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ANÁLISE
Acima do bem e do mal
DA REDAÇÃO
O homem e sua cultura são o
epicentro da obra de Verger.
Raro ver uma imagem sua onde o
homem ou a ação do homem não
seja o foco principal.
Mas, definitivamente, Verger
foi um etnólogo que fotografava, e
não vice-versa. O inestimável valor documental e acadêmico de
sua obra fotográfica agiu, de certa
forma, em detrimento de um padrão estético mais requintado.
Era um fotógrafo que não se preocupava em ter ruídos na sua composição. Ao contrário, parecia ter
certo apreço por isso.
"Reconheço com prazer que negligenciei frequentemente o lado
estético em prol da espontaneidade das expressões e das cenas a
captar", disse em uma entrevista
em 1954.
Verger acreditava que o valor de
um flagrante era infinitamente
superior ao de uma foto posada,
mesmo que isso incorresse no risco de obter imagens com qualidade técnica discutível.
Claramente acreditava que o espontâneo poderia lhe render algo
mais próximo da verdade, do
mundo real. Dessa forma conseguiu fugir completamente do exotismo banalizado, um limite bastante tênue para quem se aventurou por lugares como Bamako,
Keto, Salvador, Havana e Tóquio,
por exemplo.
A busca pelo "momento único",
celebrizado pelo fotógrafo francês
Henri Cartier-Bresson, levou
Pierre Verger a conseguir imagens belíssimas, como a da criança dormindo em Benin (foto principal desta página).
O diabo, no entanto, reside no
fato de em todas as exposições do
artista aparecerem mais e mais fotos inéditas que, francamente, deveriam continuar inéditas pelo fato de nada acrescentarem à trajetória de Verger ou até por acabar
enfraquecendo o todo de sua
obra. É o que acontece no livro e
na exposição de agora com as fotografias realizadas em São Paulo
e em Brasília, por exemplo.
Não há gênio da fotografia que
não necessite de uma edição que
organize e ordene uma lógica interna ao trabalho.
E, cá entre nós, Verger já está
acima do bem e do mal. Não são
novos fatos, ou fotos, que irão
mudar isso. (EDER CHIODETTO)
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