São Paulo, terça-feira, 24 de maio de 2011

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Curadora de Veneza quer "olhar para a história"

Para Bice Curiger, arte contemporânea se tornou autorreferente em excesso

Com maioria de artistas dos EUA e da Europa, seleção da Bienal foi criticada em redes sociais e publicações

DE SÃO PAULO

"Tintoretto é um forasteiro em vários sentidos, ele é de outro século", explica a curadora da Bienal de Veneza deste ano, Bice Curiger, sobre a escolha do pintor de quase cinco séculos atrás como guia da mostra.
"Quando pensei na exposição, não queria algo ultracontemporâneo, como um disco voador que aterrissasse em Veneza. Não queria as pessoas navegando por esses canais como se fossem as ruas do Chelsea", diz.
Por mais distante que o bairro das galerias descoladas de Nova York pareça das vielas aquáticas de Veneza, os EUA emplacaram mais artistas que qualquer outro país entre os 82 nomes escolhidos por Bice Curiger. Também estão ali 40 europeus, o que levantou críticas a ela.
Em jornais, revistas e redes sociais, Curiger foi atacada pela seleção "conservadora", de nomões do eixo EUA-Europa, quase ignorando potências emergentes nas artes.
"Acabamos chegando a uma lista grande demais e decidimos cortar alguns nomes, tirando quem já tivesse participado da Bienal", disse Curiger. "Todos os brasileiros que me agradaram caíam nessa última categoria."
Estiveram na mostra principal da última Bienal de Veneza, por exemplo, obras de Cildo Meireles, Renata Lucas e Lygia Pape, esta última homenageada agora numa retrospectiva em Madri.
"Podia fazer uma exposição maior, mas eu não sou a única voz", diz Curiger.
Na própria mostra, ela destaca artistas como a dupla chinesa Birdhead, que faz uma espécie de diário fotográfico das transformações urbanas da China, as alemãs do Das Institut e a escultora irlandesa Rebecca Warren.
"Ela faz esculturas que lembram a história da arte de um jeito vibrante", diz sobre Warren. "Usa o material como uma câmara ecoica para inventar o novo a partir de velhas vozes."
De certa forma, é o que Curiger espera da exposição. Trata-se de transcender a contemporaneidade para além de reflexões sobre o passado recente, num mergulho mais profundo.
"Arte contemporânea é muito autorreferente, só volta até o modernismo e não cruza essa linha, que parece ser um tabu. É interessante olhar para a história, ou histórias, no plural. Essa é a minha proposta." (SILAS MARTÍ)


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