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GUILHERME WISNIK
Operações compositivas
O que significa "redescobrir" Niemeyer a essa altura do campeonato, como se fosse pinçado de um catálogo?
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FOI LANÇADO recentemente o
livro "Biselli e Katchborian"
(Romano Guerra, 128 págs.,
R$ 52), o segundo volume da coleção
"Arquiteto Brasileiro Contemporâneo". Contendo fotos de Nelson
Kon e texto de Alessandro Castroviejo, o livro apresenta a produção
da dupla que tem se destacado em
concursos nacionais recentes, obtendo o primeiro prêmio nas competições de projeto para a estação
São Cristóvão da Supervia (2000), o
aeroporto de Florianópolis (2004), a
sede da Fapergs (2004), o Teatro de
Natal (2005) e o Centro Judiciário
de Curitiba (2005).
Formados na Universidade Mackenzie em meados dos anos 80, Mario Biselli e Artur Katchborian iniciaram a carreira ligados à moda
pós-moderna, que abandonariam
logo, segundo Castroviejo, "em favor de outras referências mais abstratas e geométricas". A colocação é
inequívoca: a dupla opera a partir de
referências, "pinçando" elementos
aqui e ali nas obras de arquitetos como Frank Lloyd Wright, Renzo Piano, Rem Koolhaas ou o grupo Morphosis. Nesse sentido, continuam
essencialmente pós-modernos,
agenciando "estilos" em operações
compositivas. Tal agenciamento é,
sem dúvida, habilidoso. O que faz
com que sua obra se destaque do padrão médio, alçando-se muito acima, em termos de qualidade, da arquitetura corporativa que se faz hoje
em São Paulo. Digo isso porque o
porte dos projetos recentes do escritório os credencia a ocupar esse
mercado.
Contudo, nota-se também uma
clara ambição autoral em sua produção, sobretudo naquela de maior escala, afirmando-se através de uma
gestualidade plástica invocada como um processo de "redescoberta
formal de Oscar Niemeyer". Ora,
mas o que significa "redescobrir"
Niemeyer a essa altura do campeonato, como que pinçado num catálogo de referências? Os arquitetos, ao
que parece, assumem com naturalidade os princípios compositivos como ferramenta principal de projeto,
bem como o uso de determinados
materiais como marca, assinatura.
Fica, no entanto, a pergunta: o que
os afastaria do mero estilismo? Nem
toda arquitetura solicita um enorme
esforço de justificação teórica. A
maioria, aliás, não. É produção corrente, de maior ou menor qualidade.
Vistos em perspectivas eletrônicas, muitos projetos são sedutores,
apresentando volumes vestidos por
peles de vidro e chapas metálicas,
segundo calculados jogos de luz e
sombra. Quase todos são pensados a
partir de um uso extensivo da estrutura metálica, o que lhes dá grande
leveza. Leveza que não se faz igualmente presente nas obras construídas, pois a passagem da arquitetura
do gesto, pensada originalmente a
partir do concreto armado, para a
construção metálica, ao menos no
Brasil, não é tão natural. Muitas vezes, o que é um traço simples no papel, na prática pode acabar virando uma parafernália de perfis, barras e
cabos superdimensionados. É que o
metal exige uma execução impecável, que envolve certa contradição
em relação à substantiva margem de
indeterminação ainda presente na
nossa construção civil, e suposta
nesse tipo de desenho.
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