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Cinema - Crítica
Com roteiro frouxo, "1972" é o "C.R.A.Z.Y." que deu errado
CRÍTICO DA FOLHA
A idéia de abordar uma
época como pano de
fundo para um filme de
memória geracional se repete
em "1972", estréia na direção
do jornalista José Emilio Rondeau, que assina o roteiro ao lado da jornalista Ana Maria Bahiana, numa história de forte
tonalidade autobiográfica.
O período é o dos anos de
chumbo, e as situações mostradas indicam os efeitos da fase
mais dura da repressão, mas
não se trata de mais um filme
político sobre o período.
A abordagem é de gênero, a
comédia romântica, centrada
nos encontros e desencontros
de um casal jovem desde o encontro fortuito até o enlace final. A escolha da própria vivência como o motor dramático
central, porém, por simpática
que seja, esbarra nas capacidades limitadas da realização.
Ao tentar dar conta das subjetividades, por meio das ambições semi-utópicas do par central e dos personagens periféricos, o roteiro não chega a constituir uma unidade com força
que mantenha o interesse do
espectador nessa história.
Em vez de propriamente narrar, como se espera de um filme
que opta pelo formato tradicional, as cenas apenas se sucedem como se fossem quadros,
ou mais ainda, retratos de um
álbum pessoal.
O diretor passa direto do roteiro à imagem sem precisamente se preocupar em construir visualmente o significado,
o que produz a impressão de
um suceder de situações em
que os atores (sem força expressiva, o que já é por si letal
em filmes que dependem de
uma forte identificação) ensaiam os diálogos do roteiro.
O uso de canções é recorrente em "1972", justificado pelo
fato de os personagens estarem
envolvidos no universo da música pop (a jornalista Júlia e o
aspirante a músico Snoopy).
Mas aqui, ao contrário da eficiência de "C.R.A.Z.Y. (leia ao
lado)", a música e a época são
tratados dramaticamente como mero pano de fundo.
Para aumentar os problemas,
a coincidência de lançamentos
dos dois filmes na mesma data
estimula o efeito comparativo,
e, quando postos lado a lado,
"1972" e "C.R.A.Z.Y." servem
para o espectador julgar seus
resultados independentemente de análises estéticas. O segundo vale o ingresso. O primeiro fica devendo.
(CSC)
1972
Direção: José Emilio Rondeau
Produção: Brasil, 2006
Com: Dandara Ohana Guerra e Rafael Rocha
Quando: em cartaz a partir de hoje
nos cines Bristol 5, Frei Caneca Unibanco Arteplex 4 e circuito
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