São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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"Sr. Raposo tem meu cérebro", diz diretor

Wes Anderson cria universo de filme baseado em livro de Roald Dahl como se ele "estivesse recostado na árvore'

Nos extras do DVD, que sai na quarta, viúva do autor conta que cineasta se mudou para cabana em seu jardim

MARIANNE PIEMONTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LONDRES

Felicity Dahl viu o cineasta Wes Anderson, 41, pela primeira vez em um elegante restaurante em Nova York.
A viúva de Roald Dahl (1916-1990) teve a impressão de ver o próprio Senhor Raposo entrar pela porta. O personagem, criado pelo também autor de "A Fantástica Fábrica de Chocolates", é um esperto ladrão de galinhas.
O estilo inglês do americano, com terno de veludo marrom, suéter verde e camisa azul, combinados com o cabelo tigela e a maneira sutil de falar e de mexer as mãos, a levaram a vender sem reservas os direitos do livro "O Fantástico Senhor Raposo", de seu marido, para o diretor. Cenas em que Felicity conta como foi receber Anderson e seu parceiro de roteiro, Noah Baumbach, em sua casa em Buckinghamshire, na Inglaterra, estão nos extras do DVD do longa, que será lançado no Brasil na quarta.
"Eles se mudaram para a cabana no jardim, onde Roald costumava escrever. O roteiro foi feito ali, em duas semanas", conta Felicity.
O diretor disse, durante entrevista em Londres, que a intenção era fazer uma adaptação do livro, "mas, toda vez que estávamos juntos, nós tentávamos agir como se Roald estivesse entre nós, recostado na árvore ou tomando o chá de que ele gostava".
"Posso dizer que o Senhor Raposo é um personagem dele, com o meu cérebro, se é que isso possa ser possível", diz Anderson.
A animação em "stop-motion" (em que os bonecos são movimentados e filmados quadro a quadro) conta a história de uma família de raposas e tem seus personagens principais dublados na versão original por George Clooney e Meryl Streep. Na trilha sonora, entre clássicos dos Beach Boys ("Heroes and Villains") e dos Rolling Stones ("Street Fighting Man"), o diretor de "Os Excêntricos Tenenbaums" e "Viagem a Darjeeling" se reafirma em suas marcas.
Seu Jorge foi um dos seus eleitos para a trilha de "A Vida Marinha com Steve Zissou" (2004). Leia, a seguir, trechos da entrevista.

 

Folha - Você é conhecido por reescrever cenas durante a gravação. Imagino que isso tenha sido difícil ao trabalhar com "stop-motion".
Wes Anderson
- Sempre gostei de ver pele de animais nesse tipo de animação. Ainda fico encantado com o pelo do primeiro "King Kong" se movimentando. Por isso fiquei com vontade de tentar.
Nunca havia feito porque achava que levaria anos e anos, mas consegui um time que fez tudo funcionar e gravamos em oito meses. Meu desafio foi justamente não reescrever o tempo todo.
Havia 30 tomadas acontecendo ao mesmo tempo, enquanto eu andava para cima e para baixo no set, pensando no corte do filme.
Também podia ver, quando estava nos EUA, como alguma cena estava sendo feita com a ajuda de câmeras acopladas em algumas lentes.

Por que escolheu George Clooney para o Sr. Raposo?
Eu queria um casting inglês, porque a história é inglesa. Mas trabalhar com George Clooney é muito bom e divertido. Nas locações externas, onde gravamos muitos dos áudios, era possível enxergar as trapalhadas dele nos personagem.
Meryl foi a única que não pôde fazer as externas, mas garanto que não é um grande desafio dirigi-la. Ela pode fazer qualquer coisa com a voz.

Você pretende trabalhar com Seu Jorge novamente?
Não tenho planos, mas gosto de trabalhar com amigos. Em "A Vida Marinha com Steve Zissou", cada vez que ele aparecia com uma versão para as músicas do [David] Bowie, tinha de colocar no filme. O resultado é que, no lugar de três, a trilha tem 12 músicas de Seu Jorge. Temos uma ótima ligação.


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