São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2007

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31ª Mostra de SP

"XXY" dá ênfase aos dilemas de amor e sexo

Jovem hermafrodita é tema do longa de estréia da argentina Lucía Puenzo

Premiada em Cannes, cineasta afirma que buscou na trama um "eixo temático" para abordar "a liberdade de escolha no mundo de hoje"

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Para falar "das dúvidas de todo adolescente sobre que tipo de adulto será" e "dos dilemas de todos os pais sobre a melhor forma de orientar seus filhos", a diretora argentina Lucía Puenzo recorreu a uma personagem singularíssima em seu longa-metragem de estréia, "XXY".
Alex (Inés Efrón) nasceu com a ambigüidade biológica própria dos hermafroditas. Os pais do bebê, interpretados pelo astro Ricardo Darín e pela menos conhecida no Brasil Valeria Bertuccelli, recusaram a sugestão médica de castrar seu órgão sexual masculino, deixando a ele, no futuro, a definição de sua sexualidade.
É quando Alex completa 15 anos e vive seu primeiro amor que "XXY" se debruça sobre sua história, seus conflitos com o próprio corpo e suas dificuldades nos relacionamentos com os garotos de sua idade.

"Liberdade de escolha"
Puenzo afirma que situar o tema da "liberdade de escolha no mundo de hoje" e a discussão sobre "a identidade" na fase da adolescência lhe pareceu "um eixo temático interessante" desde que leu o conto "Cinismo", no qual o filme se baseia (escrito por Sergio Bizzio, marido da diretora), e não conseguiu mais "tirá-lo da cabeça".
Por ser também escritora e roteirista, Puenzo decidiu adaptar ela mesma o conto, num roteiro que, segundo conta, foi modificado na fase de ensaios, "mas acabou voltando para algo bem perto da forma original durante as filmagens".
"XXY" foi rodado numa praia do Uruguai. É para lá que a família de Alex se muda, com a intenção de afastar-se "de certo tipo de gente de Buenos Aires", como ressalta o personagem de Darín, num diálogo do filme. A mudança, contudo, não consegue evitar que Alex seja hostilizada por ser "diferente" e, ao final da trama, tenha que decidir entre impor-se, escancarando o confronto, ou calar-se diante de uma agressão.
O viés do embate social é, no entanto, o que Puenzo menos quis sublinhar em seu filme.
"Havia o risco de as pessoas acharem que o filme é sobre uma anomalia. Não é. Essa é uma história de amor adolescente, algo que acontece a todo mundo", afirma a cineasta.

Policial
"XXY" recebeu o Grande Prêmio na Semana da Crítica no Festival de Cannes, em maio passado. Dois meses depois, o filme estreou na Argentina. "Temi que a reação do público fosse na direção oposta à da crítica, mas fiquei muito satisfeita com a resposta que o filme teve aqui", diz Puenzo, 31.
A acolhida a "XXY" deixou a diretora "animadíssima para rodar o segundo longa", um suspense policial, a partir de março do ano que vem.
Desta vez, Puenzo adaptará seu próprio livro "El Niño Pez", sobre "duas adolescentes de classes sociais diferentes, que vivem um romance clandestino e fogem para o Uruguai, quando se envolvem numa história de crime", resume a autora.


XXY
Produção:
Argentina, Espanha, 2007
Direção: Lucía Puenzo
Quando: hoje, às 19h50, no Unibanco Arteplex 2; amanhã, às 22h40, no Reserva Cultural 1; quarta (31/10), às 23h20, no Unibanco Arteplex 4


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