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15ª Feira Internacional do Livro de Guadalajara abre hoje as portas ao Brasil
O realismo mágico em xeque
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi uma longa corte. Após três
anos da primeira aproximação, o
Brasil aceita, de hoje a 2 de dezembro, o lugar de convidado de
honra da Feira Internacional do
Livro de Guadalajara.
O encontro mexicano só perde,
em proporções e importância, para seu similar alemão, que acontece anualmente em Frankfurt. Para
a literatura em espanhol e da
América Latina, é a maior vitrine.
"Esperamos o momento oportuno em que o Brasil pudesse
aceitar um convite feito desde
1998", diz María Luisa Armendáriz, 38. Feita diretora-geral da FIL
em julho -essa é, portanto, sua
primeira edição em 15 anos de
evento-, ela explica por que o
casamento entre o Brasil e a feira
demorou: faltava "uma instância
governamental assumir os compromissos implicados; a participação significa investimento".
Vinda do mercado -trabalhou
seis anos no Fondo de Cultura
Económica, editora do governo
mexicano-, Armendáriz sabe
que não basta a cerimônia: há que
consolidar uma união duradoura.
No Brasil imprime-se metade
dos livros produzidos na América
Latina. Tamanha produção, no
entanto, reflete mirada ainda
míope sobre a literatura contemporânea dos vizinhos.
Há mais literatura latino-americana do que supõe o realismo mágico. Em seus países de origem,
novos escritores, como o chileno
Alberto Fuguet, brigam por estender as fronteiras literárias para
além da mítica Macondo.
Um encontro das proporções
da FIL -a saber, em 2000 foram
60 mil m2 de área, quase metade
dedicados a livros, vindos de 1.135
editoras de todo o mundo- poderia ser o palco perfeito para pôr
o realismo fantástico em xeque e
tirar as letras latino-americanas
do âmbito do exotismo.
Já o Brasil, no contexto literário
do continente, é mesmo um gigante adormecido. A barreira da
língua intimida: traduz-se pouco
do português para o espanhol.
"Temos pouca tradução", diz
Armendáriz. Porém, falta mesmo
é reimpressão: "Há várias traduções identificadas em espanhol,
mas que, infelizmente, não estão
vigentes, saíram de mercado".
"Meu objetivo mais importante
é fazer com que, com a participação de um convidado, se dê realmente esse intercâmbio entre ambos os países", diz Armendáriz.
"Houve um tempo em que isso
se dava de maneira muito fácil.
Estávamos em dia com a literatura dos outros países da América
Latina. Tínhamos livros de Guimarães Rosa, Machado de Assis,
Rubem Fonseca, Nélida Piñon."
A lista de convivas da "união",
ressalta, deveria ser atualizada "a
cada década, pelo menos, para
que fiquemos ao corrente de
quais são as figuras e tendências
literárias de nossos países".
Os participantes brasileiros
-não só professores e escritores,
mas também músicos e artistas,
ampliando o panorama de literário para cultural- foram definidos pelo convidado, em duas instâncias: a Biblioteca Nacional, no
Rio, e a divisão cultural do Ministério das Relações Exteriores.
A maior parte da lista brasileira
compõe-se de "embaixadores" de
longa data. É o caso de Carlos Heitor Cony, Moacir Sclyar e da própria Nélida Piñon.
Poucos, como Patrícia Melo, representam o Brasil nas livrarias
estrangeiras somente desde a década passada. De todos, porém, o
mais famoso hoje em dia, passando qualquer barreira de língua e
estilo, é Paulo Coelho.
O autor de "O Alquimista", 54,
viaja principalmente para divulgar o lançamento mexicano de "O
Demônio e a Srta. Prym", levado
por sua editora local, a Grijalbo.
Aproveita o ensejo para participar de um dos eventos que a diretora-geral define como "estelares", brilhando especialmente em
um total de 800: a homenagem ao
baiano Jorge Amado -morto em
agosto, aos 88 anos.
"A homenagem tem vários espaços", diz Armendáriz. "É Zélia
Gattai quem a inaugura. Paulo
Coelho também quer falar de Jorge Amado", resume.
Coelho falará no dia 1º de dezembro, em evento previsto para
durar duas horas. Ao escolher a
obra de Amado como viés para
"promover" a literatura brasileira, deixa no ar uma dúvida: a fala
seria passo da campanha para a
Academia Brasileira de Letras?
Depois de ter tido o nome levantado para a vaga de Amado,
antes mesmo do da viúva e atual
postulante, Zélia Gattai, o escritor
pleiteia a cadeira de Roberto
Campos, morto em outubro.
Coelho responde que é "homenagem desinteressada"."Não poderia falar de outro", diz. E calcula
que o agrado que eventualmente
cause a Zélia Gattai, pelas datas da
Academia, não chegaria a tempo
de ela vestir o fardão e, assim, defendê-lo como candidato.
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