São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2000


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MARINA LIMA
Cantora deve lançar disco ao vivo a partir da nova turnê, para "retribuir elegantemente" à gravadora
"Estou interessada em ocupar meu lugar, que está lá"

DO ENVIADO AO RIO

No pique da volta, Marina Lima admite o que considera uma solução de consenso com sua gravadora, Universal: o lançamento de um disco ao vivo fundado no show que estréia nesta semana em Minas Gerais.
"Eles foram cavalheiros na crise, tenho de retribuir elegantemente. Não estou com essa bola com eles para negar", justifica. Na continuação da entrevista, fala sobre o show e o possível CD ao vivo.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

Folha - A Universal sabia de seus problemas quando a contratou? Marina - Eles não sabiam. Não posso reclamar de nada. Eu era de lá antes de ir para a EMI, eles têm muito respeito por mim. Acho que perceberam que não ia ter jeito, que algo estranho estava acontecendo e não adiantava fazer pressão, porque não ia rolar. Eles foram cavalheiros. Quiseram saber, mas não pressionaram.

Folha - Há disco novo em pauta?
Marina -
Acho que eles vão querer gravar um disco ao vivo deste show. Para mim não é má idéia, porque o show está muito bom. É dele que talvez venha o disco, se for o caso. Não vou dizer "não, não quero", até porque não estou com essa bola com eles para negar. Tenho de retribuir de alguma maneira, elegantemente.

Folha - O que aconteceu com o selo que você tinha?
Marina -
Tenho muita visão de carreira, da minha ou de pessoas com quem me identifico musicalmente. Como eu sentia que não ia poder continuar naquele momento, quis ajudar outras pessoas. Mas dá tanto trabalho, as coisas não dão certo, a gravadora cobra... O selo está lá, mas deixa eu me sentir com fôlego para começar a cuidar das coisas como acredito. (Enrique Diaz passa e oferece uma pastilha. Marina brinca: "É para a garganta? Não preciso disso, imagina".)

Folha - Quando ensaia, o que você sente da sua voz? Ela está 100%?
Marina -
Está. Minha voz voltou. Voltei a praticar técnica vocal, para esquentar a musculatura para o show. Está melhor a cada dia, voz é como ginástica. Estou contente de poder voltar a mostrar um trabalho em que acredito.
A maioria dos artistas hoje em dia tem bandas de 13, 14 integrantes. Não gosto, minha banda somos eu e mais cinco. Aprendi a não ter medo dos silêncios, a gostar do vazio, a só colocar elementos quando eles têm de estar ali.
Isso a música eletrônica me ensinou muito. Essa coisa do mundo moderno não é decadente, é toda uma outra sonoridade. Gosto muito disso. Neguinho chama de bate-estaca... Ela é feita de poucos sons, mas muito fortes. O que interessa é a frequência dos sons, os sons graves. Gosto dos silêncios, dos vazios. Isso minha ida ao deserto me trouxe.

Folha - Como é voltar a um mercado que vem mudando rapidamente? Você terá de se readaptar?
Marina -
Eu, não. Não tenho obrigação de me inserir em nada. Meu trabalho existe. Quem o acompanha desde o início vai entender. Existe um lugar para esse trabalho, talvez não o dos 2 milhões de cópias. Mas não é com isso, também, que estou preocupada. Estou interessada em ocupar o meu lugar, que está lá. Minha tribo foi aumentando com o tempo. Se eu continuar agindo de acordo com minha bússola interna, vão lá ver. Não estou voltando calçada no sucesso de ontem, há poucos sucessos antigos no show.

Folha - É que no mercado atual uma artista como Daniela Mercury, por exemplo, sofre por não ser popularesca o suficiente para o que a MPB virou, nem sofisticada o suficiente para um nicho específico.
Marina -
Não quero falar desse ou daquele artista, mas quem tem talento não tem de ficar preocupado correndo atrás. Essas crises e dúvidas são maravilhosas para o artista. À beira do abismo, estamos prestes a voar, como cantei em minha música. O artista tem de se renovar, não para seguir uma tendência, mas para colocar seu trabalho na altura dele.
Um verdadeiro criador tem de confiar até nessas crises. Muito sabiamente, parei de cantar, fui para o deserto. E voltei fascinada com os oásis que encontrei, louca para contar, para falar até sobre a crise que vivi com certo humor, de forma positiva. Vai haver isso no show. Vão estar lá a crise, o humor, as dúvidas, autocrítica, autodeboche. Não quero vender crise.

Folha - Você não sente que o Brasil passou da beira do abismo, que já caiu nele de vez?
Folha -
Não quero ser pessimista, mas estamos num buraco muito difícil de sair. A gente está em depressão (ri). Precisamos de uma comissão de médicos para sarar essa história. Mas a música é uma linguagem em que estamos na altura do resto do mundo. Por acaso, é onde trabalho.


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