São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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Arquiteto pé no chão

Gaetano Pesce faz parceria com a Melissa e participa do Fashion Rio

Fotos Divulgação
A poltrona La Mamma, criada por Pesce em1969

VIVIAN WHITEMAN
EDITORA-INTERINA DE MODA

O italiano Gaetano Pesce é arquiteto de formação, mas prefere ser visto como designer multi e interdisciplinar.
A obra de Pesce, que inclui de prédios a lustres e cadeiras, é considerada um dos conjuntos mais singulares do design contemporâneo, e algumas peças estão nos acervos de museus como o MoMA de Nova York e o Victoria and Albert, em Londres.
Nesta semana, o arquiteto desembarca no Brasil para apresentrar sua mais nova criação: um sapato customizável criado para a grife Melissa e que será lançado durante o Fashion Rio. De Nova York, Pesce falou à Folha sobre sapatos, moda e a crise da arquitetura.

Folha - Como chegou à ideia de um sapato customizável?
Gaetano Pesce
- Queria algo que desse ao consumidor a chance de mudar o design. É uma bota feita de círculos interligados, que podem ser cortados com tesoura. Aí, vira sapatilha, sandália...

Você se interessa por moda?
Gosto da rapidez da moda, de como ela se renova diariamente. E gosto de criar. Se faço um prédio ou um sapato, a problemática é a mesma: o corpo na realidade de determinado espaço. Exploro essa relação de forma criativa, sem preconceito, o que é raro entre os designers de hoje.

Falta ousadia à arquitetura?
Os arquitetos são servis, tudo é a gosto do freguês. São capazes de exportar o mesmo prédio a 20 países, ignoram as necessidades locais. A formação universitária é lamentável e, por isso, a arquitetura de hoje é feita por ignorantes, gente que não sabe de fato o que é arquitetura.

Há alguma solução à vista?
Precisamos de uma nova escola de pensamento. É algo urgente. Os estudantes precisam recuperar a confiança na criatividade e ter comprometimento com a curiosidade e com a experimentação.

Nos anos 90, você criou um projeto para a av. Paulista...
Sim, a True Realistic Tower, um prédio que acomodaria casas e escritórios. Cada andar seria feito por um arquiteto diferente, um manifesto democrático. Estava nas mãos da Método Engenharia, mas foi abortado durante o governo Collor. No ano passado apareceram pessoas interessadas em retomá-lo, mas nada concreto.

O que você pensa da arquitetura informal das favelas?
É um exemplo de arquitetura democrática. Há reciclagem de materiais, design colaborativo. É admirável, apesar dos problemas de segurança e da falta de água e esgoto, que podem ser resolvidos com esforço político.

O que mais você admira na arquitetura brasileira?
O Brasil tem Oscar Niemeyer. Acho Brasília um projeto muito interessante, embora bastante sisudo. Prefiro aquele teatro em São Paulo, o que fica num parque.

O Auditório Ibirapuera?
Sim, sim. É uma obra-prima do Niemeyer, orgânica e bem-humorada. Aquela estrutura vermelha ondulada me fez pensar: ele está mostrando a língua para o mundo. É maravilhoso.


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