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São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

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ARTES CÊNICAS

Bando de Teatro Olodum tem seus 13 anos de história relatados em "linguagem simples" por Marcos Uzel

Grupo da Bahia ganha retrato impresso

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 13 anos, o Bando de Teatro Olodum ganha uma biografia. É um feito e tanto para um conjunto de atores negros que se firmou em Salvador movido a resistências artística, política e social.
"O Teatro do Bando: Negro, Baiano e Popular", que o jornalista Marcos Uzel lança hoje no teatro Vila Velha, em Salvador, destaca a trajetória do grupo desde o processo de seleção de atores para a cia. que surgia na cidade, em outubro de 1990, até a sua mais recente montagem, "Relato de uma Guerra que (Não) Acabou", que fez temporada até maio passado.
Uzel deixa claro que não se trata de investigação acadêmica sobre o trabalho do Bando. Antes, prefere o papel de contador de histórias. Dá vozes sobretudo aos protagonistas, apropriando-se do que ele define como a "linguagem simples" que o grupo busca imprimir nos espetáculos.
Situa que o Bando talvez não existisse sem o caminho aberto por blocos afros que renovaram o Carnaval baiano, como o Ilê Aiyê (1974) e o Olodum (1979).
Coube a Márcio Meirelles puxar o cordão. Ao lado de profissionais como Chica Carelli (co-diretora e preparadora musical), parceria que dura até hoje, convenceu a diretoria do Olodum da importância de lançar o seu braço teatral e estreou "Essa É Nossa Praia", em 25 de janeiro de 1991, num casarão da Faculdade de Medicina.
A peça versava sobre o cotidiano da área do Maciel-Pelourinho, no centro histórico, estigmatizada por ser um local de "marginais".
O olhar sobre o próprio quintal da metrópole (prostitutas, moradores de rua, especulação imobiliária etc.) resultou numa trilogia formada ainda por "Onovomundo" (1991) e "Ó Paí, Ó!" (1992).
Nesses primeiros anos, o Bando injetou auto-estima em jovens atores que tomavam consciência dos processos coletivos. Reuniam forças tal qual os escravos que fugiam das senzalas para os quilombos (daí a expressão "bando").
Em 1992, ocorreram dois novos ritos de passagem: a primeira turnê fora da Bahia (no Rio, com a trilogia sobre o Pelourinho) e o primeiro clássico ("Woyzeck", do alemão Georg Büchner).
O tempo maturou repertório, elenco e equipe de criação, cuja base é completada pelo coreógrafo Zebrinha e pelo diretor musical Jarbas Bittencourt.
A autocrítica do Bando e de Meirelles se reflete em montar dois textos do alemão Heiner Müller, duas vezes a mesma peça da também dupla alemã Bertolt Brecht e Kurt Weill ("Ópera dos Mirréis" e "Ópera de Três Reais", adaptações de "Ópera dos Três Vinténs") e duas vezes a criação coletiva "Zumbi", uma delas em Londres, com Meirelles dirigindo atores negros de lá.
O Bando teve atores projetados no cinema, caso de Lázaro Ramos ("Madame Satã") e de Valdinéia Soriano ("Jenipapo").
Enfim, bastidores, palcos e palavras com elo histórico com o Teatro Experimental do Negro, no Rio (1944-64), por Abdias Nascimento, Solano Trindade e outros.


O TEATRO DO BANDO: NEGRO, BAIANO E POPULAR (ed. P555 e teatro Vila Velha, 294 págs., R$ 10). Autor: Marcos Uzel. Lançamento: hoje, às 19h, no teatro Vila Velha (Passeio Público, s/ nš, Salvador, tel. 0/xx/71/336-1384).


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