São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002 |
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ERIKA PALOMINO DEZ ANOS DE PURA CULTURA CLUB
Faz dez anos que minha coluna semanal na Ilustrada é publicada -antes como "Noite Ilustrada", depois sob meu nome. O aniversário foi quarta-feira. Por conta disso, a edição
de hoje traz uma breve retrospectiva com algumas das notas
do período, pinçadas entre as
mais importantes ou absurdas.
É uma viagem no tempo. A íntegra dessa pesquisa está no site www.erikapalomino.com.br. Divirta-se.
Quinta foi a "Noite do Milharal" no Massivo. Quem foi
montado (megaoverdressed,
segundo o convite) entrou de
graça. Teve também chuva de
milho sobre a pista, que se estendeu para o bar, onde todo
mundo dançava agarrado com
todo mundo -almôndega.
Sra. Krawitz. Não ter aberto
no dia marcado foi o flop do
ano. Mas a casa vai pegar.
Na divertida festa das drag
queens no Krawitz, houve
quem contasse 40 delas. Grace,
de brincos Yamamura, foi a
mais engraçada. Ficava cantando samba (!) no meio do lugar, começando sempre com
um absurdo é água no mar, é a
maré cheia.
O momento de maior comoção no Krawitz é "Babaloo", do
DSR. Acendem-se as luzes de
serviço, e o povo começa a gritar "babalu, babalu"; a música
começa e o DJ Maurício Mau
Mau atira chiclete Babaloo lá
de cima. "Babaloo" é trance.
Regina Duarte pôs o pé no
mundinho, em "Retrato de
Mulher". Interpretando uma
perua, declarou que uó é a gíria
do momento. Tá, meu bem?
E sabe que agora tem um cara
que fica andando completamente nu pelos clubes da cidade?
E tchau tchau. Seja clubber,
seja dramático. Ou então pega
aqui esses dois reais e passa
amanhã!
Tatice. É a nova definição para a fechação de tatas quá-quá-quás.
Quer dizer que agora qualquer
pessoa que está dançando num
clube pode ser levada para a delegacia mais próxima e detida pela
polícia por até quatro horas, mesmo depois de revistada e liberada,
sem qualquer tipo de satisfação e
pouquíssima educação? Foi o que
aconteceu com a nata da nação
Hell's, em peso naquele dia.
E em homenagem a Diana,
morta, coitada, exatamente naquela madrugada, alguns clubbers -passados- escreveram
no pulso, com caneta, as letras DI.
E por enquanto continua como
um dos assuntos da noite a movimentação dos clubbers de periferia, detonada com a rave de São
Miguel Paulista.
Sim, sim, precisamos admitir: a
noite está um tédio.
O Rio de Janeiro é uma barbie.
Grandona, queimada e sem camisa. E o grande palco das barbies é
a praia. No Posto 9, claro.
E a pergunta é: você sabe dançar
drum'n'bass? Agora que o gênero
está crescendo em São Paulo, é
melhor não fazer feio na pista.
Prepare seu modelón. Saia da
catacumba, esqueça o drama, pare de chochar e se jogue. Queremos menos carão e mais diversão!
Eu fui uma daquelas pessoas
que subiram no Monumento às
Bandeiras, no coração do parque
Ibirapuera. Foi sábado, durante a
Parada da Paz, quando mais de 15
mil pessoas participaram da
maior celebração de cultura club
já vista na cidade.
Uma das mais peculiares personalidades da cena, Alfred morreu
na madrugada de sexta para sábado. Mas seu som e seu talento vão
permanecer nas pistas.
Ai, essa coisa de noite já deu, né?
E a gente não queria rave como
na Inglaterra? Pois agora estamos
igual. Começa a era das megaraves.
E quem beijou, beijou. O Cube
fecha suas portas. A última noite é
amanhã, e o hype é escrever, literalmente, seu nome na história do
clube, deixando sua mensagem
meiga ou seu chocho.
Agora, analisando tecnicamente, o Lov.e tem alguns diferenciais:
o clube não tem fumaça e é todo
colorido.
Ah, e foi um sucesso o Mercado
Mix, lá na garagem do Elétrico.
Todo mundo tinha cara de gente,
e a moda underground está mais
viva do que nunca.
Tchau tchau. Absolutamente
desconcertante a festa de aniversário do Hell's Club. Lá pelas
10h30 Mau Mau parou tudo e tocou Sade!
Aquende! Leve para o clube
qualquer coisa que brilhe: trecaiada fluorescente, arminhas infantis
que acendem, lanterninha.
A novidade da semana é o chill-in. Ao contrário dos chill-outs
-onde o povo passa para derreter depois da lesação forte dos clubes-, os chill-ins surgiram quando ninguém tem nada para fazer
até a hora do Hell's. Se jogue.
Cada vez mais as pessoas dançam viradas para a cabine.
E começa a educação pela pedra: os cariocas começam a se habituar ao tecno.
"Acho que agora está acabando
uma coisa. Não por eu estar indo
embora. Mas é estranho. Vê esse
clube do Ângelo Leuzzi, que vai
abrir. Parece muito uma empresa...", diz Bebete Indarte.
Conheça o estilista Caio Gobbi,
um dos principais nomes da noite
em São Paulo.
Histórica a Parada do Amor no
último fim de semana. Quem diria que iríamos atravessar a avenida Pacaembu atrás de dois trios
elétricos tocando house e tecno?
Que iríamos dançar Chemical
Brothers debaixo do Minhocão,
saudados por velhinhas, crianças
e moradores?
A cena underground precisa se
mexer. A tentativa utópica de
ecletismo não tem funcionado e
os guetos estão de volta. Por isso,
iniciativas como as festas de sítio
fazem mais sucesso e conquistam
a simpatia das pessoas.
Viva a house; a house vive! Claro. São Paulo -cidade tecno por
natureza- está num momento
de valorização da house. Mas, por
favor, NINGUÉM AQUI ESTÁ
FALANDO EM POLARIZAÇÃO!
As duas coisas podem existir e até
coexistem. Você vai ver.
E quem toca é o poderoso
Marky Mark. E Marky avisa: vai
tocar drum'n'bass. E é a primeira
vez que entra um DJzão assim, tocando só drum'n'bass.
E a Nação Hell's saiu do bueiro
para festejar os quatro anos do
clube. Os clubbers-favela ou
cybermanos (mais politicamente
correto, né?) tomaram conta do
subsolo. E diz que acabou às 11 da manhã. E os taxistas ali da frente do Columbia que levaram o povo embora diziam que era a última noite do Hell's. Será?
Eu segurei na bandeira do arco-íris! Era um domingão de sol, dia
perfeito para uma parada. Todas
as facções da comunidade gay estavam lá na Paulista.
Ernani nasceu em 4 de maio. Foi
engraxate, gari, menino de rua.
Dormiu debaixo de um banco na
praça da República. Adolescente,
tentou ser cantor. Tinha a voz
boa, mas ser homossexual lhe emperrou a carreira. Tentou ainda
ser bailarino, mas nada. Então
quis mudar. Aos 20 e poucos, Ernani decidiu transformar seu corpo. Nascia Andréia de Maio.
Todo mundo agora quer ser DJ.
Será que está valendo mais a pena
do que ser popstar ou rockstar?
Muitas vezes, quem só gosta de
lenha está usando um fundamento de um som radical, pesado, para demonstrar sua vocação underground, de contracultura mesmo, em tempos em que o próprio
conceito de contracultura parece
diluído. Gostar de lenha significa,
principalmente para quem chega
agora, ser rebelde. Quanto mais
pesado, melhor.
A voz da mulher é uma coisa,
sexy, sussurrada, robótica, com os
sintetizadores à la Giorgio Moroder (final dos 70, início dos 80). Eu
só penso em Miss Kittin.
A música eletrônica no Brasil
superou mesmo as fronteiras do
gueto.
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