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São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2003

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LIVRO

Quinto e mais recente episódio da série do jovem bruxo criado por J.K. Rowling adota tom sombrio e psicológico

Harry Potter vive crise de adolescência

MICHIKO KAKUTANI
DO "NEW YORK TIMES"

No quinto e mais recente título da série "Harry Potter", "Harry Potter and the Order of the Phoenix", um dos antigos professores de Potter lhe lança um "encanto de desilusão". É um meio de torná-lo menos visível aos olhos curiosos, mas serve como metáfora para a perda das ilusões infantis de Potter.
Depois de perder muito de sua inocência nas batalhas com Lord Voldemort, o feiticeiro de 15 anos se vê compelido a confrontar revelações ainda mais perturbadoras. Livro consideravelmente mais sombrio e psicológico do que os anteriores, ocupa o mesmo posto emocional na série de Potter que "O Império Contra-Ataca" ocupava na trilogia de "Guerra nas Estrelas". Serve como uma espécie de ponto nodal para a série, marcando o fim da infância de Potter e sua descoberta de que uma antiga profecia detém o segredo sobre a obsessão de Voldemort com ele e sua família.
Aqui ele é um personagem mais zangado, perturbado não apenas pelas pressões de salvar o mundo, como também pelas frustrações adolescentes e pelo peso de uma fama que suas aventuras em Hogwarts depositaram sobre seus ombros: Potter é seguido por jornalistas, é alvo de fofocas e todos dizem a ele que é especial. O livro começa com uma certa lentidão porque Potter passa boa parte dos capítulos deprimido.
Há menos humor; a mágica se tornou menos uma arte e mais uma arma de guerra. O bruxo se vê sujeito a sonhos alarmantes e kafkianos, enquanto os membros adultos da Ordem da Fênix, uma sociedade secreta organizada para combater Voldemort, se vêem enfrentando a incompetência do Ministério de Mágica. O medo paira sobre o romance.
O que a escritora J.K. Rowling tenta fazer na primeira metade é delinear tanto o mundo cada vez mais sombrio de seus personagens quanto as incômodas mudanças emocionais que eles enfrentam à medida que crescem, algo que raramente é tratado em histórias infantis.
Os temas do sacrifício pessoal e da traição oferecidos nos volumes anteriores são amplificados. Surgem novas revelações sobre a relação entre Potter e seus parentes, e um personagem próximo a ele morre. Ainda que demore um pouco para que as engrenagens desse longo romance comecem a funcionar, os talentos da autora tomam o controle, entrelaçando o trivial e o maravilhoso, o psicológico e o alegórico.
Quando Potter descobre que seus mentores são falíveis, ele questiona se as suas fraquezas não estão empurrando-o para as garras de Voldemort. Potter procura respostas sobre como deter o inimigo e tem de entender que, na vida adulta, existem mais ambiguidades que ele imagina.
Uma das coisas que tornou o bruxo atraente é a capacidade de Rowling de aproveitar arquétipos de várias fontes - mitos, contos de fadas, clássicos infantis e o cinema- e torná-los algo novo.
Ainda que Voldemort seja um tanto caricatural às vezes, Potter é um personagem tão natural que o leitor tem uma sensação de familiaridade. Como esse volume e os anteriores atestam, Rowling imaginou seu universo em detalhes tão precisos que nos sentimos admitidos a uma terra tão palpável como a Terramédia de Tolkien.
Os feiticeiros e bruxas que vivem lá compartilham relações complicadas e antigas, e vivem em um lugar onde o fantástico e o fabuloso são rotina, mas também sujeito às limitações e perdas de nosso mundo mortal.


Tradução Paulo Migliacci


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