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Cid, meu amor
Mulher de Cid Moreira, 81, a jornalista Fátima Sampaio, 45, prepara biografia do apresentador
AUDREY FURLANETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela, 45, está sentada no colo
de Cid Moreira, 81. Cruzou as
pernas e o envolveu com os braços, apoiando a cabeça na dele.
Pergunta se está bonita, olha as
fotos -e faz sinal de aprovação
para o marido. Tem sido assim
há nove anos, desde que a jornalista Fátima Sampaio conheceu e começou a namorar o
apresentador que ficou 27 anos
na bancada do "Jornal Nacional". E que, agora, é personagem de seu primeiro livro.
Fátima, a mulher de Cid, é
autora de sua biografia, "Boa
Noite", que será publicada pela
editora Goal -a mesma que
lança os CDs bíblicos narrados
por ele.
"Cid foi se apresentando para
mim ao longo desses anos. O livro foi juntar as memórias que
ele me passou com mais seriedade", conta Fátima. Ao lado
dela, numa poltrona do hotel
Renaissance, em São Paulo, o
marido abre o jornal. "A gente
tem o hábito muito legal de, no
final da noite, ficar sentado no
nosso jardim, para colocar as
ideias em ordem, tomando um
vinhozinho. Eu pensei: "É
quando eu vou pegar esse monossilábico garoto'".
Cid baixa o jornal e faz a primeira interrupção da noite:
"Olha, eu vou resumir o seguinte: eu fui a um torneio de tênis...". É a vez de Fátima interromper: "Não, não é para contar como você me conheceu!".
Ele de novo: "Calma. Fui a um
torneio de tênis há nove anos
em Fortaleza. Ela era repórter
da "Caras" e foi me entrevistar.
O meu depoimento [para a biografia] começou lá".
Ela, então, retoma: "Eu disse,
na introdução do livro, que não
ia falar dos amores dele. Seria
como carregar uma bandeja de
ovos no meio da multidão, sabe?". Fátima é a quarta esposa
de Cid, que se casou pela primeira vez aos 23. A intenção do
livro, ela explica, é de homenageá-lo. A homenagem, aliás,
surge nas primeiras páginas: "A
maturidade substituiu a beleza
física sem prejuízo algum", escreve a autora-esposa.
Aperta aqui
Pouco depois, ela reforça o
texto do livro: pede à repórter
que aperte a coxa de Cid. "É firme, olha só!" Ele, então, mostra
o bíceps. "Pode apertar!", diz,
forçando o músculo de quem
malha diariamente, toma "suco
verde" (vitamina com couve,
inhame, linhaça e uma longa
lista de verduras, raízes, sementes e afins), faz alongamento e pedala 50 minutos.
Academia foi a terapia de Cid
Moreira quando, aos 68 anos,
deixou o "Jornal Nacional".
Formado em contabilidade, começou a carreira de locutor aos
17 anos em Taubaté, sua cidade
natal. Apelidado de Caolho na
infância, vendia latinhas e "gumex caseiro" (mistura de "pó
dragante, álcool e perfume da
minha mãe") para ir ao cinema.
Na época, escreve Fátima, as
profissões da moda eram "engenharia, medicina, fiscal da
Receita Federal e funcionário
do Banco do Brasil". Numa noite, por acaso, Cid subiu ao palco
da festa de um amigo e deu seu
primeiro "Boa noite", que lhe
valeu um convite de uma rádio.
Em 1969, chegou à Globo (em
abril) e estreou o "Jornal Nacional" (em setembro). "Eu era
muito tímido naquela época",
diz no livro. "Não tinha o controle vocal que tenho agora."
Hoje, sua voz é exclusividade da
Globo -a exceção são as narrações bíblicas-, embora grave
"poucas, pouquíssimas" locuções do "Fantástico". Mas não
se sente no ostracismo.
"Eu tô numa outra fase", diz
Cid. A mulher interrompe: "Eu
tenho 36 anos a menos que ele.
Quando eu o conheci, ele tinha
72, e as pessoas diziam: "Que
loucura! Você é uma menina
perto dele!". E eu brinco até hoje: "É um ótimo jeito de não precisar fazer plástica'".
Cid, de novo: "Participei de
quase tudo o que aconteceu
neste país. Eu estava lá no momento certo. Mas, escuta, eu
sou um camarada que, quando
vira a página, vira. Posso até
sentir uma certa nostalgia,
mas...". E a biógrafa-fã conclui:
"Você sabe que, quando a gente
vai ao supermercado, as pessoas pedem autógrafo? Depois
de tantos anos, elas lembram".
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