São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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CINEMA/ESTREIAS

Crítica/ "O Grupo Baader Meinhof"

Fita política descamba para a violência

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Com os filmes de Fassbinder, aprendemos a captar uma imagem da Alemanha, ou melhor, da insânia germânica no pós-guerra: os resquícios do nazismo, a consciência culpada da esquerda, a tendência à perversão.
Com os filmes de Uli Edel, tendemos a não aprender nada, basicamente porque eles não chegam a nos transmitir uma ideia de nada, mesmo quando em suas mãos está um assunto como "O Grupo Baader Meinhof", célebre grupo guerrilheiro (ou terrorista, conforme o gosto) alemão que marcou os anos 70 com ações que, vistas à distância, impressionam pela violência, claro, mas sobretudo pelo que pode nos parecer um absoluto cretinismo.
Sabemos que em determinados países (Alemanha, Itália) a esquerda entrou em parafuso após a efusão libertária do final dos anos 60. Na Itália, Marco Bellocchio fixou-se num único acontecimento (o assassinato de Aldo Moro) para criar a ideia dos métodos e as ideias que levaram as Brigadas Vermelhas à deriva, indo de partido político a agrupamento de gângsteres, em "Bom Dia, Noite" (2003).
Na Alemanha, Edel reproduz a trajetória do Baader Meinhof desde as primeiras revoltas estudantis da década de 1960 até sua extinção, sem conseguir explicar qual o sentido do vínculo que aponta entre um governo conservador autoritário e a reação extremada que se seguiria.
Mais, Andreas Baader aparece como não mais que um temperamento transtornado, desde o início, o que torna impossível, também, compreender como teria seduzido a inteligente jornalista Ulrike Meinhof.
Se fracassa em explicar os nexos entre política, pensamento e ação armada naqueles anos, bem como entre o passado e o presente alemães, Edel não economiza esforços para transformar seu filme num espetáculo descarado de violência. Mais do que registrá-la (e ninguém ignora que aconteceu), o filme se afirma como um esforçado cúmplice. E, se perversidade existe no estranho mundo de terror do Baader Meinhof, o filme parece mais um aliado dessa perversidade do que uma obra capaz de revelá-la.
Se é possível ter reservas a "O Grupo..." no que diz respeito a ideias, a filmagem não as desmente: mesmo no momento em que registra a agonia do grupo, não se divisa sombra de originalidade ou força nas imagens. Com Uli Edel não aprendemos nada de significativo sobre a Alemanha, o neonazismo, a esquerda ou a culpa. Só sobre filmar mal -o que não deixa de ser instrutivo.



O GRUPO BAADER MEINHOF

Direção: Uli Edel
Produção: Alemanha, 2008
Com: Martina Gedeck, Moritz Bleibtreu e Johanna Wokalek
Onde: a partir de hoje nos cines Bristol, Cidade Jardim e Bombril
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim


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