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Sucesso não paga contas, diz ator de "Tropa"
Na pele de deputado, ator André Mattos conquista fama, mas diz que reconhecimento não mudará rumo de carreira
Carioca, que já fez mais
de cem peças, buscou
inspiração no
apresentador de TV
Wagner Montes
FÁBIO GRELLET
DO RIO
Ele já foi reconhecido na
rua como o Fininho, que na
"Escolinha do Professor Raimundo" repetia o bordão
"Eu te amo, meu queriiiiido";
como d. João 6º, da minissérie "Quinto dos Infernos", e
como Madruga, da novela
"Senhora do Destino".
Agora o ator André Mattos,
49, faz sucesso como Fortunato em "Tropa de Elite 2".
Quando entra em cena, o
personagem transforma em
gargalhada a tensão quase
constante dos espectadores.
Deputado, líder miliciano e
apresentador de TV, Fortunato foi inspirado em vários
personagens reais.
"Me inspirei no Wagner
Montes, que segue essa linha
de programa popular", diz,
referindo-se ao apresentador
da versão carioca do "Balanço Geral", da Record -o programa fictício se chama "Mira Geral".
"Embora ele também seja
deputado [estadual no Rio],
não tem nada a ver com o
Fortunato como parlamentar", diz (leia mais abaixo).
Para interpretar o deputado, Mattos diz ter estudado
vídeos da atuação parlamentar de deputados e vereadores acusados de envolvimento com a milícia.
"Depois da primeira cena
que fiz como político, os seguranças e o cara do café disseram: "Nossa, pensei que o
Jerominho [vereador preso,
condenado por liderar milícias] tinha voltado". Aí percebi que estava no rumo certo."
Embora satisfeito com o
sucesso do filme, Mattos demonstra não se iludir com a
fama. "Minha sensação é a
de ter estreado uma novela
das oito: as pessoas me reconhecem na rua, parabenizam, e isso é ótimo", afirma.
"Mas aqui não é os Estados
Unidos, onde um ator ganha
US$ 500 mil, conquista um
Oscar e passa a receber US$
10 milhões. No Brasil não
existe isso. Já ganhei 18 prêmios e sabe o que mudou na
minha vida? Nada. Reconhecimento é bom, mas não paga as contas."
E prossegue: "Tem gente
que é artista e gente que está
artista. Alguns usam o primeiro salário para comprar
carrão com vidro fumê, mas
andam com a janela aberta
para ser reconhecido por todo mundo. Quem é artista
passa a vida inteira construindo uma carreira sem se
preocupar em aparecer e,
bem velhinho, olha para trás
e sente orgulho".
Filho de um casal de atores
que participou da fundação
do teatro Tablado, no Jardim
Botânico (zona sul do Rio)
-Emílio e Zélia de Mattos-,
ele cresceu entre artistas.
"Nasci no teatro e aprendi a
conviver com o sucesso e o
fracasso", diz o ator.
CÔMICO E DRAMÁTICO
"Já tive que pagar para trabalhar, encenar uma peça e,
ao final, em vez de receber,
deixar cheque de R$ 5.000
para pagar os custos. Mas o
fracasso nos dá caráter, faz a
gente refletir e provar nossas
convicções."
"Ele consegue aliar muito
bem o aspecto cômico com a
dramaticidade", elogia o diretor teatral Aderbal Freire-Filho, que o dirigiu em peças
como "Moby Dick" (2009),
uma das mais de cem de que
o ator participou em 26 anos
de carreira.
Contratado da TV Record,
Mattos aproveita um período
de folga na emissora e deixa
a barba crescer para interpretar o Analista de Bagé, personagem criado por Luis Fernando Veríssimo, em um especial da TV Cultura.
Casado há 19 anos com a
atriz Roberta Repetto, Mattos
é pai de duas meninas, de 13
e 16 anos, que já demonstram
interesse por teatro e cinema.
A partir de janeiro, ele planeja realizar um sonho antigo: viajar de caminhão pelo
Brasil levando cenários de
peças que pretende montar
em vários Estados.
"Quero levar as peças e dar
cursos", diz o ator, professor
fixo do Tablado há quatro
anos. E por quanto tempo
pretende viajar? "Para sempre", sorri.
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