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Bonde do barulho
Projeto de enviar autores a diversas cidades do mundo para produzirem histórias de amor causa ciúmes, polêmica entre escritores e alimenta o debate sobre financiamento público
de produtos culturais
EDUARDO SIMÕES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
O anúncio de um projeto literário milionário, envolvendo a
Lei Rouanet e uma das mais
prestigiosas editoras do Brasil,
provocou na última semana intensa troca de acusações entre
escritores e blogueiros do país.
Tudo começou no sábado
passado, com a publicação, na
Ilustrada, da reportagem
"Bonde das Letras", anunciando o Amores Expressos, empreendimento que prevê o financiamento de viagens para
16 autores com o objetivo de escreverem, na volta, histórias de
amor. Estas seriam depois publicadas pela Companhia das
Letras e, eventualmente, adaptadas para o cinema.
O projeto, idealizado pelo
produtor Rodrigo Teixeira e
pelo escritor João Paulo Cuenca, tem um custo total de R$ 1,2
milhão e pleiteia verba de renúncia fiscal. Por enquanto, o
processo ainda está em tramitação no Ministério da Cultura.
Se a grana de incentivo não rolar, Teixeira diz que pagará do
próprio bolso as viagens dos autores. A Companhia das Letras
arcará unicamente com os custos da edição dos livros.
As críticas que inundaram a
internet se referem a três pontos: o fato de o projeto usar dinheiro público, envolver viagens com tudo pago e, supostamente, incluir apenas amigos
dos organizadores, entre veteranos e novos autores.
Quanto ao primeiro aspecto,
não há nada de irregular no modo como Teixeira encaminhou
seu projeto. Porém, isso não
evitou que chovessem ataques
contra ele. Em carta enviada à
seção "Painel do Leitor", da Folha, o escritor Marcelo Mirisola disse que o projeto reunia
amigos de farra, "um mês de vida boa" financiado por verba de
renúncia fiscal.
Blogs de literatura passaram,
então, a veicular mensagens
pró e contra o "bonde". Um deles foi o do jornalista e escritor
Sérgio Rodrigues (o "Todo Prosa", do site Nominimo.com),
que vê no qüiproquó seu lado
positivo. "Rola ressentimento e
ciúme, porque talvez os escritores sejam os bichos mais ciumentos do mundo. Mas rola
também o embrião de um debate importante sobre o financiamento de produtos culturais
"de mercado" com dinheiro de
renúncia fiscal", diz Rodrigues.
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