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ROCK/CRÍTICA
"Boys Don't Cry" antevê gótico do Cure
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
É música de um tempo em
que garotos não choravam,
quando era bonito ser herdeiro de
uma timidez criminosamente
vulgar e o amor costumava dilacerar e separar os amantes.
Nos anos 80, a banda britânica
The Cure ajudava a definir a sonoridade das casas noturnas alternativas de São Paulo a Berlim,
ao lado das letras de romantismo
sofrido de bandas como The
Smiths e Joy Division. De tabela,
os cabelos arrepiados do vocalista
Robert Smith serviam de modelo
para os góticos -o então tipo urbano que resumia a depressão e as
agruras típicas da cidade grande.
Mesmo que hoje pareça mero
artefato pop, o lançamento no
Brasil do álbum do Cure "Boys
Don't Cry", com 26 anos de atraso, chega em perfeita conexão
com o atual momento da música.
Se o emocore vê o mundo com
sensibilidade, a faixa-título fala
sobre um garoto que pede desculpas à ex-amada pelas suas incríveis mancadas. Ou então, bastam
alguns segundos de audição da
voz esganiçada e única de Smith e
a guitarra punk/pop de canções
como "Fire in Cairo" ou "Jumping Someone Else's Train" para
lembrarmos qualquer música da
nova e incensada banda britânica
Bloc Party.
No entanto, tecnicamente,
"Boys Don't Cry" (1980) não é o
primeiro disco do Cure; trata-se
da versão para o mercado norte-americano da estréia do grupo,
"Three Imaginary Boys" (1979). A
intenção era fazê-los "acontecer"
nos EUA, já que no Reino Unido,
os então iniciantes vinham tendo
boa recepção. "Boys Don't Cry"
deixa quatro músicas de fora, como a bizarra versão para "Foxy
Lady" (Jimi Hendrix), e acrescenta outras quatro, como "Killing an
Arab" -considerada racista na
época, mas apenas homenagem a
"O Estrangeiro", de Albert Camus- e a faixa-título.
E esteticamente, este não é álbum típico do Cure, que no disco
seguinte, "Seventeen Seconds"
(1980), forjaria uma imagem -a
estética gótica, com uma sonoridade soturna de letras depressivas- que perdura até hoje.
O Cure que aparece em "Boys" é
um Cure de sonoridade crua,
teen, com desleixos típicos de iniciantes -algumas canções são
extremamente básicas porque o
então baterista não sabia tocar
muito bem-, mas que já prenuncia as imagens surreais e agonizantes que fariam parte do universo muito particular da banda.
Boys Don't Cry
Artista: The Cure
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 30, em média
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