São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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"Não há apostas, tem lugar para tudo na prateleira"

Jovens reclamam de crítica "diplomática demais" e discutem "Bienal do Vazio'

"Essa proposta ["Bienal do Vazio'] pode ficar muito restrita a um público do mundo da arte", afirma Naiah Mendonça

DA REPORTAGEM LOCAL

Leia a continuação da conversa da Folha com Henrique Oliveira, Tatiana Blass, Paulo Almeida e Naiah Mendonça.
(MARIO GIOIA e SILAS MARTÍ)

 

QUALIDADE DA PRODUÇÃO

NAIAH MENDONÇA
- Há muitos amigos meus com ansiedade para produzir, porque há data para entregar, tem de ter assistente, um ateliê maior. Às vezes isso enfraquece o trabalho. Há um tempo da vivência para o artista, não só ficar no ateliê.

TATIANA BLASS - A gente está vivendo essa produção muito extensa. Nada passou ainda pelo filtro da história, a gente está vendo tudo. Tem um monte de porcaria, um monte de coisa legal, é difícil discernir.

PAPEL DA CRÍTICA

BLASS
- Parece que não se pode colocar hierarquia para nada. Acho importante valorizar e pensar o lugar das coisas. Acho tudo diplomático demais. Faltam apostas, alguém pegar e falar: "Olha, esse artista é em quem acredito, quero fazer uma sala desse cara e mostrá-lo por inteiro". Não pôr uma obra de cada, tudo espalhado.

HENRIQUE OLIVEIRA - Não há mais apostas como antes, as coisas evoluíram a um ponto em que há lugar para tudo na prateleira. A gente dá entrevista a um jornal e nem vê tanta crítica nele. Vê muita matéria, mas crítica e debate há pouco. Nunca vejo críticos indo aos ateliês.

BIENAL DO VAZIO

PAULO ALMEIDA
- Acho que é difícil um questionamento da instituição nesse momento. Deveria ser questionado esse molde de exposição, se é válido ainda, mas não levar para uma questão política, que poderia ser resolvida internamente, não numa exposição.

BLASS - É tudo muito diluído, é muita produção, é muito tudo: megacoletivas com 200 artistas e uma obra de cada um, mas quanto isso vale? Acho que foi uma resposta possível para uma situação da instituição. Não tem como fechar os olhos para isso.

OLIVEIRA - Esse questionamento da Bienal perde a força por vir neste momento. A instituição passou por uma crise estrutural, ética. Uma "Bienal do Vazio" que tivesse a potência de ser cheia teria um efeito muito mais forte. É um pouco chover no molhado. Mas vou esperar, não criticarei antes da hora.

MENDONÇA - Acho que essa proposta de agora pode ficar muito restrita a um público muito do nosso meio, do mundo da arte, como ficou um pouco na Bienal passada. Não vejo isso como uma boa solução.

BLASS - Vejo bem a Bienal do Paulo Herkenhoff (ocorrida em 1998). Foi muito feliz ele chamar outros curadores para organizar grandes exposições lá dentro. Ia ver o Volpi, com curadoria do Lorenzo Mammì, ia ver Tarsila, com curadoria da Sonia Salzstein. Eu me questiono muito sobre só poder ter arte contemporânea na Bienal. Não entendo por que fechar dessa maneira.

FUTURO

MENDONÇA
- Sempre que faço um trabalho que dá supercerto, parece que aquele vai ser o último. Parece que não vou produzir nunca mais. Mas logo depois começo a fazer outro.

BLASS - A coisa de que tenho mais medo na vida é parar de trabalhar, não ter mais idéias. Tenho tantas no papel, que acho que ainda dão por mais uns dez anos [risos].

OLIVEIRA - Acho que muitas horas no computador fazem com que você sinta falta de colocar a mão na massa um pouco. São coisas da natureza humana o desenho, a pintura. Não tem como morrer. A própria tecnologia faz com que não morra isso. Na verdade, são essas discussões da morte da pintura que já morreram.

ALMEIDA - A pintura hoje em dia é mais um conceito que um suporte em si. Mas acho que a pintura não se esgota.


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