São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2006

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Cinema - Crítica

Com roteiro frouxo, "1972" é o "C.R.A.Z.Y." que deu errado

CRÍTICO DA FOLHA

A idéia de abordar uma época como pano de fundo para um filme de memória geracional se repete em "1972", estréia na direção do jornalista José Emilio Rondeau, que assina o roteiro ao lado da jornalista Ana Maria Bahiana, numa história de forte tonalidade autobiográfica.
O período é o dos anos de chumbo, e as situações mostradas indicam os efeitos da fase mais dura da repressão, mas não se trata de mais um filme político sobre o período.
A abordagem é de gênero, a comédia romântica, centrada nos encontros e desencontros de um casal jovem desde o encontro fortuito até o enlace final. A escolha da própria vivência como o motor dramático central, porém, por simpática que seja, esbarra nas capacidades limitadas da realização.
Ao tentar dar conta das subjetividades, por meio das ambições semi-utópicas do par central e dos personagens periféricos, o roteiro não chega a constituir uma unidade com força que mantenha o interesse do espectador nessa história.
Em vez de propriamente narrar, como se espera de um filme que opta pelo formato tradicional, as cenas apenas se sucedem como se fossem quadros, ou mais ainda, retratos de um álbum pessoal.
O diretor passa direto do roteiro à imagem sem precisamente se preocupar em construir visualmente o significado, o que produz a impressão de um suceder de situações em que os atores (sem força expressiva, o que já é por si letal em filmes que dependem de uma forte identificação) ensaiam os diálogos do roteiro.
O uso de canções é recorrente em "1972", justificado pelo fato de os personagens estarem envolvidos no universo da música pop (a jornalista Júlia e o aspirante a músico Snoopy). Mas aqui, ao contrário da eficiência de "C.R.A.Z.Y. (leia ao lado)", a música e a época são tratados dramaticamente como mero pano de fundo.
Para aumentar os problemas, a coincidência de lançamentos dos dois filmes na mesma data estimula o efeito comparativo, e, quando postos lado a lado, "1972" e "C.R.A.Z.Y." servem para o espectador julgar seus resultados independentemente de análises estéticas. O segundo vale o ingresso. O primeiro fica devendo. (CSC)

1972  
Direção: José Emilio Rondeau
Produção: Brasil, 2006
Com: Dandara Ohana Guerra e Rafael Rocha
Quando: em cartaz a partir de hoje nos cines Bristol 5, Frei Caneca Unibanco Arteplex 4 e circuito


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