São Paulo, quarta, 24 de junho de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Aumento do tumor foi superior a 100% apenas na última semana, diz médico

da Reportagem Local

Apenas na última semana, o tumor de Askin que atacava o cantor Leandro teve um aumento maior que 100%. "Dava para ver quase a olhos vistos", afirmou ontem à Folha o médico oncologista Cláudio Petrilli, da equipe do hospital São Luiz.
"A despeito da quimioterapia, o tumor mais que dobrou de tamanho. Não dá para saber em números exatos, mas todas as veias e artérias que saíam do coração estavam sendo comprimidas", explicou Petrilli.
"Todos os órgãos superiores de Leandro, inclusive o cérebro, deixaram de receber o sangue necessário para o seu funcionamento. Por isso, foi uma falência de múltiplos órgãos."
Para ter uma idéia da velocidade de expansão do tumor -e de sua extrema violência-, até a prótese ("stent") instalada na veia cava superior do cantor já estava amassada.
O "stent", composto de uma liga metálica, havia sido colocado na quinta-feira, exatamente para garantir que a veia não fosse comprimida. "Ficou deformado em apenas quatro dias", disse Petrilli.
Na segunda-feira, o pulmão direito de Leandro já estava completamente esmagado pelo tumor. Segundo Petrilli, o câncer já ocupava "quase toda a cavidade torácica direita e estava invadindo outros espaços".
O oncologista, que cuidou de Leandro desde 12 de maio, quando o cantor se internou no hospital São Luiz após voltar dos Estados Unidos, afirmou que a última sessão de quimioterapia não conseguiu sequer conter o crescimento do tumor.
As duas drogas quimioterápicas usadas nessa terceira e última fase do tratamento se chamam cisplatina e etoposídeo. São bem mais fortes que as cinco drogas usadas anteriormente nas duas primeiras sessões.
Tumor raro
O tumor de Askin que ocasionou a morte do cantor Leandro é raro em crianças e raríssimo em adultos. Não existem sequer dados estatísticos de cura, já que o número de casos é muito pequeno.
No caso das crianças portadoras, existe uma estatística de cura de 30% a 40%. Mas, pela falta de exemplos médicos, esses resultados não podem ser transpostos para os adultos.
Em suas duas décadas de trabalho como cirurgião, Rodrigues tratou de cinco crianças e apenas um adulto, de 24 anos. Das crianças, duas sobreviveram.
Já o adulto está atualmente em tratamento quimioterápico e radioterápico. Ele apresenta metástase (evolução do tumor) no pulmão, pleura, omoplata e cérebro.
Causas
Askin é um tumor de células primitivas neuroectodérmicas, o que não quer dizer que é congênito, como havia sido afirmado pela equipe médica de Leandro na ocasião da divulgação do tumor.
Essas células estão presentes em todo ser humano e dão origem às células nervosas no desenvolvimento embrionário. São células do sistema nervoso periférico.
A diferença é que, em certo momento da vida de algumas pessoas, essas células começam a se reproduzir e originam o tumor.
Provavelmente, o fenômeno se deve a alguma causa externa, que pode ser o fumo, um vírus, um contato com agrotóxico ou irradiações.
Porém, não existiam condições de dizer qual foi o fator desencadeante no caso do Leandro.
"São estudos populacionais. O que posso dizer é que por ser fumante ele é de uma população de maior risco, mas não posso dizer que ele desenvolveu o tumor porque fuma", afirmou a oncologista Maria Lydia de Andrea, que tratou do cantor.
Excesso de zelo
Apesar de o tumor poder ser diagnosticado no Brasil, o hospital São Luiz insistiu em mandar o cantor para o Johns Hopkins Hospital, em Baltimore. Talvez por excesso de precaução.
O resultado foi que o tumor de Leandro triplicou de tamanho entre sua primeira internação no São Luiz (27 de abril) e sua volta dos Estados Unidos (12 de maio).
Depois desse aumento, quando o tumor atingiu 2/3 da cavidade torácica direita, a equipe médica brasileira conseguiu uma redução de 20% do tumor com a primeira sessão de quimioterapia.
Mas, segundo outros oncologistas, para que essa diminuição fosse motivo de comemoração -como foi-, ela deveria ser de pelo menos 50%.
A partir de então, Leandro não obteve mais melhoras significativas em seu quadro clínico.
Além desse impasse, a assessoria de imprensa do hospital São Luiz divulgou que o oncologista Cláudio Petrilli mantinha videoconferências diárias com o médico americano David Ettinger, que diagnosticou o tumor de Leandro em Baltimore. Entretanto, nem Ettinger nem Petrilli confirmaram a informação.
Após a saída de Leandro do hospital Johns Hopkins, há seis semanas, os médicos se falaram apenas duas vezes, e por telefone.
Na primeira, em 20 de maio, Petrilli comunicou a redução de 20% no tamanho do tumor. Na segunda vez, quinta-feira passada, o brasileiro avisou que estava iniciando a terceira sessão de quimioterapia.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.