São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011 |
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Questão gay evoluiu na TV, dizem estudiosos Para eles, isso estimula mudanças de opinião entre os espectadores Personagens gays dos programas humorísticos e lésbicas passam imunes aos vetos das emissoras COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DO RIO "Será que eles vão explodir os dois, como já aconteceu com outros casais?" A questão do antropólogo Sérgio Carrara, coordenador do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), é retórica. Ele mesmo diz que dificilmente a Globo usará em "Insensato Coração" uma solução extravagante para eliminar o par Eduardo e Hugo, como aconteceu com o casal lésbico de "Torre de Babel", de 1998. "Acho que é impossível, não é mais o momento. É quase inacreditável." A Folha ouviu estudiosos -da sexualidade, da televisão, das telenovelas- sobre a representação dos homossexuais nos folhetins da TV. Eles foram unânimes em apontar uma evolução, que acompanha e estimula mudanças na própria audiência. "A telenovela é um espaço de debate. De um modo geral, ela puxa a sociedade", diz a professora Maria Immacolata, coordenadora do Centro de Estudos de Telenovela da Universidade de São Paulo. Para o psiquiatra e coordenador do Ambulatório de Transtorno de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas de São Paulo, Alexandre Saadeh, a censura às cenas de afeto gay nas novelas é um desserviço. "Mostrar um beijo não é valorizar simplesmente os homossexuais mas promover a aceitação de uma diferença que é normal", diz. "Ver um casal de homens ou mulheres vivendo juntos e expressando afeto não transforma ninguém em homossexual", explica Saadeh. Por outro lado, ainda há claros sinais de conservadorismo do grande público, sinais a que as emissoras aludem -indiretamente e de forma velada- na hora de justificar as mudanças recentes nas tramas gays. "Ao mesmo tempo em que há o reconhecimento de direitos, é uma sociedade ainda muito conservadora e que tem forças que usam a questão da homossexualidade como marco de diferença no campo político", diz Carrara. GAYS AFETADOS E LÉSBICAS Dois tipos de personagem passam imunes aos vetos das TVs: gays afetados, do humor, e lésbicas. "A relação sexual entre mulheres faz parte do repertório erótico heterossexual", diz Carrara; isso explicaria o fato de o SBT ter mostrado um beijo lésbico em "Amor e Revolução", mas censurado cena idêntica com homens. Quanto aos gays afetados, típicos do núcleo humorístico, os especialistas afirmam que fazem parte da diversidade homossexual, mas que frequentemente são apenas veículos para a expressão de preconceitos. "É mais fácil debochar desse tipo de personagem porque ele tem a marca da diferença", explica Saadeh. "Incomoda mais um homossexual que não é afetado, ou tem trejeitos, porque fica mais difícil excluí-lo." Doutor em comunicação pela Universidade do Texas e autor de livros como "A Televisão no Brasil - 50 Anos de História", Sergio Mattos diz que a sociedade está "deixando a hipocrisia de lado" e que a aceitação "é questão de tempo". (ELISANGELA ROXO E MARCO AURÉLIO CANÔNICO) Texto Anterior: Emissoras no armário Próximo Texto: Opinião 1: Novelistas exageram na temática e perdem a mão Índice | Comunicar Erros |
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