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ARTES CÊNICAS
Bando de Teatro Olodum tem seus 13 anos de história relatados em "linguagem simples" por Marcos Uzel
Grupo da Bahia ganha retrato impresso
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 13 anos, o Bando de Teatro
Olodum ganha uma biografia. É
um feito e tanto para um conjunto
de atores negros que se firmou em
Salvador movido a resistências
artística, política e social.
"O Teatro do Bando: Negro,
Baiano e Popular", que o jornalista Marcos Uzel lança hoje no teatro Vila Velha, em Salvador, destaca a trajetória do grupo desde o
processo de seleção de atores para
a cia. que surgia na cidade, em outubro de 1990, até a sua mais recente montagem, "Relato de uma
Guerra que (Não) Acabou", que
fez temporada até maio passado.
Uzel deixa claro que não se trata
de investigação acadêmica sobre
o trabalho do Bando. Antes, prefere o papel de contador de histórias. Dá vozes sobretudo aos protagonistas, apropriando-se do
que ele define como a "linguagem
simples" que o grupo busca imprimir nos espetáculos.
Situa que o Bando talvez não
existisse sem o caminho aberto
por blocos afros que renovaram o
Carnaval baiano, como o Ilê Aiyê
(1974) e o Olodum (1979).
Coube a Márcio Meirelles puxar
o cordão. Ao lado de profissionais
como Chica Carelli (co-diretora e
preparadora musical), parceria
que dura até hoje, convenceu a diretoria do Olodum da importância de lançar o seu braço teatral e
estreou "Essa É Nossa Praia", em
25 de janeiro de 1991, num casarão da Faculdade de Medicina.
A peça versava sobre o cotidiano da área do Maciel-Pelourinho,
no centro histórico, estigmatizada
por ser um local de "marginais".
O olhar sobre o próprio quintal
da metrópole (prostitutas, moradores de rua, especulação imobiliária etc.) resultou numa trilogia
formada ainda por "Onovomundo" (1991) e "Ó Paí, Ó!" (1992).
Nesses primeiros anos, o Bando
injetou auto-estima em jovens
atores que tomavam consciência
dos processos coletivos. Reuniam
forças tal qual os escravos que fugiam das senzalas para os quilombos (daí a expressão "bando").
Em 1992, ocorreram dois novos
ritos de passagem: a primeira turnê fora da Bahia (no Rio, com a
trilogia sobre o Pelourinho) e o
primeiro clássico ("Woyzeck", do
alemão Georg Büchner).
O tempo maturou repertório,
elenco e equipe de criação, cuja
base é completada pelo coreógrafo Zebrinha e pelo diretor musical
Jarbas Bittencourt.
A autocrítica do Bando e de
Meirelles se reflete em montar
dois textos do alemão Heiner Müller, duas vezes a mesma peça da
também dupla alemã Bertolt
Brecht e Kurt Weill ("Ópera dos
Mirréis" e "Ópera de Três Reais",
adaptações de "Ópera dos Três
Vinténs") e duas vezes a criação
coletiva "Zumbi", uma delas em
Londres, com Meirelles dirigindo
atores negros de lá.
O Bando teve atores projetados
no cinema, caso de Lázaro Ramos
("Madame Satã") e de Valdinéia
Soriano ("Jenipapo").
Enfim, bastidores, palcos e palavras com elo histórico com o Teatro Experimental do Negro, no
Rio (1944-64), por Abdias Nascimento, Solano Trindade e outros.
O TEATRO DO BANDO: NEGRO,
BAIANO E POPULAR (ed. P555 e teatro
Vila Velha, 294 págs., R$ 10). Autor:
Marcos Uzel. Lançamento: hoje, às 19h,
no teatro Vila Velha (Passeio Público, s/
nš, Salvador, tel. 0/xx/71/336-1384).
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