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Ruptura e tradição se encontram no MIS
Exposição traz à luz os fotoclubes e o paradoxo das inovações que viram rotina
"Fotoclubismo Brasileiro" será aberta com debate sobre o surgimento da prática no país e suas perspectivas atuais
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Uma inusitada coexistência
entre ruptura e tradição é um
dos melhores motes para se visitar a mostra "Fotoclubismo
Brasileiro", que será aberta hoje no MIS (Museu da Imagem e
do Som), com mesa redonda na
qual especialistas debaterão o
surgimento dos fotoclubes no
Brasil no início do século passado, suas implicações na história
da fotografia e o futuro desta
prática na era dos fotoblogs.
Para entender a constituição
dos fotoclubes é preciso uma
breve revisão histórica: com a
crescente popularização da fotografia no final do século 19,
que tem como marco o slogan
"Você aperta o botão, nós fazemos o resto", da campanha publicitária de lançamento da Kodak em 1888, amantes da linguagem fotográfica começaram
a se reunir em clubes, nos moldes de agremiações esportivas.
Dali decorriam os salões fotográficos, nos quais os fotógrafos, geralmente amadores, concorriam mediante um júri.
Os vencedores dos salões regionais eram classificados para
concorrer em salões nacionais
e internacionais. Essa prática
começa no Brasil de forma incipiente em 1910, no Rio de Janeiro, e tem seu grande momento entre as décadas de 40 e
60 com cerca de 150 fotoclubes
espalhados pelo país. Essas
agremiações quase deixaram
de existir nas últimas décadas,
chegando a apenas 14 entidades. Provavelmente impulsionados pelas novas tecnologias
houve uma retomada desta
prática. Hoje há em torno de 40
fotoclubes no Brasil, dos quais
33 fazem parte da Confederação Brasileira de Fotografia
(www.confoto.art.br).
Conceitos alheios
Como julgar que uma fotografia é melhor que outra era a
questão que se colocava nos
primórdios destes concursos.
Por se tratar de uma linguagem
nova, a fotografia ainda não
possuía uma especificidade
conceitual que desse parâmetros suficientes para tal avaliação. Emprestaram-se da pintura, portanto, alguns requisitos
que as fotografias deveriam ter
para serem aceitas nos salões.
Essa imitação que a fotografia passou a fazer dos padrões
da pintura recebeu o nome de
pictorialismo. A discussão deste momento na história da fotografia geralmente é inflamada e
divide opiniões de pesquisadores. Se por um lado a corrente
pictórica, ao se espelhar no academicismo das belas-artes teria atrasado o avanço da linguagem específica da fotografia,
que se portava como a prima
pobre da pintura, por outro lado é certo afirmar que essa corrente foi de extrema importância para deslocar a fotografia da
sua função meramente documental e objetiva para uma
abordagem mais subjetiva, experimental e artística.
Duas mostras
Esse deve ser um dos motes
do debate de hoje que além da
presença da curadora do MAC-USP, Helouise Costa, contará
também com os pesquisadores
Rubens Fernandes Junior, Ricardo Mendes e Simonetta Persichetti, além de Iatã Cannabrava, organizador da mostra.
"Fotoclubismo Brasileiro"
está dividida em duas mostras
que tomam dois andares do
MIS. O primeiro andar abriga a
24ª Bienal de Arte Fotográfica
Brasileira em Preto e Branco.
São 140 fotografias que mostram a produção recente de
cerca de 33 fotoclubes espalhados pelo Brasil. No segundo andar, 66 imagens traçam a retrospectiva "Fotoclubistas Brasileiros dos anos 40 a 70".
Justamente por serem na esmagadora maioria amadores,
os fotoclubistas foram sempre
os menos refratários a experimentar linguagens inovadoras.
O curioso é perceber que na
mostra do primeiro andar a estética dominante ainda presta
um tributo a essas práticas. O
fazer fotográfico dos fotoclubes
parece irremediavelmente
atrelado a uma linguagem que
sofre pouca variação no tempo.
A ruptura se tornou tradição.
Estará nos fotoblogs, uma reconfiguração dos fotoclubes na
era tecnológica, a possibilidade
de novas rupturas?
MOSTRA FOTOCLUBISMO BRASILEIRO
Quando: abertura hoje, com mesa-redonda das 14h às 17h; a mostra
prossegue até 23 de julho, de ter. a
dom., das 12h às 20h
Onde: MIS - Museu da Imagem e do
Som (av. Europa, 158, Jardim Europa, SP, tel. 0/xx/11/3062-9197)
Quanto: entrada franca
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