acessíveis, provavelmente uma parcela significativa da audiência teria migrado para os seriados semanais americanos.
Na falta de alternativas em português, o formato mais contemporâneo, com episódios com começo, meio e fim, atrai o público jovem de classe média alta. As crianças talvez ficassem com os especializados em desenho animado. Para não falar do esporte.
Durante cerca de 30 anos a TV conseguiu captar e expressar algo da qualidade do audiovisual brasileiro. Hoje essa energia passa fora da telinha, ou está canalizada para a publicidade. As possibilidades de criação são imensas, como atestam alguns exemplos de programas diferentes, inventados em geral por profissionais de outros meios. Há que rever o modelo para torná-lo viável.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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