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Paraense narra violência de geração perdida
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
É raro aparecer no mercado novos autores do Norte. Era. A Boitempo Editorial, da família Jinkings, livreiros tradicionais do Pará, apresenta Edyr Augusto, 47,
jornalista, publicitário e dramaturgo, que publicou "Os Éguas"
em 1998 e acaba de lançar o seu
segundo romance, "Moscow".
Sua prosa não é bucólica nem
aborda o convívio pacífico entre o
homem e uma natureza. Augusto
escreve sobre uma juventude violenta, gorada e perdida, que vaga à
procura de confusão.
Em "Os Éguas", o cenário é a vida noturna de Belém e sua criminalidade. Égua é o termo com que
os paraenses pontuam suas frases. Pode significar "nossa!", "puxa!", uma interjeição que exprime
espanto. O livro vai virar filme,
com atores locais, do grupo de
teatro Cuíra do Pará, do qual Augusto faz parte.
"Os Éguas" será dirigido pelo
argentino Daniel Gomes, cineasta
que reside em Belém, já fez publicidade, o curta "La Lona" e produz o filme de Ronaldo Duque sobre a guerrilha do Araguaia. Orçado em R$ 1 milhão, "Os Éguas" será rodado digitalmente e deverá
ficar pronto no final de 2002.
"Moscow" é a história de uma
gangue que inferniza a vida dos
veranistas de Mosqueiro, ilha perto de Belém que já foi o santuário
da burguesia local, em que costumava passar as férias. Moscow é
como os moradores apelidaram o
lugar cheio de praias. Narrado
por Tinho, numa linguagem crua,
o livro descreve estupros e assassinatos cometidos por uma turma
que rouba para viver e zoar.
Folha - A violência abordada em
seus livro é rotina entre jovens de
Belém?
Edyr Augusto - A violência faz
parte da vida atual no mundo inteiro. Belém, com 1,5 milhão de
habitantes, não é diferente.
Folha - Em quem você se inspira
para recriar um estilo tão seco?
Augusto - Sou um leitor voraz,
vulgar, mas creio que meu estilo
vem do trabalho com propaganda
e diálogos em peças de teatro que
também escrevo. Ele já está em
"Os Éguas", em "Moscow" e também em "Chorume", que começo
a escrever.
Folha - Quais autores do Norte o
influenciaram?
Augusto - Minha grande influência é Haroldo Maranhão, paraense que considero o maior escritor vivo do Brasil, embora, diferentemente de mim, tenha uma
escrita caudalosa, maravilhosa.
Leia dele "Rio de Raivas" e "Cabelos no Coração".
Folha - Desde quando escreve?
Augusto - Minha família é de jornalistas e radialistas, teatrólogos,
músicos, poetas e cronistas. Escrevi minha primeira peça de teatro aos 17 anos. O primeiro livro
de poesias com 28, mas o primeiro romance, depois dos 40.
Folha - A floresta inspira?
Augusto - Sou regional, não regionalista. A inspiração vem da
floresta de concreto, urbana.
Folha - Você conhece tipos como
os personagens de seus livros?
Augusto - O escritor é um vampiro que pula no pescoço de qualquer um e lhe rouba a alma, se lhe
interessar. Conheço tipos em todo lugar por onde passo. Depois,
eles brigam para entrar em meus
livros sem nem saber disso. Nunca fui assaltado nem sofri nenhum ato de violência física. Somente, como qualquer brasileiro,
sofro da violência de viver em um
país sempre à beira do desastre e
do sucesso.
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