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Assombrações
Hollywood chama cineasta japonês para refazer seu "O Chamado 2", em versão "com mais sustos" para ocidentais
TETÉ RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES
Conhecer o diretor Hideo Nakata é conhecer um pouco da árvore
genealógica da chamada "nova
onda do terror japonês". Hollywood vem consumindo o gênero
desde que descobriu o filão, seja
relançando os títulos originais
por aqui, refilmando os maiores
sucessos com mãos americanas
ou, mais recentemente, chamando os autores dos títulos japoneses para refilmá-los nos EUA.
Nakata é um dos únicos que se
encaixam nos três casos. Criou os
sucessos "Ringu" e "Ringu 2", que
deram origem ao blockbuster "O
Chamado" (2002, US$ 250 milhões), e foi contratado para "O
Chamado 2", que estréia amanhã.
A produção já estava em andamento quando o diretor foi contratado, e o único pedido dos
americanos era que o filme não
fosse tão "japonês" quanto o original. Por "japonês" entenda-se
mais suspense do que a "pornografia do terror" que Hollywood
gosta de fazer, em que o monstro,
ou o que quer que seja que provoque medo, pula na frente das vítimas ou faz ameaças verbais.
"O Chamado 2" é um filme norte-americano, sim, mas com diretor japonês, e a mistura deu liga.
Nakata fala em entrevista à Folha.
Folha - Por que o sr. resolveu dirigir este filme de novo?
Hideo Nakata - O roteiro é novo e
completamente diferente da minha versão. Eles nem precisavam
ter comprado os direitos autorais.
Tem algumas cenas de "Ringu 2"
no "Chamado 2", mas é 100% novo. Li o roteiro e achei intrigante,
coincidiu com uma vontade que
já estava crescendo em mim de dirigir um filme aqui. Ainda quis fazer umas mudanças, explorar um
pouco mais o passado da Samara,
a menininha morta e assassina.
Folha - Qual a melhor versão?
Nakata - É difícil responder.
Amo fazer filmes e amo meus filmes... Mas gosto muito deste que
acabei de fazer, acho que vai ser
uma boa porta de entrada.
Folha - O que o sr. achou da primeira versão americana, dirigida
por Gore Verbinski?
Nakata - Gostei muito. Tem uma
cena que não tinha no original
que adoro, a do cavalo que enlouquece e se joga no mar. É ótima
indicação do que pode acontecer.
Folha - O brasileiro Walter Salles
dirigiu outra versão de filme seu,
chamada "Dark Water". Já viu?
Nakata - Não. E não estava envolvido nessa produção em nenhum aspecto. Li o roteiro, mas
acho que o que me mostraram
não era nem a versão final.
Folha - Mas o sr. o conhece?
Nakata - Assisti a "Central do
Brasil" e ao filme das motocicletas
["Diários de Motocicleta"], são
interessantes.
Folha - Por estar lidando com
uma audiência basicamente adolescente americana, o sr. teve que
mudar muito "O Chamado 2"?
Nakata - O filme é completamente diferente, o roteiro é outro.
Acredito e espero que seja muito
mais assustador que o japonês,
pois fiz tudo para que isso acontecesse [risos]. Fiz esse filme pensando nos adolescentes americanos, ou melhor, nos adolescentes
ocidentais, que são muito diferentes dos japoneses. Eles gostam de
levar sustos, os japoneses preferem um clima de suspense em
que, por exemplo, haja um fantasma numa sala, mas que você quase não consiga vê-lo, então não
tem certeza absoluta do que é
aquilo, mas parece que ele está
bem perto da personagem principal. Dá para entender? São cenas
um pouco mais vagas, que não
funcionam com os ocidentais.
Folha - Por que a tal "nova onda"
acontece justamente agora?
Nakata - É cíclico. Temos uma
tradição muito rica de histórias de
fantasmas. Nos anos 50 e 60, houve uma safra muito boa de filmes
de horror no Japão. Acho que todo mundo gosta de uma história
assustadora, que provoca o que
chamamos de uma experiência
que gela o corpo. Infelizmente nos
anos 70 e 80, os japoneses passaram a ser considerados imitadores sem estilo. Com "O Chamado"
o mundo voltou a olhar com interesse para nosso terror, e voltamos a levar o gênero a sério.
Folha - É daí que vem o interesse
de Hollywood pelo novo cinema
asiático em geral?
Nakata - Hollywood é uma indústria imensa e muito agressiva,
que tem gente contratada para ver
filmes do mundo inteiro para descobrir o que faz sucesso e trazer
até os estúdios. Não são só os filmes japoneses que estão sendo refeitos, mas coreanos e de Hong
Kong também. Dá a impressão
que é uma moda passageira, mas
é uma nova fase da indústria. Isso
vai acontecer cada vez mais.
Folha - Onde será seu próximo filme? Em Hollywood ou no Japão?
Nakata - Tenho alguns projetos
em andamento aqui nos EUA e
dois parecem que vão sair. Um é
chamado "The Entity" [a entidade], uma refilmagem de um longa
de Hollywood dos anos 80 -veja
como a onda é cíclica e pendular.
O outro se chama "Out", baseado
num romance japonês homônimo, de Natsuo Kirino. Conta a
história de quatro mulheres operárias que trabalham no turno da
noite em uma fábrica. Uma delas
mata o marido, e as quatro fazem
um pacto para proteger a colega.
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