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TEATRO
Como no filme de Werner Herzog, grupo enfrenta desafios locais e de produção para levar à cena o espetáculo "BR3"
Vertigem abre ensaios de seu "Fitzcarraldo" no rio Tietê
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O marinheiro de convés Fábio
Augusto Soares Vargas, 23, nunca
foi ao teatro. Há três anos trabalhando nas obras de rebaixamento da calha do rio Tietê, o teatro
vai até ele.
Nascido em Presidente Epitácio
(SP), onde costumava cabular aulas para tomar banho num dos
braços do rio Paraná, Vargas ensinou um dos atores do grupo Teatro da Vertigem a pilotar o bote
(ou voadeira) na peça "BR3", que,
a partir de amanhã, tem ensaios
abertos.
Esta fase tem ingressos gratuitos
por conta da Lei de Fomento ao
Teatro. A data da estréia ainda
não foi definida.
A bordo do barco Almirante do
Lago, 40 espectadores vão acompanhar as cenas que acontecem
na própria embarcação ou lá fora,
em pequenas plataformas, estruturas de pontes ou nos terrenos
inclinados das margens. São cerca
de 4,5 km entre o Cebolão de Pinheiros e o viaduto da rodovia
Bandeirantes.
Com dramaturgia de Bernardo
Carvalho, estréia do romancista e
colunista da Folha no teatro, o espetáculo acompanha a saga de
três gerações de uma família de
origem nordestina.
Vai do canteiro de obras de Brasília, no final dos anos 50, até o
salve-se-quem-puder do tráfico
nas periferias dos anos 90, como a
de Vila Brasilândia, na zona norte
paulistana. No enredo, a voragem
alcança ainda a selva, na fronteira
do Brasil com Bolívia.
Carvalho integrou extenso processo colaborativo, que teve como
eixo a chamada Expedição BR3,
realizada em 2004, em que o Vertigem conheceu in loco os territórios e as gentes de Brasilândia,
Brasília e Brasiléia (AC).
No mês passado, a reportagem
assistiu a dois ensaios das primeiras cenas de "BR3". É, de longe, a
produção mais complexa do grupo, que já venceu desafios na ocupação de espaços como igrejas
("O Paraíso Perdido", 92), hospitais ("O Livro de Jó", 95) e presídios ("Apocalipse 1,11", 2000).
Aqui, não é o Vertigem que determina o espaço, mas o espaço
que se impõe. O grupo "negocia"
com ele desde agosto. Exemplo: o
barco usado nos primeiros ensaios, o Explorer, "descia" o rio
sem problemas. Quando foi incorporado o barco oficial (26 m
de comprimento x 7 m de largura), descobriu-se que era impossível manobrar com agilidade em
alguns pontos em que precisava
atracar. Resultado: inverteu-se o
curso da navegação, já que é mais
fácil "subir" o rio.
Ponta de iceberg da empreitada
que remete o diretor Antônio
Araújo ao "Fitzcarraldo" (1982),
do cineasta alemão Werner Herzog. O filme mostra a obsessiva
aventura do personagem-título
em levar a ópera para o coração
da selva amazônica.
De volta ao trabalhador do Tietê, Vargas sente-se entusiasmado
em contribuir com o espetáculo.
"Com o teatro, as pessoas vão
prestar mais atenção ao rio. O povo da cidade tem nojo, mas é sujeira dele mesmo. Se cada um se
conscientizasse, ele estava mais
limpo", afirma Vargas.
Ensaios abertos de "BR3"
Onde: rio Tietê
Quando: a partir de amanhã, às 22h; de
qua. a sex., às 21h; sáb. e dom., às 20h
Quanto: entrada franca. Cada pessoa
pode retirar dois ingressos na secretaria
do Teatro da Vertigem (r. Roberto
Simonsen, 136-B, tel. 0/xx/11/ 3241-3132 e 0/xx/11/7608-5338), de seg. a
sex., das 14h às 18h, e sáb., das 10h às
14h. 40 lugares. Classificação: 12 anos.
Duração: 180 min. Haverá transporte do
público até o local, com saídas uma hora
antes da peça. O ponto de encontro fica
na r. Dr. Leo Ribeiro de Morais, 66, esq.
com marginal Tietê, estacionamento do
Núcleo de Ação Educativa (NAE). Se
chover, não haverá cancelamento
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