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Drew vê início e fim de Kennedy
"Crise", que mostra cenas de tensão na Casa Branca, sai em DVD; nos extras, o funeral do presidente
Em entrevista, documentarista americano conta que se divertiu ao filmar Bob Kennedy confuso ao tentar atender telefones
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Robert Drew, 82, filmou o começo e o fim de John Fitzgerald Kennedy. Não, ele não estava ao lado da mãe do presidente dos EUA quando esta deu
à luz, em 29 de maio de 1917.
Tampouco seguiu a bala que
pôs fim à sua vida, em 22 de novembro de 1963. Mas dois de
seus documentários, "Primárias" (60) e "Crise" -ao lado do
adendo "Rostos de Novembro",
ambos de 1963-, mostram o
nascimento e a morte de Kennedy como figura pública.
O primeiro, lançado em DVD
há alguns meses, mostrava o
pouco conhecido senador Kennedy durante a disputa das eleições primárias do Partido Democrata, em 1960. O segundo,
que chega agora ao mercado,
exibe uma crise doméstica enfrentada por ele e o irmão Bob,
então ministro da Justiça, além
de um curta sobre o funeral do
presidente assassinado.
Se viram muito de JFK, as câmeras de Drew o decifraram
pouco. Ainda assim, o cineasta
promoveu uma revolução nos
documentários com o que ficou
conhecido por "cinema direto".
O método baseava-se na filmagem, com câmeras pequenas e
livres, de cenas públicas e bastidores, sem narração, e a valorização de detalhes (as luvas de
Jackie Kennedy em "Primárias", os telefones da mesa de
Bob, em "Crise", por exemplo).
Não é preciso pensar muito para relacionar esse estilo com o
usado por João Moreira Salles
em "Entreatos" (2004).
Em entrevista à Folha, por
telefone, Drew contou que tinha mostrado "Primárias" para
Kennedy depois da eleição e
este teria, então, perguntado:
"E agora, o que você quer fazer?". Drew disse que gostaria
de filmá-lo tendo que tomar
uma decisão difícil. Kennedy
aceitou. Mas a oportunidade
demorou um pouco. Por quê?
Drew conta uma passagem divertida: "Eu tinha combinado
com Kennedy que avisaria
quando surgisse uma crise que
eu quisesse filmar. E, toda vez
que chegava um momento assim, eu ligava para a Casa Branca. Só que o assessor sempre
me dizia: "Como você pode
pensar em filmar aqui no meio
de uma crise como esta?'".
Quando, enfim, a comunicação foi possível, o caso em
questão era o seguinte: George
Wallace, governador do Alabama, estava tentando impedir
que dois estudantes negros se
matriculassem na universidade do Estado, desobedecendo
uma decisão judicial.
Boa parte da "ação" de "Crise" trata de homens poderosos
em paletós e com telefones
pendurados ao ombro -Bob,
principalmente. "Eu gostava
daquela coisa dele com os telefones. Eram tantos sobre a mesa que Bob ficava confuso para
descobrir qual estava tocando.
Como não podia perder a seriedade, ficava muito engraçado."
A naturalidade com que os
personagens se movem diante
da câmera é tão impressionante que é impossível não pensar
que a cena possa ter sido armada. Drew conta que testes foram feitos por alguns dias no
salão Oval da Casa Branca, até
que Kennedy demonstrasse ter
esquecido a presença da equipe
de filmagem. "Só uma vez ele se
incomodou. Quando, de repente, surgiu o assunto da crise
com Cuba e ele se deu conta de
que não podia tratar de um tema delicado como aquele na
minha frente. Então, sorriu para mim, e eu caí fora."
Rostos
O curta "Rostos de Novembro" começa com tiros de canhão e as imagens de um dia
cinzento e frio. Kennedy está
morto. Diante das lentes de
Drew, rostos de homens e mulheres (mais mulheres do que
homens) passam segurando o
choro, ou soltando lágrimas
furtivas. Jackie, véu sobre o
rosto, tampouco deixa entrever
emoções. "Todos sentiam muito, eu sentia muito, mas tentavam não mostrar. Se eu tivesse
de definir "Rostos de Novembro", diria que é um filme sobre
o controle das emoções."
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