São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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ERIKA PALOMINO

DEZ ANOS DE PURA CULTURA CLUB

Faz dez anos que minha coluna semanal na Ilustrada é publicada -antes como "Noite Ilustrada", depois sob meu nome. O aniversário foi quarta-feira. Por conta disso, a edição de hoje traz uma breve retrospectiva com algumas das notas do período, pinçadas entre as mais importantes ou absurdas. É uma viagem no tempo. A íntegra dessa pesquisa está no site www.erikapalomino.com.br. Divirta-se.

Inspirada por Naomi Campbell, de quem guarda uma foto na frasqueira, a drag queen Marcia Pantera troca seu aplique de interlace por um mais longo ainda. Até a cintura.
12 de junho de 92

Quinta foi a "Noite do Milharal" no Massivo. Quem foi montado (megaoverdressed, segundo o convite) entrou de graça. Teve também chuva de milho sobre a pista, que se estendeu para o bar, onde todo mundo dançava agarrado com todo mundo -almôndega.
29 de maio de 92

Sra. Krawitz. Não ter aberto no dia marcado foi o flop do ano. Mas a casa vai pegar.
21 de agosto de 92

Na divertida festa das drag queens no Krawitz, houve quem contasse 40 delas. Grace, de brincos Yamamura, foi a mais engraçada. Ficava cantando samba (!) no meio do lugar, começando sempre com um absurdo é água no mar, é a maré cheia.
19 de outubro de 92

O momento de maior comoção no Krawitz é "Babaloo", do DSR. Acendem-se as luzes de serviço, e o povo começa a gritar "babalu, babalu"; a música começa e o DJ Maurício Mau Mau atira chiclete Babaloo lá de cima. "Babaloo" é trance.
13 de novembro de 92

Regina Duarte pôs o pé no mundinho, em "Retrato de Mulher". Interpretando uma perua, declarou que uó é a gíria do momento. Tá, meu bem?
5 de outubro de 93

E sabe que agora tem um cara que fica andando completamente nu pelos clubes da cidade?
4 de novembro de 94

E tchau tchau. Seja clubber, seja dramático. Ou então pega aqui esses dois reais e passa amanhã!
8 de setembro de 95

Tatice. É a nova definição para a fechação de tatas quá-quá-quás.
20 de setembro de 96



E diz que foi do bem a primeira festa Velvet Underground no Espaço Columbia, sábado. Tinha um povo fervido. O som ninguém consegue explicar direito. Este sábado tem de novo, a partir de 4h. Internacional.
27 de maio de 94

Quer dizer que agora qualquer pessoa que está dançando num clube pode ser levada para a delegacia mais próxima e detida pela polícia por até quatro horas, mesmo depois de revistada e liberada, sem qualquer tipo de satisfação e pouquíssima educação? Foi o que aconteceu com a nata da nação Hell's, em peso naquele dia.
9 de novembro de 96

E em homenagem a Diana, morta, coitada, exatamente naquela madrugada, alguns clubbers -passados- escreveram no pulso, com caneta, as letras DI.
5 de setembro de 97

E por enquanto continua como um dos assuntos da noite a movimentação dos clubbers de periferia, detonada com a rave de São Miguel Paulista.
5 de setembro de 97

Sim, sim, precisamos admitir: a noite está um tédio.
30 de janeiro de 98

O Rio de Janeiro é uma barbie. Grandona, queimada e sem camisa. E o grande palco das barbies é a praia. No Posto 9, claro.
27 de janeiro de 98

E a pergunta é: você sabe dançar drum'n'bass? Agora que o gênero está crescendo em São Paulo, é melhor não fazer feio na pista.
6 de março de 98

Prepare seu modelón. Saia da catacumba, esqueça o drama, pare de chochar e se jogue. Queremos menos carão e mais diversão!
27 de março de 98

Eu fui uma daquelas pessoas que subiram no Monumento às Bandeiras, no coração do parque Ibirapuera. Foi sábado, durante a Parada da Paz, quando mais de 15 mil pessoas participaram da maior celebração de cultura club já vista na cidade.
1º de maio de 98

Uma das mais peculiares personalidades da cena, Alfred morreu na madrugada de sexta para sábado. Mas seu som e seu talento vão permanecer nas pistas.
8 de maio de 98

Ai, essa coisa de noite já deu, né?
22 de maio de 98

E a gente não queria rave como na Inglaterra? Pois agora estamos igual. Começa a era das megaraves.
12 de junho de 98

E quem beijou, beijou. O Cube fecha suas portas. A última noite é amanhã, e o hype é escrever, literalmente, seu nome na história do clube, deixando sua mensagem meiga ou seu chocho.
31 de julho de 98

Agora, analisando tecnicamente, o Lov.e tem alguns diferenciais: o clube não tem fumaça e é todo colorido.
28 de agosto de 98



O som da Val-Demente é tudo. Acenda todos os dias velas para Felipe Venâncio, o homem que conseguiu recuperar os hits de pista: o povo grita muito.
20 de maio de 94

Ah, e foi um sucesso o Mercado Mix, lá na garagem do Elétrico. Todo mundo tinha cara de gente, e a moda underground está mais viva do que nunca.
17 de fevereiro de 95

Tchau tchau. Absolutamente desconcertante a festa de aniversário do Hell's Club. Lá pelas 10h30 Mau Mau parou tudo e tocou Sade!
Julho de 95

Aquende! Leve para o clube qualquer coisa que brilhe: trecaiada fluorescente, arminhas infantis que acendem, lanterninha.
1º de setembro de 95

A novidade da semana é o chill-in. Ao contrário dos chill-outs -onde o povo passa para derreter depois da lesação forte dos clubes-, os chill-ins surgiram quando ninguém tem nada para fazer até a hora do Hell's. Se jogue.
24 de maio de 96

Cada vez mais as pessoas dançam viradas para a cabine.
16 de agosto de 96

E começa a educação pela pedra: os cariocas começam a se habituar ao tecno.
23 de agosto de 96

"Acho que agora está acabando uma coisa. Não por eu estar indo embora. Mas é estranho. Vê esse clube do Ângelo Leuzzi, que vai abrir. Parece muito uma empresa...", diz Bebete Indarte.
23 de agosto de 96

Conheça o estilista Caio Gobbi, um dos principais nomes da noite em São Paulo.
21 de março de 97

Histórica a Parada do Amor no último fim de semana. Quem diria que iríamos atravessar a avenida Pacaembu atrás de dois trios elétricos tocando house e tecno? Que iríamos dançar Chemical Brothers debaixo do Minhocão, saudados por velhinhas, crianças e moradores?
4 de julho de 97

A cena underground precisa se mexer. A tentativa utópica de ecletismo não tem funcionado e os guetos estão de volta. Por isso, iniciativas como as festas de sítio fazem mais sucesso e conquistam a simpatia das pessoas.
30 de maio de 97



Quem ainda duvida do poder da cultura club? Chame de underground, rave ou afins. Não importa. O que impressiona é o poder da nova juventude brasileira -informada, legal, globalizada. Na periferia, os mais modernos e os que conseguem se divertir sem carão. Os empresários e os patrocinadores apostam; as revistas noticiam; os jornais vociferam. Finalmente, nós existimos.
3 de abril de 98

Viva a house; a house vive! Claro. São Paulo -cidade tecno por natureza- está num momento de valorização da house. Mas, por favor, NINGUÉM AQUI ESTÁ FALANDO EM POLARIZAÇÃO! As duas coisas podem existir e até coexistem. Você vai ver.
10 de abril de 98

E quem toca é o poderoso Marky Mark. E Marky avisa: vai tocar drum'n'bass. E é a primeira vez que entra um DJzão assim, tocando só drum'n'bass.
29 de maio de 98

E a Nação Hell's saiu do bueiro para festejar os quatro anos do clube. Os clubbers-favela ou cybermanos (mais politicamente correto, né?) tomaram conta do subsolo. E diz que acabou às 11 da manhã. E os taxistas ali da frente do Columbia que levaram o povo embora diziam que era a última noite do Hell's. Será?
17 de julho de 98

Eu segurei na bandeira do arco-íris! Era um domingão de sol, dia perfeito para uma parada. Todas as facções da comunidade gay estavam lá na Paulista.
2 de julho de 99

Ernani nasceu em 4 de maio. Foi engraxate, gari, menino de rua. Dormiu debaixo de um banco na praça da República. Adolescente, tentou ser cantor. Tinha a voz boa, mas ser homossexual lhe emperrou a carreira. Tentou ainda ser bailarino, mas nada. Então quis mudar. Aos 20 e poucos, Ernani decidiu transformar seu corpo. Nascia Andréia de Maio.
19 de maio de 2000

Todo mundo agora quer ser DJ. Será que está valendo mais a pena do que ser popstar ou rockstar?
6 de abril de 2001

Muitas vezes, quem só gosta de lenha está usando um fundamento de um som radical, pesado, para demonstrar sua vocação underground, de contracultura mesmo, em tempos em que o próprio conceito de contracultura parece diluído. Gostar de lenha significa, principalmente para quem chega agora, ser rebelde. Quanto mais pesado, melhor.
18 de maio de 2001


No Brasil é assim: põe a música e a gente dança.
26 de outubro de 2001

A voz da mulher é uma coisa, sexy, sussurrada, robótica, com os sintetizadores à la Giorgio Moroder (final dos 70, início dos 80). Eu só penso em Miss Kittin.
22 de março de 2002

A música eletrônica no Brasil superou mesmo as fronteiras do gueto.
26 de abril de 2002





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