|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DVDs
Crítica/"Cassy Jones - O Magnífico Sedutor"
Em seu último longa, Person faz paródia da pornochanchada
Comédia erótica inconsequente tem sequências memoráveis de humor surreal
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Luiz Sergio Person
(1936-1976) inscreveu
seu nome na história do
cinema brasileiro com dois filmes seriíssimos, "São Paulo
S/A" (1965) e "O Caso dos Irmãos Naves" (1967), mas seu
último longa, "Cassy Jones - O
Magnífico Sedutor" (1972), é
uma comédia erótica absurda.
Paulo José, no papel-título, é
o conquistador irresistível, por
quem todas as mulheres do Rio
se apaixonam. O assédio chega
a aborrecer o herói, que entra
em crise e se vê ameaçado pela
impotência, antes de conhecer
uma linda moça órfã (Sandra
Bréa, num de seus primeiros
papéis) tiranizada pela governanta (Glauce Rocha, em seu
último filme). Aí é ele que se
apaixona.
Esse fio de enredo é mero
pretexto para uma sucessão de
sequências mais ou menos disparatadas, animadas por um
humor excêntrico, surreal, que
homenageia o teatro de revista,
a chanchada, o tropicalismo e a
jovem guarda. (Não por acaso,
Person preparou pouco antes
um filme com Roberto Carlos,
que não se concretizou.)
Algumas dessas sequências
são memoráveis, como a do pesadelo em que Cassy Jones se
vê como juiz de futebol, xingado de "bicha" pelo Maracanã
lotado, ou a de seu disfarce de
professor francês de balé para
invadir o reduto da donzela cobiçada. Há passagens de puro
pastelão, com recursos um tanto fáceis de cinema mudo: movimento acelerado, perseguições à la Keystone Cops, trombadas e tropeções.
Mesmo nos momentos menos inspirados, é perceptível a
alegria com que Person parodia
a então florescente pornochanchada, gênero já paródico por
excelência, misturando referências a outras linhagens do
cinema, bem como à TV, à publicidade e à música popular.
Crítica social
Deliciosamente inconsequente, o filme não tem compromisso algum com a verossimilhança. A crítica a um país
deslumbrado com o consumo e
a modernidade (o Brasil do
"milagre") se dá pela exacerbação cenográfica, pela extravagância dos figurinos e das cores,
pela montagem frenética, pela
ironia geral da mise-en-scène.
As músicas, a começar pela
contagiante canção-título, são
de Carlos Imperial, que aparece
numa cena de programa de
auditório.
Agora que as comédias de
costumes voltam a fazer sucesso (vide "Se eu Fosse Você 2" e
"Divã"), nada melhor do que
cotejá-las com um exemplar
saído de outro tempo, de outro
cinema, de outro Brasil.
CASSY JONES - O MAGNÍFICO
SEDUTOR
Lançamento: Videofilmes
Quanto: R$ 45, em média
Classificação: não indicado a menores
de 16 anos
Avaliação: bom
Texto Anterior: Televisores já existem, mas falta conteúdo Próximo Texto: Extras têm curta feito em Roma Índice
|