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ARTES PLÁSTICAS
Museu Schirn, de Frankfurt, reúne obras dos dois mestres para comparar sua proximidade formal e temática
Exposição vê paralelos entre Rodin e Beuys
SILVIA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE FRANKFURT
Uma exposição em Frankfurt
vem contrapondo, pela primeira
vez, obras do pintor e escultor
francês Auguste Rodin (1840-1917) e do alemão Jospeh Beuys
(1921-1986), dois nomes de enorme significado para a evolução da
arte moderna, um no início, outro
no final do século 20. São dezenas
de desenhos, aquarelas e esculturas que o Schirn, um dos mais importantes museus da Alemanha,
apresenta até o final de novembro, tentando mostrar as afinidades entre esses dois artistas extemporâneos.
Segundo Max Hollein, diretor
do Schirn, a história da arte já vinha há tempos estudando paralelos entre Rodin e Beuys nos desenhos e aquarelas. É nesse campo
que se vê a maior proximidade
formal e temática entre os dois.
Linhas elásticas, cores suaves e
formas femininas em constante
movimento, por exemplo, são
marcas comuns de milhares de
trabalhos sobre papel que ambos
produziram. Como Rodin, Beuys
também fez, desde o início de sua
carreira artística, experiências
com diferentes técnicas de desenho e materiais pouco usuais sobre tela ou papel. A essas experiências o artista alemão chamava
de "quadros plásticos".
Além de desenhos e aquarelas, a
exposição em Frankfurt tenta
agora avançar, mostrando paralelos nas esculturas e como o artista
francês influenciou o alemão
também nesse campo. O evento
apresenta sobretudo nus femininos, torsos e cenas eróticas, que
tanto Rodin como Beuys consideravam um grupo artístico autônomo dentro de seus trabalhos de
criação.
Várias torsos produzidos por
Beuys entre as décadas de 1940 e
1960, por exemplo, estão expostos, perto de obras como "Trois
Faunesses" (1896), "Torso de
Adèle" (1878) e "Banhista agachada sem braço" (1885), de Rodin.
Segundo Hollein, ambos os artistas tentaram impor movimento
na arte e superar os limites de espaço. "Um pensamento inovador", resumiu o diretor do Schirn,
ao apresentar a exposição.
"Na obra de Rodin pulsa uma
dinâmica do movimento até então desconhecida. Ele liberta a escultura das limitações da massa e
do volume." De modo semelhante, Beuys via a escultura (a qual
também chamava, em alemão, de
"plastik", ou "plásticos") como
um processo evolutivo, ágil e
fluente.
"Pouco mais de 50 anos depois,
Beuys formulou uma teoria plástica ainda mais ligada ao processo
orgânico: para ele, o plástico era
sinônimo de humano."
Nesse ponto, o diretor do Schirn
menciona diferenças entre os dois
artistas. Rodin mostrava certa
predileção por figuras femininas
sedutoras, pelo corpo feminino
como objeto de desejo. Talvez por
sua experiência com a guerra (veja texto abaixo), Beuys destaca em
suas esculturas mais os lados político e social.
Segundo a historiadora norte-americana Pamela Kort, curadora
da exposição, outro objetivo do
evento seria mostrar como nos
desenhos mais antigos Beuys já
projetava princípios operacionais
que norteariam futuramente suas
esculturas.
Até os anos 60, predominavam
em sua obra desenhos, "quadros
plásticos" e esculturas. Só depois
ele passou a se dedicar a performances e instalações. Desta última fase o evento em Frankfurt
apresenta apenas alguns exemplos, como a instalação "O Fim do
Século 20" (1983).
Um detalhe curioso é que a exposição também traz algumas
obras do escultor alemão Wilhelm Lehmbruck (1881-1919),
contemporâneo de Rodin. Lehmbruck também buscou inspiração
na obra do francês e, décadas depois, influenciaria de forma decisiva o trabalho de Jospeh Beuys.
O evento em Frankfurt apresenta vários livros e reportagens jornalísticas, mostrando a recepção a
Auguste Rodin na Alemanha no
início do século passado e as referências feitas
por Jospeh Beuys, décadas depois,
ao pintor e escultor francês.
Ali está, por exemplo, a primeira edição da biografia de Rodin,
escrita pelo poeta Rainer Maria
Rilke (1875-1926), que chegou a
trabalhar como secretário do artista francês. A leitura desta biografia teria sido o primeiro contato de Beuys com a vida e com o
trabalho de Rodin.
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