São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Mutantes terão disco de inéditas neste ano

Banda lança em setembro, nos EUA, álbum sem previsão de chegada ao país

"Haih", primeiro trabalho com canções originais em 35 anos, tem os remanescentes Sérgio Dias e Dinho Leme e participação de Tom Zé


TARSO ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na natureza, as mutações são um fenômeno essencial para a sobrevivência das espécies. Para Os Mutantes -que, em 8 de setembro, lançam "Haih", seu primeiro disco de inéditas depois de "Tudo Feito Pelo Sol" (1974)-, não é diferente.
Após as saídas de Arnaldo Baptista e Zélia Duncan, em setembro de 2007, Sérgio Dias e o baterista Dinho Leme, remanescentes da formação tradicional, promoveram a banda da última turnê à condição de mutantes de fato.
A recente mutação, no entanto, não tem previsão para lançar o disco ou fazer um show em sua terra natal. A Sony, que lançou em 2006 o CD e DVD "Os Mutantes ao Vivo", tinha preferência para lançar o próximo disco da banda, mas decidiu não investir no projeto.
"Quando disse que faríamos um disco novo, a Sony não acreditou e decidi não perder tempo com eles", explica Dias.
Com o álbum gravado e mixado, a banda assinou contrato com a Anti- -gravadora americana de artistas como Booker T. e Tom Waits.
Além de promover o disco nos EUA, a Anti- está sublicenciando sua exploração por gravadoras na Europa e na Ásia, o que faz Dias considerar 8 de setembro a data de lançamento mundial, apesar de não haver nada previsto para o Brasil.
"Até agora, nenhuma grande gravadora nacional se interessou pelo álbum. Então estamos à espera de uma boa proposta, porque ele tem potencial", diz Júlio Quattrucci, produtor da banda.
E Os Mutantes não temem que os fãs brasileiros tenham de recorrer ao download ilegal para ouvir as novas músicas?
"É muito chato, porque as pessoas perdem a oportunidade de viver sua relação com a banda que amam. O.K., eles vão baixar pela internet, mas não é a mesma coisa", lamenta Dias.

Em busca do novo
Nas faixas do álbum que os brasileiros não verão nas lojas, em setembro, os fãs podem esperar um som fiel ao espírito experimental e inovador que marcou a banda a partir do final dos anos 60.
"Cada vez que a gente tocava alguma coisa com a sensação de que "isso aqui eu já ouvi", [ia para o] lixo", comenta Dias.
O álbum terá 11 músicas e participações de dois velhos companheiros de tropicalismo.
Jorge Ben Jor cedeu "O Careca", a pedido de Dinho Leme, que tocava com ele antes de ir para Os Mutantes, em 1969.
Tom Zé canta em "Anagrama" e é o parceiro mais constante nas composições.
"Desde que nos encontramos para o show do aniversário de São Paulo, a gente se ligou e foi um estalo", afirma Dias.
O estalo rendeu parceria em seis músicas do disco. Tom Zé agora é um semiMutante? "Sempre foi. Ou nós é que sempre fomos um semiTom Zé".
Entre as parcerias com o tropicalista está "Querida, Querida", que a Folha ouviu a banda ensaiar, enquanto esperava a entrevista (leia letra ao lado).
A canção é um rock pouco convencional, de refrão forte, que repete o título da canção no fim de cada verso. Apesar do "querida", o tom é de apelo, sôfrego, nada de carinho.
Em outra música do novo álbum ouvida no ensaio, "Gopala Krishna Om", o vocal distorcido tem um clima fantasmagórico e um instrumento indiano completa o "clima" inusitado.
"Quem ouvir vai encontrar Os Mutantes, mas os do século 21", conclui Dias. Que venha, então, o futuro.


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