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LIVROS
Crítica/"Folha Explica Paulo Freire"
Lançamento analisa herança do educador Paulo Freire
Conceitos do pernambucano são tema de obra, que apresenta novas abordagens
MOACIR GADOTTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Muitos têm sido os autores que, sob diferentes ângulos, analisaram Paulo Freire.
Fernando José de Almeida,
professor da PUC-SP e vice-presidente da TV Cultura, faz
isso com linguagem simples,
entrelaçando os principais conceitos e temas de sua filosofia
educacional, em "Folha Explica
Paulo Freire".
O livro não se destina apenas
a quem não conhece Freire,
mas também aos que têm alguma intimidade com sua obra,
pois traz novas abordagens,
contextualizando-as. Com rigor e precisão, o autor desfila
cada conceito "freiriano".
O pano de fundo é a atualidade de Freire. Como ler o mundo
de hoje com Freire. Isso é ainda
mais adequado numa época em
que alguns gostariam de deixar
Freire no passado, na história
das ideias pedagógicas, seja por
não concordarem com ele por
suas opções políticas, seja por
não quererem mexer na cultura opressiva de ontem e de hoje
que ele denunciava.
Almeida afirma que Freire "é
mais necessário do que nunca.
Mas um Paulo Freire reinventado, como ele mesmo queria".
É claro que cada leitor de
Freire faz essa leitura dentro de
sua ótica. O olhar de Almeida
transparece nos temas e conceitos que mais destaca: religião, universidade, currículo,
tecnologias da informação.
Pernambuco
Sem fazer uma exegese, o que
seria chato e, certamente, desagradaria Freire, ele coloca na
base do pensamento deste "a
vivência da situação do país,
mais especificamente de seu
Estado, Pernambuco, e de sua
cidade, Recife".
A leitura do mundo como
método "freiriano" se explica
nessa preocupação sempre
presente em Freire de contextualizar e sistematizar a experiência. Em Freire, "a aprendizagem é sempre situada". Ele
teria desenvolvido "um novo
conceito de leitura -e com ele
um novo conceito de escrita".
Fernando Almeida nos diz
que "a maior contribuição teórica de Paulo Freire foi ter ligado suas propostas educativas
ao pensamento dialético de
Marx, às proposições cristãs de
Emanuel Mounier".
Essa é também a opinião do
filósofo alemão Wolfdietrich
Schmied-Kowarzik, que afirma
no livro "Pedagogia Dialética
-De Aristóteles a Paulo Freire"
(Brasiliense) que a originalidade de Freire foi ter "entrelaçado temas cristãos e marxistas".
No capítulo três, Fernando
Almeida destaca a importância
do diálogo, o caráter dialógico
do seu pensamento e do seu
método da leitura do mundo
para se libertar, para se emancipar. Não basta incluir. É preciso emancipar.
Lamenta que "todo o trabalho de Paulo Freire, todos os
anos de exílio, todos os festejos
na sua volta, não ajudaram o
país a fazer a lição: dar direito à
leitura e à escrita a seus cidadãos".
E conclui: "O pensamento de
Paulo Freire nos abala e ao
mesmo tempo nos sustenta.
Abala porque incomoda nossas
seguranças; e nos sustenta porque anuncia algo solidamente
novo".
Seu legado não pode ser considerado uma contribuição à
educação do passado, mas à
educação do futuro.
MOACIR GADOTTI
é professor titular da Faculdade de Educação da USP e diretor do Instituto Paulo Freire
FOLHA EXPLICA PAULO
FREIRE
Autor:
Fernando José de Almeida
Editora:
Publifolha
Quanto:
R$ 18,90 (104 págs.)
Avaliação:
ótimo
Lançamento:
na qua., 28/10, a partir das
18h30, na Livraria da Vila (r.
Fradique Coutinho, 915, tel.
0/xx/11/ 3814-5811)
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