São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Crítica/"A Pedra do Reino"

Cinema não consegue arrumar os problemas de série de TV surrealista

CRÍTICO DA FOLHA

"Lavoura Arcaica" (2001) foi recebido como uma das mais promissoras estréias do cinema brasileiro. O que acontecia não só porque Luiz Fernando Carvalho chegava dominando a técnica mas, sobretudo, porque o filme parecia feito com o coração. Talvez seja ridículo falar assim, talvez soe melhor se se falar de autoria. "A Pedra do Reino" não dá a impressão de ter despertado a paixão do diretor. Já o desafio de fazer uma minissérie para a TV fugindo dos clichês parece interessante.
A série fracassou na TV. Mas seu defeito não há de ser o cinema que vai consertar, pois estamos diante de um híbrido, que não consegue mais ser TV, mas não a desmente. É filmado basicamente em planos próximos e em campo/contracampo. Ao mesmo tempo, sua iluminação deve ter se dado mal na TV.
Mais complicada é a questão narrativa colocada pelo filme.
Em sua primeira hora, estamos diante de um conjunto quase incompreensível de imagens e discursos que remetem ao teatro, ao circo, ao Renascimento, à cavalaria, ao Estado Novo, a d. Sebastião ressuscitado etc. A narrativa descontínua corresponde bem a esse acúmulo de elementos heterogêneos. Depois, eles mesmos se encontrarão no longo diálogo entre Quaderna, o protagonista, e o juiz.
E Quaderna é a súmula desse universo, na medida em que é o ficcionista. É aquele que rebate o realismo (fantástico, se se quiser) do juiz com um imaginário que lembra uma obra surrealista. Quanto ao filme, se no início evoca Glauber Rocha, mais tarde é Fellini e seu universo circense que parecem servir de referência. E Rogério Sganzerla já notava em Fellini um "surrealismo caipira".
Em "A Pedra do Reino", se consegue feitos como a bela composição de Irandhir Santos como Quaderna, Carvalho permite que o rebuscado da mise-en-scène se sobreponha ao que o filme sugere de mais interessante: a hipótese de uma ficção se fazendo sob nossos olhos. (IA)


A PEDRA DO REINO
Direção:
Luiz Fernando Carvalho
Produção: Brasil, 2007
Com: Irandhir Santos, Cacá Carvalho
Quando: em cartaz de hoje ao dia 6/9 no Frei Caneca Unibanco Arteplex e Moviecom Penha
Avaliação: ruim


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