São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2004

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ILUSTRADA

"O Grito" e "Madona", de Munch, só eram protegidos contra danos materiais; polícia diz que obras estão em Oslo

Quadros não tinham seguro contra roubo

DA REDAÇÃO

Os quadros "O Grito" e "Madona", de autoria do norueguês Edvard Munch (1863-1944), que foram roubados anteontem do museu que tem o seu nome em Oslo, não possuíam seguro contra roubo. Segundo especialistas, as duas obras alcançariam juntas um valor próximo a US$ 85 milhões, se fossem colocadas em leilão.
As duas pinturas estavam seguradas contra danos causados por fogo e água nos interiores do museu, mas o contrato com a companhia seguradora Oslo Forsikring AS não previa os casos de roubo e furto. Segundo a empresa, foi oferecida a adição dessa cláusula, mas a prefeitura da cidade de Oslo teria alegado que seria "muito caro" incluí-la.
O diretor do museu Munch, Gunnar Soerensen, justificou a opção por um contrato que excluía casos de roubo dizendo que era necessário um "equilíbrio entre segurança e acessibilidade. Se os quadros fossem colocados no seguro, seria inacessível para o público. E nós queremos ser um museu aberto".
"O Grito" e "Madona" foram roubados na manhã do domingo do museu Munch por um trio de ladrões. Visitantes e funcionários do museu foram dominados por dois homens que, após retirarem as pinturas da galeria, fugiram em um carro Audi roubado, onde a dupla era aguardada por um terceiro homem.
O carro foi encontrado em uma rua próxima ao museu, e os passos do grupo foram rastreados até um clube de tênis, cujas imagens de vídeo do circuito interno estão servindo como fonte nas investigações.
As outras pistas se baseiam em fotografias do momento do roubo no museu Munch e nas descrições de testemunhas. Segundo uma delas, os ladrões conversaram em norueguês, o que poderia indicar que a ação não foi feita por estrangeiros.
A polícia norueguesa trabalha hoje com três hipóteses: um roubo feito "a pedido", um "seqüestro" com objetivo de obter um resgate e uma ação espetacular para atrair a atenção para os autores do roubo.
O quadro "O Grito" tem três versões similares feitas pelo próprio pintor Edvard Munch. Um outro exemplar do trabalho foi roubado em fevereiro de 1994 da Galeria Nacional de Oslo e recuperado três meses depois. Até hoje, a polícia não descobriu os autores do crime.
Pela fama de "O Grito" -considerada a obra mais reproduzida no mundo-, o "mercado" para a comercialização da obra seria muito restrito. Mas, segundo Leif Lier, que atuou nas investigações do roubo da outra versão de "O Grito", "existem ricos excêntricos que gostariam de possuir um quadro como esse em suas coleções". "Não há mercado possível para tais obras. Essas pessoas roubaram os quadros como troféus", afirmou Charles Hill, detetive da Scotland Yard.
Segundo o jornal norueguês "Dagbladet", os ladrões cometeram uma série de erros em sua ação. Um deles se chocou contra uma porta de vidro, revelando desconhecer para que sentido ela se abria. De acordo com a polícia, os ladrões deixaram cair os quadros duas vezes durante a fuga.
A polícia afirma acreditar que as obras "provavelmente ainda estão em Oslo". A segurança nas fronteiras e nos aeroportos foi reforçada.
"O Grito" e "Madona" teriam sido colocados à venda no site de leilões virtuais eBay. De acordo com o diário norueguês "Aftenposten", o anúncio de venda das obras afirmava que "essa é a oportunidade de adquirir uma obra-prima única". Os lances chegaram até o valor de US$ 15 mil, mas a oferta foi rapidamente retirada pelo eBay, que não fez nenhum comentário a respeito.

As obras
"O Grito" (1893), visto como um dos principais ícones gráficos do sentimento de angústia, foi exibido em São Paulo no ano de 1996, durante a 23ª Bienal de Arte da cidade. É considerada a obra mais famosa de Edvard Munch e foi concebida após uma experiência alucinatória vivida pelo pintor expressionista. "Madona" (1894-95), que mostra uma mulher de cabelos negros e os seios nus, é interpretada como uma tentativa do artista de produzir uma imagem de entrega ou transcendência da individualidade.


Com agências internacionais

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