São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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"O ENVIADO"

Terror se esvai com um roteiro tolo

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Podem ser uma delícia os filmes de terror: são, entre outras, o melhor modo de explorar as relações entre o real e o imaginário, instaurando um terreno de plena ambigüidade. Isso é o que se tem em um filme bem-sucedido como "A Vila", por exemplo. E o que não acontece com "O Enviado", dirigido por Nick Hamm.
As razões são muitas e de várias ordens. Existe um bom ponto de partida: um casal inconsolável com a perda de seu filho, que acaba de fazer oito anos, recebe a proposta de um médico para que seja feita uma clonagem.
OK, temos aí um tema próximo de "Frankenstein", em que o homem aspira tomar o lugar de Deus, embora devidamente atualizado. Que a coisa vai dar errado, sabemos de imediato.
Até que os primeiros momentos de desarranjo são promissores. Assim que completa oito anos, o jovem Adam começa a ter terríveis pesadelos com o outro Adam, o que morrera: ele é a aparição de si mesmo, o terror de si mesmo. Mas quem é o outro? Sonho, aparição, zumbi ou o quê?
Essa sensação de dúvida quanto ao destino de Adam e esperança quanto ao destino do filme logo se esvai, tanto porque o roteiro é tolo, como porque Hamm não controla as situações de dúvida. Se em determinados momentos trabalha quase à maneira de M. Night Shyamalan (e o efeito é apenas imitativo), com mais freqüência recorre ao terror de sustos, por vezes sem qualquer justificativa.
À medida que avança, o filme ressente-se de inconsistências, como a fragilíssima construção dos personagens e a deficiente criação de atmosfera. Assim, ninguém se espantará de que o exercício a que "O Enviado" mais se dedica seja tropeçar nas próprias pernas.


O Enviado
Godsend
 
Direção: Nick Hamm
Produção: EUA/Canadá, 2004
Com: Rebecca Romijn-Stamos, Robert De Niro
Quando: a partir de hoje nos cines Center Norte, Interlagos e circuito



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