São Paulo, sábado, 24 de março de 2007

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Bonde do barulho

Projeto de enviar autores a diversas cidades do mundo para produzirem histórias de amor causa ciúmes, polêmica entre escritores e alimenta o debate sobre financiamento público de produtos culturais

EDUARDO SIMÕES
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

O anúncio de um projeto literário milionário, envolvendo a Lei Rouanet e uma das mais prestigiosas editoras do Brasil, provocou na última semana intensa troca de acusações entre escritores e blogueiros do país.
Tudo começou no sábado passado, com a publicação, na Ilustrada, da reportagem "Bonde das Letras", anunciando o Amores Expressos, empreendimento que prevê o financiamento de viagens para 16 autores com o objetivo de escreverem, na volta, histórias de amor. Estas seriam depois publicadas pela Companhia das Letras e, eventualmente, adaptadas para o cinema.
O projeto, idealizado pelo produtor Rodrigo Teixeira e pelo escritor João Paulo Cuenca, tem um custo total de R$ 1,2 milhão e pleiteia verba de renúncia fiscal. Por enquanto, o processo ainda está em tramitação no Ministério da Cultura. Se a grana de incentivo não rolar, Teixeira diz que pagará do próprio bolso as viagens dos autores. A Companhia das Letras arcará unicamente com os custos da edição dos livros.
As críticas que inundaram a internet se referem a três pontos: o fato de o projeto usar dinheiro público, envolver viagens com tudo pago e, supostamente, incluir apenas amigos dos organizadores, entre veteranos e novos autores.
Quanto ao primeiro aspecto, não há nada de irregular no modo como Teixeira encaminhou seu projeto. Porém, isso não evitou que chovessem ataques contra ele. Em carta enviada à seção "Painel do Leitor", da Folha, o escritor Marcelo Mirisola disse que o projeto reunia amigos de farra, "um mês de vida boa" financiado por verba de renúncia fiscal.
Blogs de literatura passaram, então, a veicular mensagens pró e contra o "bonde". Um deles foi o do jornalista e escritor Sérgio Rodrigues (o "Todo Prosa", do site Nominimo.com), que vê no qüiproquó seu lado positivo. "Rola ressentimento e ciúme, porque talvez os escritores sejam os bichos mais ciumentos do mundo. Mas rola também o embrião de um debate importante sobre o financiamento de produtos culturais "de mercado" com dinheiro de renúncia fiscal", diz Rodrigues.


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