São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2010

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Sucesso não paga contas, diz ator de "Tropa"

Na pele de deputado, ator André Mattos conquista fama, mas diz que reconhecimento não mudará rumo de carreira

Carioca, que já fez mais de cem peças, buscou inspiração no apresentador de TV Wagner Montes

FÁBIO GRELLET
DO RIO

Ele já foi reconhecido na rua como o Fininho, que na "Escolinha do Professor Raimundo" repetia o bordão "Eu te amo, meu queriiiiido"; como d. João 6º, da minissérie "Quinto dos Infernos", e como Madruga, da novela "Senhora do Destino".
Agora o ator André Mattos, 49, faz sucesso como Fortunato em "Tropa de Elite 2".
Quando entra em cena, o personagem transforma em gargalhada a tensão quase constante dos espectadores. Deputado, líder miliciano e apresentador de TV, Fortunato foi inspirado em vários personagens reais.
"Me inspirei no Wagner Montes, que segue essa linha de programa popular", diz, referindo-se ao apresentador da versão carioca do "Balanço Geral", da Record -o programa fictício se chama "Mira Geral".
"Embora ele também seja deputado [estadual no Rio], não tem nada a ver com o Fortunato como parlamentar", diz (leia mais abaixo).
Para interpretar o deputado, Mattos diz ter estudado vídeos da atuação parlamentar de deputados e vereadores acusados de envolvimento com a milícia.
"Depois da primeira cena que fiz como político, os seguranças e o cara do café disseram: "Nossa, pensei que o Jerominho [vereador preso, condenado por liderar milícias] tinha voltado". Aí percebi que estava no rumo certo."
Embora satisfeito com o sucesso do filme, Mattos demonstra não se iludir com a fama. "Minha sensação é a de ter estreado uma novela das oito: as pessoas me reconhecem na rua, parabenizam, e isso é ótimo", afirma.
"Mas aqui não é os Estados Unidos, onde um ator ganha US$ 500 mil, conquista um Oscar e passa a receber US$ 10 milhões. No Brasil não existe isso. Já ganhei 18 prêmios e sabe o que mudou na minha vida? Nada. Reconhecimento é bom, mas não paga as contas."
E prossegue: "Tem gente que é artista e gente que está artista. Alguns usam o primeiro salário para comprar carrão com vidro fumê, mas andam com a janela aberta para ser reconhecido por todo mundo. Quem é artista passa a vida inteira construindo uma carreira sem se preocupar em aparecer e, bem velhinho, olha para trás e sente orgulho".
Filho de um casal de atores que participou da fundação do teatro Tablado, no Jardim Botânico (zona sul do Rio) -Emílio e Zélia de Mattos-, ele cresceu entre artistas. "Nasci no teatro e aprendi a conviver com o sucesso e o fracasso", diz o ator.

CÔMICO E DRAMÁTICO
"Já tive que pagar para trabalhar, encenar uma peça e, ao final, em vez de receber, deixar cheque de R$ 5.000 para pagar os custos. Mas o fracasso nos dá caráter, faz a gente refletir e provar nossas convicções."
"Ele consegue aliar muito bem o aspecto cômico com a dramaticidade", elogia o diretor teatral Aderbal Freire-Filho, que o dirigiu em peças como "Moby Dick" (2009), uma das mais de cem de que o ator participou em 26 anos de carreira.
Contratado da TV Record, Mattos aproveita um período de folga na emissora e deixa a barba crescer para interpretar o Analista de Bagé, personagem criado por Luis Fernando Veríssimo, em um especial da TV Cultura.
Casado há 19 anos com a atriz Roberta Repetto, Mattos é pai de duas meninas, de 13 e 16 anos, que já demonstram interesse por teatro e cinema.
A partir de janeiro, ele planeja realizar um sonho antigo: viajar de caminhão pelo Brasil levando cenários de peças que pretende montar em vários Estados.
"Quero levar as peças e dar cursos", diz o ator, professor fixo do Tablado há quatro anos. E por quanto tempo pretende viajar? "Para sempre", sorri.


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