|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DEBATE
Intelectuais discutem questões da atualidade, como o domínio dos Estados Unidos e o terrorismo, sob a ótica do temor
Medo é tema de congresso internacional
LUCIANA ARAUJO
DA REDAÇÃO
Começa hoje, em São Paulo, o
Congresso Internacional do Medo, no teatro da Aliança Francesa.
Idealizado pelo filósofo e jornalista Adauto Novaes, o encontro homônimo ao poema de Carlos
Drummond de Andrade, publicado em 1940, em "Sentimento do
Mundo", reúne 14 intelectuais estrangeiros e do Brasil para falar da
relação entre medo e política.
A questão do temor é abordada
neste ciclo de conferências como
um desdobramento do anterior,
"Civilização e Barbárie", realizado em 2002. Se a idéia de barbárie
ajuda a compreender o momento
atual, após os ataques terroristas
de 11 de setembro de 2001, ela ainda não o define.
"Afinal, a quantas anda a civilização ocidental?", pergunta Novaes, e é partir desse questionamento que ele chega ao tema do
encontro. "Não há nem uma área
sequer do conhecimento que não
esteja passando por um momento
de revisão", avalia. "O medo surge
porque já não é possível ver a crise
e suas dimensões", conclui Novaes, a partir da leitura de textos
de Paul Valéry (1871-1945) sobre
"a morte da civilização".
A professora de filosofia da Universidade de São Paulo (USP)
Marilena Chauí abre a série de palestras, que serão presididas por
grandes pensadores contemporâneos: Robert Stam, Étienne Klein,
Jean Delumeau, Jacques Rancière,
Marcelo Jasmin, Francis Wolff,
Maria Isabel Limongi, Nathalie
Frogneux, Luiz Alberto Oliveira,
Maria Rita Kehl, Abdelwahab
Meddeb, Paulo Sérgio Duarte,
Jorge Coli e João Luiz Vieira.
"O medo é mediado pela razão.
Sem o medo a humanidade não
existiria", diz Novaes, pontuando
o caráter positivo do sentimento,
aspecto que será abordado em
conferências como a da psicanalista Maria Rita Kehl e a da professora de antropologia filosófica da
Universidade Católica de Louvain
(Bélgica) Nathalie Frogneux.
"No entanto presenciamos a
passagem do medo para o terror,
em que não há mediação possível
ou qualquer noção de causa e efeito", continua. Sob essa perspectiva, Robert Stam, professor da
Universidade de Nova York, falará do terror usado como instrumento político pelo governo dos
Estados Unidos e pela extrema direita daquele país.
A diferenciação entre terror e
medo fica por conta da análise de
Jacques Rancière, professor no
departamento de filosofia da Universidade de Paris 8. Segundo ele,
o terror é uma nova configuração
da clássica relação entre paixão e
razão. "Ele faz os perigos do mundo indiscerníveis da angústia íntima de cada um. Institui os governos protetores, onipotentes e incapazes, donos de uma segurança
que ameaça a tudo e a nada."
Em sua conferência, Jean Delumeau, professor do Collège de
France, traça o percurso histórico
do medo. Se para as civilizações
anteriores a natureza era a principal fonte de preocupações, atualmente o homem parece ser o
maior perigo para a humanidade.
"A questão "quem tem medo de
quem?", aplicada aos séculos passados, conduz ao desenho de uma
linha de evolução de ontem a hoje
conforme os perigos a afrontar."
Deve-se ter medo da ciência?
Essa é a pergunta que Étienne
Klein, o físico francês, doutor em
filosofia e integrante do Comissariado de Pesquisa Atômica, busca
responder. "Os novos poderes da
ciência açoitam nossa imaginação, suscitando ao mesmo tempo
interrogações inéditas, associadas
aos novos temores."
Na abertura do congresso será
lançado o livro "Civilização e Barbárie" (Companhia das Letras,
342 págs.; R$ 52), organizado por
Adauto Novaes. A obra reúne textos originalmente produzidos para o congresso passado. Entre os
autores, estão o filósofo Newton
Bignotto, o atual presidente da
Radiobrás Eugênio Bucci, o cientista político Gabriel Cohn e o
mestre em sociologia e colunista
da Folha Marcelo Coelho.
O Congresso Internacional do
Medo acontece paralelamente no
Rio, no teatro Maison de France
(av. Pres. Antônio Carlos, 58, tel.
0/xx/21/3974-6699), e será realizado também em Curitiba, entre os
dias 18 e 23 de outubro, no Sesc da
Esquina, e no Rio Grande do Sul,
ainda sem data prevista.
O evento, que tem apoio da
Aliança Francesa de São Paulo e
patrocínio da Petrobrás, é aberto
a todos os interessados e é reconhecido como curso de extensão
universitária pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Recebem o certificado aqueles
que comparecerem a 75% das
conferências.
Texto Anterior: Música eletrônica: Underground Resistance expande "missão" ao Brasil Próximo Texto: Panorâmica - Cinema: Cinemateca abre espaço para curtas em SP Índice
|