São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005 |
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ARTES CÊNICAS Anne Ubersfeld deu palestras na ECA-USP Pesquisadora francesa critica o "terrorismo do texto" no teatro
VALMIR SANTOS O SÉCULO 20 - "Os problemas colocados pelo teatro no século 20 ainda não estão resolvidos. As tendências atuais não são muito promissoras. O teatro pressupõe um texto no qual cada fala estabelece relação com algo ou alguém. Não tenho nada contra a mímica, por exemplo, mas ela por si não é teatro. A pura performance também não." A POÉTICA - "Não existem autores dramáticos, mas poetas.
Aqueles que não são poetas funcionam apenas para os seus contemporâneos. Depois, caem no
mar. É o exemplo do teatro de
Alexandre Dumas [1802-1870].
Quando digo poeta, falo de uma
certa relação com o movimento
de frase, aquilo que o tradutor pode levar em conta. Se um dia o teatro universal desaparecer e restar
somente Shakespeare, o teatro
não terá morrido." O LIVRO -"As análises que fiz em
"Para Ler o Teatro" continuam
úteis. É um livro de cunho didático, cujo conteúdo trata do texto,
não da encenação, daí o caráter
atemporal. São conceitos suficientemente simples, mas que
não haviam sido reunidos." A BAGAGEM -"Se escrevi meus livros, é porque tive a sorte de passar por uma tríplice experiência:
1) fui pesquisadora em história literária; 2) comecei a trabalhar
quando surgiu a semiologia, que
me deu elementos de análise textual; e 3) jamais escreveria sobre o
teatro se não tivesse feito 19 encenações com meus alunos. Criei e
pintei cenários, desenhei figurinos, maquiei atores, operei som,
luz etc. Bem ou mal, sei como funciona." O TERRORISMO DO TEXTO - "A expressão "terrorismo do texto" me
parece uma besteira enorme. O
texto é a palavra. Preciso enunciá-la, fazer com que seja escutada. O
texto no teatro é de tal ordem que
ele nunca é unívoco. Há um verso
de Racine [1639-1699], só com
monossílabos, no qual se lê: "O dia
não é mais puro do que o fundo
do meu coração". Você pode me
dizer que não há nada a fazer com
esse verso óbvio. Negativo. Ele
pode ser dito como uma espécie
de confissão [repete em tom grave, baixo]. Ou como uma reivindicação violenta [tom firme, alto].
São diferentes. O terrorismo do
texto acontece quando ele é muito
ruim mesmo [risos]." |
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