São Paulo, segunda-feira, 24 de outubro de 2005

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ARTES PLÁSTICAS

Museu Schirn, de Frankfurt, reúne obras dos dois mestres para comparar sua proximidade formal e temática

Exposição vê paralelos entre Rodin e Beuys

SILVIA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE FRANKFURT

Uma exposição em Frankfurt vem contrapondo, pela primeira vez, obras do pintor e escultor francês Auguste Rodin (1840-1917) e do alemão Jospeh Beuys (1921-1986), dois nomes de enorme significado para a evolução da arte moderna, um no início, outro no final do século 20. São dezenas de desenhos, aquarelas e esculturas que o Schirn, um dos mais importantes museus da Alemanha, apresenta até o final de novembro, tentando mostrar as afinidades entre esses dois artistas extemporâneos.
Segundo Max Hollein, diretor do Schirn, a história da arte já vinha há tempos estudando paralelos entre Rodin e Beuys nos desenhos e aquarelas. É nesse campo que se vê a maior proximidade formal e temática entre os dois.
Linhas elásticas, cores suaves e formas femininas em constante movimento, por exemplo, são marcas comuns de milhares de trabalhos sobre papel que ambos produziram. Como Rodin, Beuys também fez, desde o início de sua carreira artística, experiências com diferentes técnicas de desenho e materiais pouco usuais sobre tela ou papel. A essas experiências o artista alemão chamava de "quadros plásticos".
Além de desenhos e aquarelas, a exposição em Frankfurt tenta agora avançar, mostrando paralelos nas esculturas e como o artista francês influenciou o alemão também nesse campo. O evento apresenta sobretudo nus femininos, torsos e cenas eróticas, que tanto Rodin como Beuys consideravam um grupo artístico autônomo dentro de seus trabalhos de criação.
Várias torsos produzidos por Beuys entre as décadas de 1940 e 1960, por exemplo, estão expostos, perto de obras como "Trois Faunesses" (1896), "Torso de Adèle" (1878) e "Banhista agachada sem braço" (1885), de Rodin.
Segundo Hollein, ambos os artistas tentaram impor movimento na arte e superar os limites de espaço. "Um pensamento inovador", resumiu o diretor do Schirn, ao apresentar a exposição.
"Na obra de Rodin pulsa uma dinâmica do movimento até então desconhecida. Ele liberta a escultura das limitações da massa e do volume." De modo semelhante, Beuys via a escultura (a qual também chamava, em alemão, de "plastik", ou "plásticos") como um processo evolutivo, ágil e fluente.
"Pouco mais de 50 anos depois, Beuys formulou uma teoria plástica ainda mais ligada ao processo orgânico: para ele, o plástico era sinônimo de humano."
Nesse ponto, o diretor do Schirn menciona diferenças entre os dois artistas. Rodin mostrava certa predileção por figuras femininas sedutoras, pelo corpo feminino como objeto de desejo. Talvez por sua experiência com a guerra (veja texto abaixo), Beuys destaca em suas esculturas mais os lados político e social.
Segundo a historiadora norte-americana Pamela Kort, curadora da exposição, outro objetivo do evento seria mostrar como nos desenhos mais antigos Beuys já projetava princípios operacionais que norteariam futuramente suas esculturas.
Até os anos 60, predominavam em sua obra desenhos, "quadros plásticos" e esculturas. Só depois ele passou a se dedicar a performances e instalações. Desta última fase o evento em Frankfurt apresenta apenas alguns exemplos, como a instalação "O Fim do Século 20" (1983).
Um detalhe curioso é que a exposição também traz algumas obras do escultor alemão Wilhelm Lehmbruck (1881-1919), contemporâneo de Rodin. Lehmbruck também buscou inspiração na obra do francês e, décadas depois, influenciaria de forma decisiva o trabalho de Jospeh Beuys.
O evento em Frankfurt apresenta vários livros e reportagens jornalísticas, mostrando a recepção a Auguste Rodin na Alemanha no início do século passado e as referências feitas por Jospeh Beuys, décadas depois, ao pintor e escultor francês.
Ali está, por exemplo, a primeira edição da biografia de Rodin, escrita pelo poeta Rainer Maria Rilke (1875-1926), que chegou a trabalhar como secretário do artista francês. A leitura desta biografia teria sido o primeiro contato de Beuys com a vida e com o trabalho de Rodin.


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