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Arquiteto pé no chão
Gaetano Pesce faz parceria com a Melissa e participa do Fashion Rio
Fotos Divulgação
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A poltrona La Mamma, criada por Pesce em1969
VIVIAN WHITEMAN
EDITORA-INTERINA DE MODA
O italiano Gaetano Pesce é
arquiteto de formação, mas
prefere ser visto como designer multi e interdisciplinar.
A obra de Pesce, que inclui
de prédios a lustres e cadeiras, é considerada um dos
conjuntos mais singulares do
design contemporâneo, e algumas peças estão nos acervos de museus como o MoMA
de Nova York e o Victoria and
Albert, em Londres.
Nesta semana, o arquiteto
desembarca no Brasil para
apresentrar sua mais nova
criação: um sapato customizável criado para a grife Melissa e que será lançado durante o Fashion Rio.
De Nova York, Pesce falou
à Folha sobre sapatos, moda
e a crise da arquitetura.
Folha - Como chegou à ideia
de um sapato customizável?
Gaetano Pesce - Queria algo que desse ao consumidor
a chance de mudar o design.
É uma bota feita de círculos
interligados, que podem ser
cortados com tesoura. Aí, vira sapatilha, sandália...
Você se interessa por moda?
Gosto da rapidez da moda,
de como ela se renova diariamente. E gosto de criar. Se faço um prédio ou um sapato, a
problemática é a mesma: o
corpo na realidade de determinado espaço. Exploro essa
relação de forma criativa,
sem preconceito, o que é raro
entre os designers de hoje.
Falta ousadia à arquitetura?
Os arquitetos são servis,
tudo é a gosto do freguês. São
capazes de exportar o mesmo
prédio a 20 países, ignoram
as necessidades locais. A formação universitária é lamentável e, por isso, a arquitetura
de hoje é feita por ignorantes,
gente que não sabe de fato o
que é arquitetura.
Há alguma solução à vista?
Precisamos de uma nova
escola de pensamento. É algo
urgente. Os estudantes precisam recuperar a confiança
na criatividade e ter comprometimento com a curiosidade e com a experimentação.
Nos anos 90, você criou um
projeto para a av. Paulista...
Sim, a True Realistic Tower, um prédio que acomodaria casas e escritórios. Cada andar seria feito por um
arquiteto diferente, um manifesto democrático. Estava
nas mãos da Método Engenharia, mas foi abortado durante o governo Collor. No
ano passado apareceram
pessoas interessadas em retomá-lo, mas nada concreto.
O que você pensa da arquitetura informal das favelas?
É um exemplo de arquitetura democrática. Há reciclagem de materiais, design colaborativo. É admirável, apesar dos problemas de segurança e da falta de água e esgoto, que podem ser resolvidos com esforço político.
O que mais você admira na
arquitetura brasileira?
O Brasil tem Oscar Niemeyer. Acho Brasília um projeto
muito interessante, embora
bastante sisudo. Prefiro
aquele teatro em São Paulo, o
que fica num parque.
O Auditório Ibirapuera?
Sim, sim. É uma obra-prima do Niemeyer, orgânica e
bem-humorada. Aquela estrutura vermelha ondulada
me fez pensar: ele está mostrando a língua para o mundo. É maravilhoso.
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