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São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2003

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CRÍTICA

Elza e Alcina cantam em coro que o mundo está ao contrário

DA REPORTAGEM LOCAL

Projetos de diálogo, os discos "Vivo Feliz" e "Agora" são daqueles eventos que só vêm acrescentar a seus participantes.
Elza Soares tem sido dos poucos veteranos que se acomodam com naturalidade à correnteza veloz de novos gêneros musicais. Ainda assim, nunca havia feito um disco que avançasse de forma tão radical na linguagem da hora.
Promove a (re)invenção em especial nas duas faixas compostas por Anderson Lugão, o drum'n" bass "Two Tac", em que se diz "orgânica elétrica", e o hip hop funkeado "Rio de Janeiro", samba-exaltação que ama o Rio, mas lembra todas as suas mazelas.
Em "Concórdia", Elza e Nando Reis evocam de leve uma novidade extinta cedo demais -Cássia Eller. "Computadores Fazem Arte" faz algo parecido, evocando o extinto Chico Science e o afogueado Fred Zeroquatro.
No campo da tradição, "Vivo Feliz" é ainda mais contundente. "Volta por Cima", glória paulista de Paulo Vanzolini, se transtorna em reggae e dub. Os puristas do samba terão calafrios, sofrerão infartos. O mérito é de Arthur Joly, que chega aonde nunca chegou e leva Elza aonde nem ela chegara.
O Bojo desliza em rota ligeiramente diferente. É um grupo cerebral, de virtuosismo eletrônico calculado, que agora se converte como nunca ao acústico, sob a voz trovejante de Maria Alcina.
Nas canções inéditas, Alcina espana a poeira do longo silêncio e enfrenta temas mordazes com nomes de medicamentos -"Kataflan" e "Nervokalm", do próprio Bojo, e o samba-funk eletrônico "Tarja Preta", de Wado. A alegria ali é química.
A cantora vai mais longe em terrenos que domina com segurança desde os 70, na louca sonoridade de "Pan Pan Pan" (de Paulo da Portela) e "Eu Dei" (de Ary Barroso). A alegria ali é física. E é física a tristeza e a contenção de "Sangue Latino" -Alcina virada ao avesso, Bojo virado ao avesso.
Sócios, os novos e antigos, cantam em coro (como já faziam Cássia Eller e Nando Reis): o mundo está ao contrário e ninguém reparou. Está na hora de reparar.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


Vivo Feliz
    
Artista: Elza Soares
Lançamento: Reco-Head
Quanto: R$ 25, em média

Agora
   
Artista: Bojo e Maria Alcina
Lançamento: Outros Discos
Quanto: R$ 25, em média



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