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Mutantes terão disco de inéditas neste ano
Banda lança em setembro, nos EUA, álbum sem previsão de chegada ao país
"Haih", primeiro trabalho com canções originais em 35 anos, tem os remanescentes Sérgio Dias e Dinho Leme e participação de Tom Zé
TARSO ARAUJO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na natureza, as mutações são
um fenômeno essencial para a
sobrevivência das espécies. Para Os Mutantes -que, em 8 de
setembro, lançam "Haih", seu
primeiro disco de inéditas depois de "Tudo Feito Pelo Sol"
(1974)-, não é diferente.
Após as saídas de Arnaldo
Baptista e Zélia Duncan, em setembro de 2007, Sérgio Dias e o
baterista Dinho Leme, remanescentes da formação tradicional, promoveram a banda da
última turnê à condição de mutantes de fato.
A recente mutação, no entanto, não tem previsão para
lançar o disco ou fazer um show
em sua terra natal. A Sony, que
lançou em 2006 o CD e DVD
"Os Mutantes ao Vivo", tinha
preferência para lançar o próximo disco da banda, mas decidiu
não investir no projeto.
"Quando disse que faríamos
um disco novo, a Sony não acreditou e decidi não perder tempo com eles", explica Dias.
Com o álbum gravado e mixado, a banda assinou contrato
com a Anti- -gravadora americana de artistas como Booker
T. e Tom Waits.
Além de promover o disco
nos EUA, a Anti- está sublicenciando sua exploração por gravadoras na Europa e na Ásia, o
que faz Dias considerar 8 de setembro a data de lançamento
mundial, apesar de não haver
nada previsto para o Brasil.
"Até agora, nenhuma grande
gravadora nacional se interessou pelo álbum. Então estamos
à espera de uma boa proposta,
porque ele tem potencial", diz
Júlio Quattrucci, produtor da
banda.
E Os Mutantes não temem
que os fãs brasileiros tenham
de recorrer ao download ilegal
para ouvir as novas músicas?
"É muito chato, porque as
pessoas perdem a oportunidade de viver sua relação com a
banda que amam. O.K., eles vão
baixar pela internet, mas não é
a mesma coisa", lamenta Dias.
Em busca do novo
Nas faixas do álbum que os
brasileiros não verão nas lojas,
em setembro, os fãs podem esperar um som fiel ao espírito
experimental e inovador que
marcou a banda a partir do final
dos anos 60.
"Cada vez que a gente tocava
alguma coisa com a sensação de
que "isso aqui eu já ouvi", [ia para o] lixo", comenta Dias.
O álbum terá 11 músicas e
participações de dois velhos
companheiros de tropicalismo.
Jorge Ben Jor cedeu "O Careca", a pedido de Dinho Leme,
que tocava com ele antes de ir
para Os Mutantes, em 1969.
Tom Zé canta em "Anagrama" e é o parceiro mais constante nas composições.
"Desde que nos encontramos
para o show do aniversário de
São Paulo, a gente se ligou e foi
um estalo", afirma Dias.
O estalo rendeu parceria em
seis músicas do disco. Tom Zé
agora é um semiMutante?
"Sempre foi. Ou nós é que sempre fomos um semiTom Zé".
Entre as parcerias com o tropicalista está "Querida, Querida", que a Folha ouviu a banda
ensaiar, enquanto esperava a
entrevista (leia letra ao lado).
A canção é um rock pouco
convencional, de refrão forte,
que repete o título da canção
no fim de cada verso. Apesar do
"querida", o tom é de apelo, sôfrego, nada de carinho.
Em outra música do novo álbum ouvida no ensaio, "Gopala
Krishna Om", o vocal distorcido tem um clima fantasmagórico e um instrumento indiano
completa o "clima" inusitado.
"Quem ouvir vai encontrar
Os Mutantes, mas os do século
21", conclui Dias. Que venha,
então, o futuro.
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