São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

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Cannes reúne estrelas contra a "morte do cinema"

Sem brasileiros concorrentes à Palma de Ouro, festival anuncia medida para atrair público ao filme de autor

Disputa tem Lars von Trier, Almodóvar e Tarantino; "À Deriva", novo longa de Heitor Dhalia ("O Cheiro do Ralo') está em seção paralela


DA REPORTAGEM LOCAL

Junto com os 20 filmes em disputa pela Palma de Ouro, o 62º Festival de Cannes (13/5 a 24/5) anunciou ontem a intenção de lutar contra a morte anunciada do cinema de autor -por escassez de público.
"Segundo as últimas notícias, o cinema que amamos -o cinema altivo, original, singular, o cinema dos caminhos transversais- teria sido declarado morto pelos legistas do pensamento único", afirmou o presidente do festival, Gilles Jacob, em editorial que acompanha a relação dos filmes selecionados.
Há apenas um título brasileiro na seleção oficial de Cannes, "À Deriva", de Heitor Dhalia, escalado na mostra paralela "Um Certo Olhar" (leia a lista completa no quadro ao lado).
"Estou muito feliz, sobretudo pela qualidade daquela lista [de competidores]. É muito bacana estar em tão boa companhia. Que lista é aquela?!? Há uma clara indicação de [destaque aos] autores", diz Dhalia.
Para reafirmar o vigor dos autores "independentes" da engrenagem hollywoodiana, Jacob reuniu na competição pela Palma de Ouro:
a) um time de cineastas pop, como Pedro Almodóvar, Ang Lee, Quentin Tarantino, Lars von Trier; b) uma equipe de polemistas insolentes, como Gaspar Noé ("Irreversível"), Michael Haneke ("Violência Gratuita"), Elia Suleiman ("Intervenção Divina") e Lou Ye, que já foi banido de seu trabalho pelo governo chinês e enfrentou problemas com a censura de seu país quando exibiu em Cannes o provocante "Summer Palace" (2006); c) velhos mestres como Alain Resnais e Marco Bellocchio.
Afinal, para Jacob, "o cinema independente não é um conjunto de regras nem uma questão de geração; é uma atitude".
Três mulheres estão na competição: Jane Campion, única diretora até hoje a vencer a Palma de Ouro ("O Piano"), Andrea Arnold e Isabel Coixet.
Quando os títulos da competição forem lançados nos cinemas, o festival usará seu site (www.festival-cannes.fr) para dar "a pedrinha de apoio de Cannes aos cineastas independentes", afirma Jacob.
Segundo ele, "a ideia é apresentar ao público, particularmente ao público jovem, os cinco primeiros minutos do filme, e não o indefectível trailer, que acaba minando o desejo".
O efeito esperado é que "o internauta largue teclados e joguinhos e fique tentado a correr para o cinema mais próximo para descobrir o resto".
O júri é presidido pela atriz francesa Isabelle Huppert e inclui as atrizes Asia Argento (Itália), Shu Qi (Taiwan) e Robin Wright Penn (EUA), os cineastas James Gray (EUA), Nuri Bilge Ceylan (Turquia), Lee Chang-Dong (Coreia) e o escritor inglês Hanif Kureishi.
Amanhã, sairão as seleções da Quinzena dos Realizadores e da Semana da Crítica.


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