São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2001

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Paraense narra violência de geração perdida

MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

É raro aparecer no mercado novos autores do Norte. Era. A Boitempo Editorial, da família Jinkings, livreiros tradicionais do Pará, apresenta Edyr Augusto, 47, jornalista, publicitário e dramaturgo, que publicou "Os Éguas" em 1998 e acaba de lançar o seu segundo romance, "Moscow".
Sua prosa não é bucólica nem aborda o convívio pacífico entre o homem e uma natureza. Augusto escreve sobre uma juventude violenta, gorada e perdida, que vaga à procura de confusão.
Em "Os Éguas", o cenário é a vida noturna de Belém e sua criminalidade. Égua é o termo com que os paraenses pontuam suas frases. Pode significar "nossa!", "puxa!", uma interjeição que exprime espanto. O livro vai virar filme, com atores locais, do grupo de teatro Cuíra do Pará, do qual Augusto faz parte.
"Os Éguas" será dirigido pelo argentino Daniel Gomes, cineasta que reside em Belém, já fez publicidade, o curta "La Lona" e produz o filme de Ronaldo Duque sobre a guerrilha do Araguaia. Orçado em R$ 1 milhão, "Os Éguas" será rodado digitalmente e deverá ficar pronto no final de 2002.
"Moscow" é a história de uma gangue que inferniza a vida dos veranistas de Mosqueiro, ilha perto de Belém que já foi o santuário da burguesia local, em que costumava passar as férias. Moscow é como os moradores apelidaram o lugar cheio de praias. Narrado por Tinho, numa linguagem crua, o livro descreve estupros e assassinatos cometidos por uma turma que rouba para viver e zoar.

Folha - A violência abordada em seus livro é rotina entre jovens de Belém?
Edyr Augusto -
A violência faz parte da vida atual no mundo inteiro. Belém, com 1,5 milhão de habitantes, não é diferente.

Folha - Em quem você se inspira para recriar um estilo tão seco?
Augusto -
Sou um leitor voraz, vulgar, mas creio que meu estilo vem do trabalho com propaganda e diálogos em peças de teatro que também escrevo. Ele já está em "Os Éguas", em "Moscow" e também em "Chorume", que começo a escrever.

Folha - Quais autores do Norte o influenciaram?
Augusto -
Minha grande influência é Haroldo Maranhão, paraense que considero o maior escritor vivo do Brasil, embora, diferentemente de mim, tenha uma escrita caudalosa, maravilhosa. Leia dele "Rio de Raivas" e "Cabelos no Coração".

Folha - Desde quando escreve?
Augusto -
Minha família é de jornalistas e radialistas, teatrólogos, músicos, poetas e cronistas. Escrevi minha primeira peça de teatro aos 17 anos. O primeiro livro de poesias com 28, mas o primeiro romance, depois dos 40.

Folha - A floresta inspira?
Augusto -
Sou regional, não regionalista. A inspiração vem da floresta de concreto, urbana.

Folha - Você conhece tipos como os personagens de seus livros?
Augusto -
O escritor é um vampiro que pula no pescoço de qualquer um e lhe rouba a alma, se lhe interessar. Conheço tipos em todo lugar por onde passo. Depois, eles brigam para entrar em meus livros sem nem saber disso. Nunca fui assaltado nem sofri nenhum ato de violência física. Somente, como qualquer brasileiro, sofro da violência de viver em um país sempre à beira do desastre e do sucesso.


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