São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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FOTOGRAFIA

O tcheco Antonin Kratochvil é um dos destaques da 2ª Semana Epson FNAC/Fotosite, que terá série de palestras

Evento mostra olhar de fotógrafo premiado

TUCA VIEIRA
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

Cruzar fronteiras não é novidade na vida de Antonin Kratochvil. Desde que deixou a antiga Tchecoslováquia "por debaixo do arame farpado" durante o regime comunista, o premiado fotógrafo já esteve em dezenas de países cobrindo desde os mais terríveis conflitos sociais até celebridades do cinema americano. Entre a devastação da guerra em Ruanda e retratos de David Bowie, Kratochvil vem alargando as fronteiras do fotojornalismo que, em suas mãos, migra das páginas de revista às paredes de galerias e museus.
Antonin Kratochvil desembarca hoje no Brasil para participar de palestras e workshops durante a 2ª Semana Epson Fnac/Fotosite da Fotografia e "tentar fazer algumas fotos", como disse por telefone à Folha enquanto estacionava o carro no Canadá, onde faz atualmente reportagem para o jornal "The New York Times".
Quando deixou a antiga Tchecoslováquia em 1967, aos 19 anos, vagou por quatro anos entre campos de refugiados na Áustria. Teve a chance de estudar fotografia em Amsterdã e aportou nos Estados Unidos em 1972. Logo voltou para o Leste Europeu, como que para contar sua própria história: "Naquela região, um fotógrafo ou jornalista era automaticamente considerado um espião. Eu fui preso mais de 20 vezes enquanto trabalhava em países como Romênia, Polônia e Tchecoslováquia, mas nunca perdi um rolo de filme", conta.

Lugar errado, hora errada
O tema do exílio parece percorrer sua obra. Em suas fotos, as pessoas parecem estar sempre no lugar errado, na hora errada."Fotografo aquilo do que discordo", diz, como se pudesse evitar que sua experiência se repetisse. Esteve no Congo, Haiti, Sri Lanka, Iraque, Paquistão, Angola e outros lugares não menos problemáticos, fotografando a guerra, a Aids, a miséria, desastres ambientais e o que mais o incomode.
Mas poderia ser mais um fotógrafo de conflito preocupado em mudar o mundo não tivesse Antonin Kratochvil o refinamento estético que tem. Seu olhar oblíquo produz imagens muitas vezes fora de foco ou tremidas, que pouco se importam com a linha do horizonte. "Estou em busca do momento passageiro, transitório", diz.
O mesmo modo de olhar Kratochvil utiliza para a outra vertente de seu trabalho, aparentemente antagônica. Seu livro "Incognito" é uma seleção de retratos de celebridades do "show business" norte-americano, feitos para revistas como "Detour", "W", "CQ" e "Prèmiere". "Eu apenas dou continuidade à tradição de grandes jornalistas como Cartier-Bresson e Andre Kertesz, que como parte de seu trabalho fotografaram artistas." Engana-se quem vê neste trabalho algo menos profundo. Desprovidos do glamour cinematográfico, Harvey Keitel, Liv Tyler, Willem Dafoe, Bernardo Bertolucci, Jessica Lang e Bob Dylan, entre outros, são simplesmente atores, diretores e músicos exilados em sua própria fama.
Esse refinamento estético tem levado o trabalho de Kratochvil e de seus colegas da badalada Agência VII às galerias de arte e coleções de museus. Esse cruzamento é bastante raro."São esferas diferentes, poucos são os que conseguem uma brecha", diz o crítico de fotografia Rubens Fernandes Jr.
"As revistas não nos dão espaço suficiente. Se você faz um projeto e o coloca num livro, na internet, numa galeria, você entrega o pacote completo", explica Kratochvil, mestre em passar pelas brechas.


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