São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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Análise

Artista salienta fissura entre real e ficção no mundo contemporâneo

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Jeffrey David Wall nasceu em Vancouver, no Canadá, em 1946, um ano após o término da Segunda Guerra Mundial e o início da Guerra Fria. Filho, portanto, de uma geração que aprendeu que todo conflito entre duas forças, seja de que ordem for, é um embate que se dá, sobretudo, no terreno das imagens reais e mentais que ambas as partes constroem, com toda a sorte de filtros ideológicos possíveis com os quais tentam colocar em relevo uma noção equivocada de verdade.
Professor de história da arte, na carreira acadêmica pesquisou profundamente o dadaísmo e a pintura de mestres como Manet e Delacroix. Mais tarde, voltou-se ao cinema e também à fotografia.
Tido como um dos principais artistas contemporâneos, sua obra -constantemente estudada por acadêmicos que tentam qualificá-la e classificá-la- é marcada por uma grande dose de irreverência e iconoclastia diante do código fotográfico.
Como ele próprio afirma, seu trabalho não é documental nem ficcional. A fórmula encontrada para fazer uma aproximação crítica das relações sociais se dá pelo questionamento que seus trabalhos trazem acerca da crença que devotamos às imagens no mundo contemporâneo.
Muitos de seus trabalhos surgem a partir da encenação de uma cena cotidiana, que soa por vezes banal, risível.
Como escreve Alberto Martín Expósito, do Centro de Fotografia de Salamanca: "[Wall] se cerca do cotidiano sem vê-lo nem tratá-lo como "o cotidiano", mas como o "singular de cada dia" ou de cada momento, do que mantém com o real uma tensão, pois não deixa de ser o real e ainda assim introduz uma desestabilização, um não reconhecimento mimético".
Ao atuar nessa fissura entre real e ficção, as fotografias do canadense Jeffrey David Wall, que sempre são apresentadas em grandes formatos e montadas em caixas luminosas -nunca realizadas em séries-, recebem denominações como "realismo conceitual" ou "realismo performativo".
Essas espécies de "ficções verossímeis" que o artista cria ressoam a cinema e teatro para tecer comentários ácidos sobre as estruturas sociais. Sem perder, no entanto, o poder de sedução das imagens. Ao desacreditar o real, Wall criou uma nova instância para o entendimento da nossa vã noção de realidade.


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