São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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Tailandês vence competição em Cannes

Júri do festival de cinema surpreende ao dar a Palma para fábula fantasiosa de Apichatpong Weerasethakul

Javier Bardem e Juliette Binoche ganham como atores; Mathieu Amalric leva melhor direção com filme de cabaré

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

Numa edição que chegou ao fim sem que um favorito evidente tivesse despontado, o júri presidido por Tim Burton premiou o radicalismo.
Surpreendeu. E foi fortemente aplaudido quando anunciou, na noite de ontem, que a Palma de Ouro iria para o tailandês Apichatpong Weerasethakul, 39.
Não apenas seu próprio nome e o do filme, "Lung Boonmee Raluek Chat" (tio Boonmee que se lembra de vidas anteriores), soam difíceis. Seu cinema tem um quê de impenetrável.
Burton confessou, após o prêmio, que jamais havia visto um trabalho de Weerasethakul. "Mas foi uma surpresa", disse o americano que, como o diretor tailandês, adora imagens fantasiosas.
Não foi só de experimentalismo, porém, que se fez a escolha. O Grande Prêmio e o Prêmio do Júri couberam a filmes que, apesar de autorais, têm narrativas lineares.
"Des Hommes et des Dieux" (sobre homens e deuses) tinha agradado a crítica francesa. Já "Un Homme qui Crie" (um homem que grita), do africano Mahamat-Sale Haroun, tinha sido bem acolhido, sobretudo, por aquilo que representa.
"Venho de um país onde não temos quase nada. Este prêmio é muito importante para nós", disse Haroun, que retratou personagens marcados pela guerra no Chade.
Numa seleção repleta de filmes sombrios e difíceis, a Palma de direção foi para quem criou certa anarquia. O ator Mathieu Amalric trouxe um filme em forma de cabaré. Desagradou parte da crítica, mas divertiu o júri.

EMOÇÃO NOS DISCURSOS
Sem contestação foram os prêmios de ator e atriz. Javier Bardem, como o pai que cuida sozinho dos filhos e se descobre doente em "Biutiful", e Juliette Binoche, a alma de "Copie Conforme" (cópia exata), foram aplaudidíssimos. Bardem dividiu o troféu com Elio Germano.
Binoche fez o mais longo e emotivo discurso. Lembrou-se do cineasta iraniano Jafar Panahi, que segue preso, da mãe, que "cuidou dos filhos sozinha", do pai, "que consegui perdoar", e dos filhos.
Depois de dizer que acredita no amor, tema do filme, Binoche fez a plateia rir com a declaração de que espera se casar de novo um dia.
Já Bardem, ao fim de uma lista de agradecimentos, dedicou o prêmio a sua "amiga e companheira" Penélope Cruz. Mandou um beijo e disse: "Para você, meu amor".
Na plateia, ela mandou o beijo de volta. Quando a câmera retornou, ela estava com os olhos marejados.
A grande surpresa foi um não-prêmio. "Another Year" (outro ano), de Mike Leigh, líder de todas as listas de apostas, saiu de mãos abanando.


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