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CRÍTICA TEATRO
Montagem de Freire-Filho faz Shakespeare acessível a todos
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
Encenar Shakespeare é
trazer as paixões humanas à
luz. A montagem de "Macbeth" de Aderbal Freire-Filho
cumpre honrosamente esta
missão. Mas não é o trabalho
mais inspirado do diretor,
nem entra para a antologia
de montagens do bardo no
Brasil.
Como no seu "Hamlet" recente, ele colaborou na tradução do texto garantindo
não só que os versos soem
em bom português, como,
principalmente, que as cenas
que eles carregam se explicitem completamente. É uma
fidelidade às práticas do teatro elisabetano, em que as falas dos atores alcançavam
iletrados e nobres.
Outro ponto forte, que favorece a narrativa, é o espaço
cênico armado a partir da cenografia de Fernando Mello
da Costa, que se estrutura em
quatro grandes praticáveis a
funcionar como palcos.
Eles se destacam ora como
adereços, como nas cenas
em que se tornam mesas, ora
como extensões do palco
principal, quando nos duelos de espadas os atores aparecem isolados neles e o confronto é sugerido numa perspectiva distanciada.
O resgate das características épicas do teatro shakesperiano aparece também nas
entradas e saídas de cena em
que, com as coxias escancaradas, se percebe os atores
assumindo e deixando os
personagens.
Esta estratégia justificaria
a opção por um ator como
Daniel Dantas para o papel
do vigoroso general Macbeth. Mesmo assim, a despeito do coloquialismo do intérprete favorecer, falta-lhe a
energia física que o personagem demanda e um estranhamento não produtivo
percorre sua participação.
No papel de Lady Macbeth, Renata Sorrah se sai
melhor e consegue traduzir
as oscilações da personagem
com mais nuances.
Não é fácil montar "Macbeth" e Aderbal Freire-Filho
fez suas opções com honestidade artística. Se não foi sua
criação mais feliz, traz um
Shakespeare para todos.
MACBETH
QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom.,
às 18h; até 18/7
ONDE Sesc Pinheiros (r. Paes Leme, 195, tel. 0/xx/11/3095-9400)
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom
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