CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pablo Milanés, 67, expoente da moderna canção cubana, já estava sentado no palco do Jockey Club quando uma garota de 20 e poucos anos virou-se para perguntar: "Sabe de que país ele é?".
Como outros jovens da plateia, ela estava ali para ver Maria Rita, a convidada do cantor e compositor para a apresentação, anteontem, no festival Sonidos, que vai até amanhã em São Paulo.
Essa ignorância é justificável. Nas últimas décadas, com raras exceções, as gravadoras e rádios brasileiras simplesmente ignoraram a riqueza e a diversidade da música produzida em Cuba.
E o isolado fenômeno Buena Vista Social Club, no final dos anos 1990, só veio confirmar esse descaso.
Mostrando que não se aferra ao passado, Milanés logo avisou que faria um apanhado da obra mais recente.
Para isso, escolheu canções que gravou na última década, como as líricas "Días de Gloria" e "Nostalgias", ou a romântica "Soñando".
Talvez tenha decepcionado um pouco os fãs da velha guarda, que preferem suas canções de temática social.
Discreta, Maria Rita entrou no palco com a devida reverência. Cantou "Samba Meu" com o anfitrião, gentilmente, tentando acompanhá-la em português. Mais feliz foi a versão de "Yolanda", clássico da obra de Milanés que a plateia identificou de cara e voltou a aplaudir durante o solo de violino.
"Viva Cuba!", festejou Maria Rita, antes de sair de cena. Para terminar, no mesmo tom intimista, Milanés recordou duas canções antigas: a dançante "Son para Despertar una Negrita" (dedicada à filha) e a nostálgica "Años".
Mas foi mesmo um verso de "Tristesse", a bela canção de Milton Nascimento interpretada com emoção por Milanés e Maria Rita, que melhor sintetizou esse encontro da música cubana com a brasileira: "Para de fingir que não sou parte do seu mundo". Que venham outros encontros como esse.