São Paulo, terça-feira, 24 de julho de 2007

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FERNANDO BONASSI

Necrológio


A verdade é que foram eleitos, mas terminam por se sentirem ungidos e protegidos das leis

COMO EU sei que mais dia menos dia isto também vai lhes acontecer, resolvi me adiantar...
Para começar, preciso esclarecer: está na hora de deitar. Sim, meus caros, suas podridões estão dando o que cheirar e os abutres já se encontram adejando pelo altar, discursando de prazer, fazendo um luto compungido e votando sem constrangimento para pegar vosso lugar...
Vosso lugar é o de todos os que foram votar, mas só uns poucos podem se sentar para mandar, não é mesmo?
E nos mandam com tanto gosto e por tanto tempo permanecem sentados que passam por hereditários, conferindo aos filhos legítimos e bastardos as mamatas esplêndidas de seus cargos, para que a família reunida em comunhão de negócios privados dê os seus golpes de Estado no patrimônio lesado da União.
A propósito disso: se os cargos que vocês oferecessem fossem de confiança realmente, não prestariam os serviços pelos ares de suas graça os seus parentes? O raciocínio parece saber que a confiança que inspiram em uns e outros têm seu preço...
Vocês fizeram os seus acertos, mas não era o combinado. O combinado era que representassem nossos interesses coletivos, e não que os desgastassem com verbas de representação pessoal, quando vossos "eus" não deveriam valer nada dessa pompa que ostentam onde as pombas deveriam se aliviar.
O odor é péssimo de aspirar!
E agora vocês tentam de todas as formas permanecer. Vocês escolheram se esconder na legislação penal e emagrecerem lentamente suas condenações com a dietética venenosa da democracia. Muito bem. Essa é a ética que promovem quando se elegem autoridades cujos prontuários dariam o que falar aos malandros indignados dos partidos dos condenados às cadeias.
A verdade é que foram eleitos, mas terminam por se sentir ungidos e protegidos das leis com as leis de exceção que se aprontam pelo meio dos descaminhos.
Não foi sempre assim, é claro, mas as informações disponíveis sobre os seus passados não medem o tamanho de suas trajetórias, que não são pequenas nem cheias de glórias, mas exemplares dentre as mais óbvias, já que decidiram pelo atraso, como todos os outros...
São 500 anos dessa História...
Todos queriam transformar e participar, mas vocês participaram ativamente foi na reforma inconseqüente que deixa tudo em seu lugar.
Esse foi o vosso tempo.
Essa nossa geração não fez mais que deixar "rolar" para ver como poderia ficar e no que daria para acontecer, sendo que o que aconteceu foi... Uma... Um...
O que foi que aconteceu mesmo?!
Assim, para que nos precavêssemos do nada que a tudo vocês fazem contagiar e pudéssemos evitar-lhes no pior para melhorar, fui buscar nos links dos sites, nas pastas dos arquivos e nas páginas dos livros algumas formas de lhes retratar...
Acontece que é impossível.
Vocês aparecem diferentes em cada parte, como se tivessem mil pedaços indiferentes, ou faces ambíguas, ofertadas para tapas e beijos de acordo com as circunstâncias.
As circunstâncias pioram a cada dia que deveríamos ter passado sem vocês, ter dito a coragem de dar um basta, arregaçar as mangas do que pensamos que é certo fazer... Mas somos da mesma laia e ficamos aqui parados, apesar das vaias que provocam e da carniça que exalam os moribundos de seus tipos.
Vocês aprenderam errado, é claro, mas a educação pública que lhes ofertaram é produto do mesmo blefe da importância que lhes conferiram... "Conferiram-lhes numas coisas, mas não lhes conferiram noutras, malandros!" E os seus manos mais ou menos nem parecem preocupados com isso!
Vejam só, meus queridos, aqui onde eu vivo, quem não confere é transferido, esquecido ou apagado do convívio social...
Mas nós (os sem imunidades fascistas e foros privilegiados ditatoriais) temos esse mau gosto, ou desgosto, de vivermos num mundo louco, miserável e real...
Os livros de história. Não estes de agora, escritos pelos amigos mais simpáticos e inimigos mais severos, mas aqueles outros mais distantes, decentes e definitivos, haverão de fazer justiça à profunda contaminação de injustiça que vocês praticam a cada dia que não passam.
Em tempo: "profundos" mesmo vocês nunca foram, mas não é preciso cavar mais que sete palmos de terra para começar a encontrar vosso legado.
Muito obrigado. Meus pêsames e aquele abraço.


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