São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007 |
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Jiu-jítsu brasileiro em Holywood Aluno de artes marciais de um professor paulista, o cultuado diretor norte-americano David Mamet filma "Redbelt", sobre disputas no ringue; Rodrigo Santoro está no elenco
SÉRGIO RIZZO ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES A boa acústica da arena e o silêncio respeitoso entre as centenas de pessoas trabalhando ali permitem que sejam ouvidas algumas palavras em português. "Porrada", por exemplo -repetida inúmeras vezes durante uma cena de luta refeita à exaustão. O diretor -de óculos, touca, corpo atarracado e voz que dispensa o uso de megafone- circula pelo set vestindo uma jaqueta amarela com listras verdes e, nas costas, a inscrição "Brasil". Fala com um técnico, dá um soco carinhoso em outro, se agarra a um terceiro. Entre os figurantes que dividem a arquibancada com bonecos cenográficos, gente com bandeirinhas verde-amarelas. No centro da quadra de esportes, um ringue. Em uma das entradas, um banner gigante anuncia o desafio entre dois lutadores de jiu-jítsu, o japonês Morisaki e o brasileiro Silva. Além do cinturão vermelho reservado ao campeão, um deles levará boa parte dos US$ 50 mil em prêmios oferecidos pelos patrocinadores. O cenário poderia muito bem ser o Maracanãzinho durante as filmagens de uma produção nacional sobre a família Gracie, mas é o ginásio em forma de pirâmide da California State University, em Long Beach (EUA), decorado para uma seqüência-chave de "Redbelt" (cinturão vermelho), novo filme do diretor, roteirista e dramaturgo norte-americano David Mamet, previsto para estrear no ano que vem. Sim, o mesmo que escreveu peças referenciais para o teatro contemporâneo dos EUA (como "Perversidade Sexual em Chicago", "American Buffalo" e "Glengarry Glen Ross"), assinou o roteiro de filmes como "Os Intocáveis", "Tio Vânia em Nova York" e "Mera Coincidência", e dirigiu "As Coisas Mudam", "Oleanna" e "Cadete Winslow". O que faz Mamet no meio de um longa-metragem de ação sobre o "brazilian jiu-jítsu"? Diverte-se um bocado, a julgar pelos dois dias de filmagens que a Folha acompanhou, no início de junho -exaustivas jornadas de trabalho que começaram no início da manhã e só foram terminar no final da noite, com um breve intervalo para almoço. Embora fosse a terceira semana de filmagens nesse ritmo intenso, ninguém ali parecia inclinado a reclamar. Estar em "um filme de David Mamet", qualquer que seja o assunto, é a razão principal invocada por atores e técnicos para aceitar os salários -calculados de acordo com tabelas sindicais- e a correria de uma produção de baixo orçamento. "Baixo", claro, de acordo com os padrões de Hollywood: cerca de US$ 10 milhões, segundo estimativas da indústria, ou mais do que o dobro dos filmes mais caros atualmente em fase de captação de recursos no Brasil. "Low budget" nos EUA é uma produção em que você encontra Rodrigo Santoro e Emily Mortimer durante o almoço no refeitório improvisado em tendas gigantes ao lado do ginásio, mas esse "bandejão" atende a cerca de 400 pessoas -e as filmagens usam três câmeras simultâneas. Paixão pelo jiu-jítsu Por que Mamet se diverte tanto? Entre outras coisas, porque ele adora jiu-jitsu ou, como faz questão de diferenciar, o "brazilian jiu-jitsu", que pratica há alguns anos. Seu professor, o paulista Renato Magno, é consultor de "Redbelt". Santoro e John Machado (lutador que interpreta o Silva do banner gigante) são alguns dos demais responsáveis por transformar o português no segundo idioma mais falado durante as filmagens. "Comentei com meus amigos da Sony Classics [subsidiária do grupo Sony/Columbia que produz e lança filmes diferenciados para público mais restrito] que esse era um bom universo para um longa-metragem, que até agora ninguém havia feito algo assim, e eles me deram sinal verde", explica o diretor, que também assina o roteiro. A certa altura, depois de explicar a Machado e ao ator inglês Chiwetel Ejiofor como coreografar uma cena de luta, atracando-se ele mesmo com cada um deles, Mamet pendura a jaqueta em sua "cadeira de diretor" diante dos monitores pelos quais confere as imagens das câmeras. Na camiseta escura que usa, a inscrição "Machado Brazilian Team -John Machado- Brazilian Jiu-jitsu". Se o pessoal abrir uma igreja, ele senta na primeira fileira. O jornalista SÉRGIO RIZZO viajou a convite da Sony Pictures Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: O ator: Santoro vive empresário de lutador Índice |
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