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FOTOGRAFIA
O tcheco Antonin Kratochvil é um dos destaques da 2ª Semana Epson FNAC/Fotosite, que terá série de palestras
Evento mostra olhar de fotógrafo premiado
TUCA VIEIRA
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
Cruzar fronteiras não é novidade na vida de Antonin Kratochvil.
Desde que deixou a antiga Tchecoslováquia "por debaixo do arame farpado" durante o regime comunista, o premiado fotógrafo já
esteve em dezenas de países cobrindo desde os mais terríveis
conflitos sociais até celebridades
do cinema americano. Entre a devastação da guerra em Ruanda e
retratos de David Bowie, Kratochvil vem alargando as fronteiras do
fotojornalismo que, em suas
mãos, migra das páginas de revista às paredes de galerias e museus.
Antonin Kratochvil desembarca hoje no Brasil para participar
de palestras e workshops durante
a 2ª Semana Epson Fnac/Fotosite
da Fotografia e "tentar fazer algumas fotos", como disse por telefone à Folha enquanto estacionava
o carro no Canadá, onde faz atualmente reportagem para o jornal
"The New York Times".
Quando deixou a antiga Tchecoslováquia em 1967, aos 19 anos,
vagou por quatro anos entre campos de refugiados na Áustria. Teve a chance de estudar fotografia
em Amsterdã e aportou nos Estados Unidos em 1972. Logo voltou
para o Leste Europeu, como que
para contar sua própria história:
"Naquela região, um fotógrafo ou
jornalista era automaticamente
considerado um espião. Eu fui
preso mais de 20 vezes enquanto
trabalhava em países como Romênia, Polônia e Tchecoslováquia, mas nunca perdi um rolo de
filme", conta.
Lugar errado, hora errada
O tema do exílio parece percorrer sua obra. Em suas fotos, as
pessoas parecem estar sempre no
lugar errado, na hora errada."Fotografo aquilo do que discordo",
diz, como se pudesse evitar que
sua experiência se repetisse. Esteve no Congo, Haiti, Sri Lanka, Iraque, Paquistão, Angola e outros
lugares não menos problemáticos, fotografando a guerra, a Aids,
a miséria, desastres ambientais e o
que mais o incomode.
Mas poderia ser mais um fotógrafo de conflito preocupado em
mudar o mundo não tivesse Antonin Kratochvil o refinamento
estético que tem. Seu olhar oblíquo produz imagens muitas vezes
fora de foco ou tremidas, que
pouco se importam com a linha
do horizonte. "Estou em busca do
momento passageiro, transitório", diz.
O mesmo modo de olhar Kratochvil utiliza para a outra vertente de seu trabalho, aparentemente
antagônica. Seu livro "Incognito"
é uma seleção de retratos de celebridades do "show business" norte-americano, feitos para revistas
como "Detour", "W", "CQ" e
"Prèmiere". "Eu apenas dou continuidade à tradição de grandes
jornalistas como Cartier-Bresson
e Andre Kertesz, que como parte
de seu trabalho fotografaram artistas." Engana-se quem vê neste
trabalho algo menos profundo.
Desprovidos do glamour cinematográfico, Harvey Keitel, Liv
Tyler, Willem Dafoe, Bernardo
Bertolucci, Jessica Lang e Bob
Dylan, entre outros, são simplesmente atores, diretores e músicos
exilados em sua própria fama.
Esse refinamento estético tem
levado o trabalho de Kratochvil e
de seus colegas da badalada
Agência VII às galerias de arte e
coleções de museus. Esse cruzamento é bastante raro."São esferas diferentes, poucos são os que
conseguem uma brecha", diz o
crítico de fotografia Rubens Fernandes Jr.
"As revistas não nos dão espaço
suficiente. Se você faz um projeto
e o coloca num livro, na internet,
numa galeria, você entrega o pacote completo", explica Kratochvil, mestre em passar pelas brechas.
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