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Análise
Artista salienta fissura entre real e ficção no mundo contemporâneo
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Jeffrey David Wall nasceu
em Vancouver, no Canadá, em
1946, um ano após o término da
Segunda Guerra Mundial e o
início da Guerra Fria. Filho,
portanto, de uma geração que
aprendeu que todo conflito entre duas forças, seja de que ordem for, é um embate que se dá,
sobretudo, no terreno das imagens reais e mentais que ambas
as partes constroem, com toda
a sorte de filtros ideológicos
possíveis com os quais tentam
colocar em relevo uma noção
equivocada de verdade.
Professor de história da arte,
na carreira acadêmica pesquisou profundamente o dadaísmo e a pintura de mestres como Manet e Delacroix. Mais
tarde, voltou-se ao cinema e
também à fotografia.
Tido como um dos principais
artistas contemporâneos, sua
obra -constantemente estudada por acadêmicos que tentam
qualificá-la e classificá-la- é
marcada por uma grande dose
de irreverência e iconoclastia
diante do código fotográfico.
Como ele próprio afirma, seu
trabalho não é documental
nem ficcional. A fórmula encontrada para fazer uma aproximação crítica das relações sociais se dá pelo questionamento que seus trabalhos trazem
acerca da crença que devotamos às imagens no mundo contemporâneo.
Muitos de seus trabalhos
surgem a partir da encenação
de uma cena cotidiana, que soa
por vezes banal, risível.
Como escreve Alberto Martín Expósito, do Centro de Fotografia de Salamanca: "[Wall]
se cerca do cotidiano sem vê-lo
nem tratá-lo como "o cotidiano", mas como o "singular de cada dia" ou de cada momento, do
que mantém com o real uma
tensão, pois não deixa de ser o
real e ainda assim introduz
uma desestabilização, um não
reconhecimento mimético".
Ao atuar nessa fissura entre
real e ficção, as fotografias do
canadense Jeffrey David Wall,
que sempre são apresentadas
em grandes formatos e montadas em caixas luminosas
-nunca realizadas em séries-,
recebem denominações como
"realismo conceitual" ou "realismo performativo".
Essas espécies de "ficções verossímeis" que o artista cria
ressoam a cinema e teatro para
tecer comentários ácidos sobre
as estruturas sociais. Sem perder, no entanto, o poder de sedução das imagens. Ao desacreditar o real, Wall criou uma nova instância para o entendimento da nossa vã noção de
realidade.
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