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"Política não é feita para os artistas"
Em visita a SP, diretor de departamento cultural da Inglaterra diz que Estado deve priorizar população e não produtores
Orçamento público para a cultura, no Reino Unido, é
de 2 bilhões de libras, o equivalente a R$ 5,3 bi; MinC teve R$ 1,3 bi em 2009
DA REPORTAGEM LOCAL
Após passar por São Paulo,
Michael Elliott, diretor de Cultura do Departamento de Cultura, Mídia e Esporte do Reino
Unido, seguiu para o Rio, onde
buscaria conhecer, sobretudo,
projetos, como o Afro Reggae e
alguns pontos de cultura, que
mesclam ações sociais e culturais. "Temos uma política institucionalizada, mas nos interessa ver o que vocês têm feito no
Brasil, até porque noto que há
um debate em andamento, que
divide regiões do país e também alguns tipos de produção."
(ANA PAULA SOUSA)
FOLHA - O Brasil, há 20 anos, decidiu separar os ministérios da Cultura
e da Educação. No Reino Unido essa
hipótese alguma vez foi discutida?
MICHAEL ELLIOTT - É claro que vemos a cultura como algo, por si,
importante, mas consideramos
natural trabalhar em conjunto
com nossos colegas da educação. Só assim conseguimos envolver as famílias e crianças em
nossos projetos.
FOLHA - Ou seja, a criação de uma
entidade autônoma para a cultura
não é algo que se discuta.
ELLIOTT - Não, pela simples razão de que você só pode esperar
o desenvolvimento cultural de
uma sociedade se isso vier
acompanhado de uma educação eficaz, que desperte, nas
crianças, a apreciação pela arte.
FOLHA - Me dê um exemplo.
ELLIOTT - Neste momento, estamos trabalhando no direito de
cada criança ter cinco horas semanais de atividades culturais.
Elas vão aos museus, os museus
vão às escolas, enfim, têm experiências com as instituições de
cultura nacionais.
FOLHA - O programa é para as escolas públicas?
ELLIOTT - É para todas as escolas. Trata-se de dar oportunidades para que as crianças desenvolvam suas habilidades, seu
gosto por literatura, música etc.
FOLHA - De que maneira esses recursos são distribuídos?
ELLIOTT - Temos programas diretos, como os de manutenção
dos museus nacionais [como
British Museum, Tate e Museu
de História Nacional], e repassamos recursos para o Arts
Council, que é agência responsável pelo desenvolvimento das
atividades artísticas.
Neste caso, damos os recursos e debatemos as prioridades,
mas não interferimos nas decisões do Arts Council e no destino do dinheiro. Os membros do
conselho definem que orquestra ou balé será beneficiado.
FOLHA - O senhor fala dessa relação como se ela fosse pacífica. Mas
não há divergências sobre até aonde
o Estado deve ir?
ELLIOTT - Nunca é uma situação
preto no branco. Sempre houve, no Reino Unido, debates sobre a relação entre o governo e
essas instituições. Mas a influência do governo sobre as
decisões das instituições é cada
vez menor, até porque os membros do Arts Council têm grande expertise, e temos investido
na formação desses líderes no
setor cultural.
Como em todos os lugares, há
pressões, mas tentamos estabelecer um diálogo para que as
decisões sejam corretas e claras.
FOLHA - Como balancear demanda
de artistas e interesse público?
ELLIOTT - Buscamos, o tempo
todo, aumentar a participação
da população nas instituições.
O Arts Council procura entender as necessidades dos artistas, tanto em termos de criação
quanto de dinheiro, mas o governo tenta estimulá-los a
aproximar os seus trabalhos do
público, a criar uma demanda
pelo que fazem.
A política não pode ficar excessivamente presa ao interesse dos produtores de cultura. O
dinheiro governamental deve
trazer benefícios reais para a
população.
FOLHA - O lobby dos artistas e dos
produtores é muito forte?
ELLIOTT - Muito. Mas não pensamos na cultura apenas como
fruição, mas também como
economia e educação.
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