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Tailandês vence competição em Cannes
Júri do festival de cinema surpreende ao dar a Palma para fábula fantasiosa de Apichatpong Weerasethakul
Javier Bardem e Juliette Binoche ganham como atores; Mathieu Amalric leva melhor direção com filme de cabaré
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
Numa edição que chegou
ao fim sem que um favorito
evidente tivesse despontado,
o júri presidido por Tim Burton premiou o radicalismo.
Surpreendeu. E foi fortemente aplaudido quando
anunciou, na noite de ontem, que a Palma de Ouro iria
para o tailandês Apichatpong Weerasethakul, 39.
Não apenas seu próprio
nome e o do filme, "Lung
Boonmee Raluek Chat" (tio
Boonmee que se lembra de
vidas anteriores), soam difíceis. Seu cinema tem um quê
de impenetrável.
Burton confessou, após o
prêmio, que jamais havia visto um trabalho de Weerasethakul. "Mas foi uma surpresa", disse o americano que,
como o diretor tailandês,
adora imagens fantasiosas.
Não foi só de experimentalismo, porém, que se fez a escolha. O Grande Prêmio e o
Prêmio do Júri couberam a
filmes que, apesar de autorais, têm narrativas lineares.
"Des Hommes et des
Dieux" (sobre homens e deuses) tinha agradado a crítica
francesa. Já "Un Homme qui
Crie" (um homem que grita),
do africano Mahamat-Sale
Haroun, tinha sido bem acolhido, sobretudo, por aquilo
que representa.
"Venho de um país onde
não temos quase nada. Este
prêmio é muito importante
para nós", disse Haroun, que
retratou personagens marcados pela guerra no Chade.
Numa seleção repleta de
filmes sombrios e difíceis, a
Palma de direção foi para
quem criou certa anarquia. O
ator Mathieu Amalric trouxe
um filme em forma de cabaré. Desagradou parte da crítica, mas divertiu o júri.
EMOÇÃO NOS DISCURSOS
Sem contestação foram os
prêmios de ator e atriz. Javier
Bardem, como o pai que cuida sozinho dos filhos e se
descobre doente em "Biutiful", e Juliette Binoche, a alma de "Copie Conforme" (cópia exata), foram aplaudidíssimos. Bardem dividiu o troféu com Elio Germano.
Binoche fez o mais longo e
emotivo discurso. Lembrou-se do cineasta iraniano Jafar
Panahi, que segue preso, da
mãe, que "cuidou dos filhos
sozinha", do pai, "que consegui perdoar", e dos filhos.
Depois de dizer que acredita no amor, tema do filme, Binoche fez a plateia rir com a
declaração de que espera se
casar de novo um dia.
Já Bardem, ao fim de uma
lista de agradecimentos, dedicou o prêmio a sua "amiga
e companheira" Penélope
Cruz. Mandou um beijo e disse: "Para você, meu amor".
Na plateia, ela mandou o
beijo de volta. Quando a câmera retornou, ela estava
com os olhos marejados.
A grande surpresa foi um
não-prêmio. "Another Year"
(outro ano), de Mike Leigh, líder de todas as listas de apostas, saiu de mãos abanando.
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