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FERNANDO BONASSI
Necrológio
A verdade é que foram eleitos, mas terminam por se sentirem ungidos e protegidos das leis
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COMO EU sei que mais dia
menos dia isto também vai
lhes acontecer, resolvi me
adiantar...
Para começar, preciso esclarecer:
está na hora de deitar. Sim, meus caros, suas podridões estão dando o
que cheirar e os abutres já se encontram adejando pelo altar, discursando de prazer, fazendo um luto compungido e votando sem constrangimento para pegar vosso lugar...
Vosso lugar é o de todos os que foram votar, mas só uns poucos podem se sentar para mandar, não é
mesmo?
E nos mandam com tanto gosto e
por tanto tempo permanecem sentados que passam por hereditários,
conferindo aos filhos legítimos e
bastardos as mamatas esplêndidas
de seus cargos, para que a família
reunida em comunhão de negócios
privados dê os seus golpes de Estado
no patrimônio lesado da União.
A propósito disso: se os cargos que
vocês oferecessem fossem de confiança realmente, não prestariam os
serviços pelos ares de suas graça os
seus parentes? O raciocínio parece
saber que a confiança que inspiram
em uns e outros têm seu preço...
Vocês fizeram os seus acertos,
mas não era o combinado. O combinado era que representassem nossos interesses coletivos, e não que os
desgastassem com verbas de representação pessoal, quando vossos
"eus" não deveriam valer nada dessa
pompa que ostentam onde as pombas deveriam se aliviar.
O odor é péssimo de aspirar!
E agora vocês tentam de todas as
formas permanecer. Vocês escolheram se esconder na legislação penal
e emagrecerem lentamente suas
condenações com a dietética venenosa da democracia. Muito bem. Essa é a ética que promovem quando
se elegem autoridades cujos prontuários dariam o que falar aos malandros indignados dos partidos dos
condenados às cadeias.
A verdade é que foram eleitos, mas
terminam por se sentir ungidos e
protegidos das leis com as leis de exceção que se aprontam pelo meio
dos descaminhos.
Não foi sempre assim, é claro, mas
as informações disponíveis sobre os
seus passados não medem o tamanho de suas trajetórias, que não são
pequenas nem cheias de glórias,
mas exemplares dentre as mais óbvias, já que decidiram pelo atraso,
como todos os outros...
São 500 anos dessa História...
Todos queriam transformar e participar, mas vocês participaram ativamente foi na reforma inconseqüente que deixa tudo em seu lugar.
Esse foi o vosso tempo.
Essa nossa geração não fez mais
que deixar "rolar" para ver como poderia ficar e no que daria para acontecer, sendo que o que aconteceu
foi... Uma... Um...
O que foi que aconteceu mesmo?!
Assim, para que nos precavêssemos do nada que a tudo vocês fazem
contagiar e pudéssemos evitar-lhes
no pior para melhorar, fui buscar
nos links dos sites, nas pastas dos arquivos e nas páginas dos livros algumas formas de lhes retratar...
Acontece que é impossível.
Vocês aparecem diferentes em cada parte, como se tivessem mil pedaços indiferentes, ou faces ambíguas,
ofertadas para tapas e beijos de
acordo com as circunstâncias.
As circunstâncias pioram a cada
dia que deveríamos ter passado sem
vocês, ter dito a coragem de dar um
basta, arregaçar as mangas do que
pensamos que é certo fazer... Mas
somos da mesma laia e ficamos aqui
parados, apesar das vaias que provocam e da carniça que exalam os moribundos de seus tipos.
Vocês aprenderam errado, é claro,
mas a educação pública que lhes
ofertaram é produto do mesmo blefe da importância que lhes conferiram... "Conferiram-lhes numas coisas, mas não lhes conferiram noutras, malandros!" E os seus manos
mais ou menos nem parecem preocupados com isso!
Vejam só, meus queridos, aqui onde eu vivo, quem não confere é
transferido, esquecido ou apagado
do convívio social...
Mas nós (os sem imunidades fascistas e foros privilegiados ditatoriais) temos esse mau gosto, ou desgosto, de vivermos num mundo louco, miserável e real...
Os livros de história. Não estes de
agora, escritos pelos amigos mais
simpáticos e inimigos mais severos,
mas aqueles outros mais distantes,
decentes e definitivos, haverão de
fazer justiça à profunda contaminação de injustiça que vocês praticam
a cada dia que não passam.
Em tempo: "profundos" mesmo
vocês nunca foram, mas não é preciso cavar mais que sete palmos de
terra para começar a encontrar vosso legado.
Muito obrigado. Meus pêsames e
aquele abraço.
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