São Paulo, terça-feira, 24 de agosto de 2010

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Homem objeto

Com duas mostras, Waltercio Caldas ataca "populismo de vanguarda" e megaexposições como a Bienal de SP

LucianaWhitaker/Folha Press
O artista Waltercio Caldas e as "Esculturas Para Todos os Materiais Não Transparentes" (1985), no MAM do Rio

MARCOS FLAMÍNIO PERES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Um dos mais celebrados artistas brasileiros aqui e no exterior, Waltercio Caldas, 63, inaugura duas exposições no Rio de Janeiro defendendo sua poética radical e atacando o "populismo de vanguarda".
Muitos artistas atuais, lamenta, buscam "uma interatividade pouco criativa" com o público. "Me sinto ofendido", diz. Nas mostras que inaugura no MAM e na galeria Anita Schwartz, ele volta a trabalhar com objetos e "formas-livro", tendo como suporte seu principal material de trabalho -"a subjetividade".
O artista carioca, que em junho falou sobre Lygia Clark para a equipe do Museu de Arte Moderna de Nova York, diz que os objetos são irredutíveis: "Você pode até despejar expectativas sobre eles, mas eles sempre sorrirão um pouco dessa pretensão".
Waltercio, que já participou das Bienais de São Paulo em 1983, 1987, 1996, mas não estará na próxima, diz que megaexposições como essas são "anacrônicas" (a 29ª edição tem início em 25/9). Também fala da crise dos museus brasileiros e diz que Matthew Barney é um dos poucos artistas que aprecia.

Folha - Por que suas obras são tão refratárias à apreensão pela palavra?
Waltercio Caldas - Talvez porque elas sejam "objeto" demais. Sempre me interessou como a palavra pode ser incorporada não como descrição, mas como parte constituinte do corpo da obra.
Assim como a poesia faz com que a linguagem renda 120%, também se pode exigir dos objetos um rendimento extra. Pois a principal característica de todo objeto de arte é que ele sempre surge para nós pela primeira vez.

Você já disse que, como espectador, não quer ser bajulado pelo artista. Mas essa parece não ser a regra nas exposições atuais...
Eu me sinto ofendido quando entro em uma exposição e sinto que o artista quer me dizer aquilo que devo achar sobre sua obra, quando tem a pretensão de atender às expectativas do observador.
Não há outra maneira de o artista se comportar a não ser demonstrar claramente o que acha, de modo que o público tome sua decisão sozinho.
Nesse sentido, vejo hoje um certo populismo de vanguarda, que busca dar ao espectador o que ele quer.


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