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CINEMA/ESTREIAS
Crítica/ "O Grupo Baader Meinhof"
Fita política descamba para a violência
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Com os filmes de Fassbinder, aprendemos a
captar uma imagem da
Alemanha, ou melhor, da insânia germânica no pós-guerra:
os resquícios do nazismo, a
consciência culpada da esquerda, a tendência à perversão.
Com os filmes de Uli Edel,
tendemos a não aprender nada,
basicamente porque eles não
chegam a nos transmitir uma
ideia de nada, mesmo quando
em suas mãos está um assunto
como "O Grupo Baader Meinhof", célebre grupo guerrilheiro (ou terrorista, conforme
o gosto) alemão que marcou os
anos 70 com ações que, vistas à
distância, impressionam pela
violência, claro, mas sobretudo
pelo que pode nos parecer um
absoluto cretinismo.
Sabemos que em determinados países (Alemanha, Itália) a
esquerda entrou em parafuso
após a efusão libertária do final
dos anos 60. Na Itália, Marco
Bellocchio fixou-se num único
acontecimento (o assassinato
de Aldo Moro) para criar a ideia
dos métodos e as ideias que levaram as Brigadas Vermelhas à
deriva, indo de partido político
a agrupamento de gângsteres,
em "Bom Dia, Noite" (2003).
Na Alemanha, Edel reproduz
a trajetória do Baader Meinhof
desde as primeiras revoltas estudantis da década de 1960 até
sua extinção, sem conseguir explicar qual o sentido do vínculo
que aponta entre um governo
conservador autoritário e a reação extremada que se seguiria.
Mais, Andreas Baader aparece como não mais que um temperamento transtornado, desde o início, o que torna impossível, também, compreender como teria seduzido a inteligente
jornalista Ulrike Meinhof.
Se fracassa em explicar os nexos entre política, pensamento
e ação armada naqueles anos,
bem como entre o passado e o
presente alemães, Edel não
economiza esforços para transformar seu filme num espetáculo descarado de violência.
Mais do que registrá-la (e ninguém ignora que aconteceu), o
filme se afirma como um esforçado cúmplice. E, se perversidade existe no estranho mundo
de terror do Baader Meinhof, o
filme parece mais um aliado
dessa perversidade do que uma
obra capaz de revelá-la.
Se é possível ter reservas a "O
Grupo..." no que diz respeito a
ideias, a filmagem não as desmente: mesmo no momento
em que registra a agonia do
grupo, não se divisa sombra de
originalidade ou força nas imagens. Com Uli Edel não aprendemos nada de significativo sobre a Alemanha, o neonazismo,
a esquerda ou a culpa. Só sobre
filmar mal -o que não deixa de
ser instrutivo.
O GRUPO BAADER MEINHOF
Direção: Uli Edel
Produção: Alemanha, 2008
Com: Martina Gedeck, Moritz Bleibtreu e Johanna Wokalek
Onde: a partir de hoje nos cines
Bristol, Cidade Jardim e Bombril
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim
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